A Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), organização sem fins lucrativos, possui diversas ações que promovem o veganismo e o bem-estar animal. Para falar mais sobre a instituição, conversamos com o presidente Ricardo Laurino que começou no cargo em 2015, após ter um envolvimento ativo desde 2007.

Ele foi voluntário até junho de 2021, agora recebe uma ajuda de custo. Esse era um plano que a instituição tinha mesmo antes de sua presidência, dessa forma, já possuem um staff de 30 pessoas que recebem ajuda de custo ou salário a depender da posição que ocupam. 

“Aqui no Brasil, ativistas são vistos de forma muito negativa quando recebem, o que é uma pena porque deveria ser estimulado que as pessoas recebam pelo trabalho e por aquilo que elas realizam”, destacou Ricardo.

Segunda sem Carne realizada pela SVB
Imagem da campanha segunda sem carne: Divulgação SVB

O veganismo e as dicas de Ricardo Laurino

Como Ricardo se tornou vegano? Houve dois momentos que contribuíram para a adoção dessa filosofia de vida, o primeiro quando tinha 17 anos, no momento em que estava almoçando e assistindo TV e viu uma reportagem sobre a produção de carne no interior Paulista. Ali, fez uma conexão rápida ao ver os animais pastando e não conseguiu continuar cortando o bife.

O segundo momento foi decisivo para ele se tornar vegano, pois leu a obra Libertação Animal em 2003, escrita pelo filósofo australiano Peter Singer.

“Quando eu fechei o livro, percebi que eu já não gostava muito de utilizar roupa de couro, não me agradava a ideia de aquário e zoológico, então, boa parte do que entendemos como um movimento de amplo respeito aos animais, eu já tinha isso dentro de mim. Mas, ainda consumia laticínios, ovos e assim por diante, por ter pensado que era necessário”, comentou.

Quanto aos benefícios, ele citou o bem-estar psicológico, já que teve sempre  uma relação muito grande com os animais, na parte física notou melhora no intestino com a inclusão de mais vegetais.

“O bem-estar psicológico, essa sensação de você controlar as suas escolhas e a direção da sua vida de acordo com os seus valores é muito gratificante”, mencionou.

Se você está nessa fase de transição para o veganismo e tem dificuldades, ele deu algumas dicas! A primeira é criar metas, por exemplo, “essa semana eu não vou tomar leite” e lutar para que a mesma seja atingida.

“Na próxima semana você fala ‘além do leite, essa semana eu vou tirar também o queijo, então, vou tirar o leite e o queijo do meu prato’. Essa é uma coisa que eu acho bem legal, criar metas e transformar o processo em pequenas conquistas”, explicou.

A ideia é transformar o processo em pequenas conquistas e não grandes perdas, não largar tudo quando há um deslize já que você pode retomar (a frustração de não ter conseguido é momentânea, mas, depois é só continuar), reforçar seus propósitos entendendo o que acontece com os animais e ficar atento nas questões nutricionais.

“Nutricionalmente falando, sendo vegano ou não, vemos as pessoas cometerem muitos erros. Um vegano às vezes comete um pouco mais pela nossa cultura não ser uma cultura desenvolvida nesse sentido, então, não é porque é mais fácil ou mais difícil, é realmente por falta de conhecimento que as pessoas acabam cometendo erros”, comentou Ricardo.

Ricardo Laurino
Imagem de Ricardo Laurino: Divulgação SVB

O envolvimento com o bem-estar animal fez com que projetos criativos surgissem 

Antes de se envolver na SVB, ele fazia palestras, doava DVDS da A Carne é fraca (dirigido por Denise Gonçalves) e reunia grupos de pessoas interessadas pelo tema. Quando começou na instituição, era consultor empresarial e percebeu ser necessário criar soluções financeiras para continuar se envolvendo cada vez mais no veganismo.

Portanto, começou a escrever livros que era uma forma de auxiliar no movimento, ter uma pequena receita e aumentar seu alcance no veganismo e fora dele. As obras de ficção são: Último teste e A última morte.

“Não são documentais e acredito que esse é o grande trunfo dos livros, porque as pessoas se conectam aos personagens, a trama, as investigações e o pano de fundo é a questão animal”, esclareceu. 

Após isso, também iniciou seus canais no YouTube: Zona V (transformado em podcast transmitido pela plataforma, onde uma vez por semana recebe convidados) e o Vegflix (composto por oito veganos onde cada um posta vídeos com sua abordagem).

O mercado de produtos veganos

O presidente da SVB enxerga o veganismo no Brasil como muito promissor!

“É inevitável que esse mercado cresça cada vez mais. Por quê? Porque ele atende a questões que fazem muito sentido para todos nós.  Todos nós nos interessamos em estar melhor no que diz respeito à nossa saúde e também com relação ao meio ambiente, de forma geral, a grande maioria das pessoas pensa que o meio ambiente é um tema que deve ser levado em conta”, explicou.

Dessa forma, mesmo pessoas que não se identificam como veganas, podem acabar optando por produtos vegetais que são melhores para a saúde (comparando com os de origem animal) e para o meio ambiente.

Perguntamos também quais  fatores influenciam na adoção de produtos veganos pelos brasileiros. Aqui temos os seguintes tópicos: preços (às vezes podem ser considerados mais elevados para os produtos industrializados), acessibilidade (estar nas gôndolas dos supermercados) e o sabor.

“O principal é as pessoas se sentirem convidadas a fazerem parte desse processo. Muita gente que não adota o veganismo, não se sente atraído ou convidado a participar. Isso é algo que vem diminuindo, mas ainda temos um trabalho muito grande”, comentou Ricardo.

Ainda citou o fato de que quando uma grande marca lança um produto vegetal, acaba rompendo essa bolha porque é uma marca consumida pelos mesmos, abrindo o leque para experimentarem outros alimentos desse tipo.

“A partir do momento que um produto rompe essa bolha, os outros acabam se tornando viáveis para aquela pessoa. Então, preço, acessibilidade, identificação da proposta do produto, ser convidativo e romper bolhas é o que eu acho que a gente precisa trabalhar para que o mercado cresça e tenhamos cada vez mais consumidores”, finalizou.

Ser vegano é uma delícia, campanha da SVB
Imagem da campanha “Ser vegano é uma delícia” feita no metrô: Divulgação SVB

SVB: ações que promovem o veganismo e o bem-estar animal

A SVB possui diversas ações que promovem o veganismo e o bem-estar animal. Aqui podemos citar o desafio Abril Vegano, voltado para incentivar as pessoas a terem uma alimentação baseada em vegetais. Porém, existe muito mais!

Cursos e publicações

A instituição tem um departamento de eventos e cursos, voltados principalmente para os profissionais de saúde.

Além disso, os usuários também podem baixar as publicações de forma gratuita, incluindo aqui o Guia de Nutrição Vegana para Adultos, produzido em parceria com o Departamento de Medicina e Nutrição da União Vegetariana Internacional (IVU), com mais de 700 referências científicas!

Guia de Nutrição Vegana
Imagem: Divulgação SVB

Eventos

O departamento de eventos também realiza as seguintes iniciativas:

●    VegFest — evento com expositores, palestras e diversas atrações que ocorrerá entre os dias 08 e 11 de dezembro.

●     Mostra Animal — com filmes e curtas abordando a temática dos animais que aconteceu entre 02 e 03 de julho.

●     Plant-Based Conference — conferência que reúne nomes do setor de saúde e alimentação, abordando conteúdos sobre o mundo plant-based.

Também participam de outras feiras e eventos como a NaturalTech (feira de produtos naturais), Fispal (feira internacional de food service) e ANUFOOD (feira de negócios do setor alimentício e de bebidas). Nesses locais, levam o conceito de veganismo e conversam com empreendedores e consumidores.

VegFest de 2019
Imagem: Divulgação SVB / Foto de Marcella Lasneaux

Campanhas

Outro departamento é o de campanhas, onde se inclui a Segunda sem Carne que convida as pessoas a substituírem a proteína de origem animal pela vegetal pelo menos uma vez na semana.

“Calculamos que nos últimos 13 anos, já foram oficialmente mais de 580 milhões de refeições à base de vegetais servidas nesses programas em escolas públicas, creches e outras instituições públicas. Por isso, ela é considerada a maior Segunda sem Carne do mundo —  a campanha está em dezenas de países — trouxemos pensando em uma proposta de alimentação baseada em vegetais, então, excluindo também derivados de leite, ovos e assim por diante”, contou Ricardo.

Outras ações foram as campanhas: Se você ama um, porque come o outro e a Ser vegano é uma delícia. Inclusive, Ricardo citou que a primeira foi uma das grandes conquistas da instituição em 2021, já que estavam no auge da pandemia.

A iniciativa foi adicionada nos metrôs de São Paulo, edifícios comerciais e até no VLT do Rio. A imagem contou com Emiliano D’Avila (ator conhecido pelo bom-humor com o público) junto com um porco e cachorrinho, feita como uma montagem para não estressar os animais.

“Foi bem interessante, atingimos milhões de pessoas, saiu em inúmeros jornais de forma espontânea a questão dessa campanha estar exposta em uma mídia de grande alcance. Acho que foi uma grande conquista que tivemos e que conseguimos realizar, porque é um custo alto”, concluiu.

Se você ama um, por que come o outro?
Imagem da campanha: Divulgação SVB

Opção Vegana

Quer conhecer mais ações que promovem o veganismo realizada pela SVB?

Existe o Opção Vegana, feito em parceria com a Humane Society International (HSI), que auxilia os estabelecimentos de forma gratuita a terem opções veganas em seus cardápios, desde grandes redes até pequenos estabelecimentos. Os consumidores podem verificar os locais que possuem essa opção no mapa da instituição.

Opção vegana
Imagem: Divulgação SVB

Selo vegano

O Selo Vegano auxilia os empreendedores a certificarem seus produtos como veganos, já tendo certificado mais de 3.500 itens. 

“O Selo Vegano é um trabalho maravilhoso que a SVB desenvolve e que ajuda demais não só as empresas a desenvolver ou confirmar se aquele produto é vegano, mas auxiliamos também no desenvolvimento do SAC da empresa, posicionamento e ativação do produto. Viramos muito uma instituição que auxilia como um conselheiro, um amigo quando a empresa está com dúvidas e ideias”, adicionou Ricardo.

Criado em 2013, o selo foi algo visionário, já que o presidente apontou que no começo as empresas tinham um certo preconceito e preocupação em nichar demais o produto: “Na época, o que aconteceu era que já se previa essa mudança do mercado. Uma hora esse setor iria engrenar, porque ele já estava começando a dar seus passos e seria muito legal o consumidor e a própria empresa terem tranquilidade quanto ao produto que estão apresentando”, concluiu.

Selo Vegano
Imagem: Divulgação SVB

Os planos para o futuro da SVB

Quais são os planos da Sociedade Vegetariana Brasileira para o futuro? O presidente citou:

  • Aumentar o alcance da campanha Segunda sem Carne.
  • Conseguir novas redes para o Opção Vegana, bem como auxiliar a melhorar o cardápio daquelas que já lançaram.
  • Fazer sucesso no VegFest, reunindo os veganos e as pessoas simpatizantes ao movimento.
  • Voltar em breve com os treinamentos e cursos junto as instituições de ensino de forma presencial, levando aos profissionais de saúde ou aos futuros profissionais dessa área, informações corretas sobre uma alimentação à base de vegetais. 

Ademais, um plano que conquistaram recentemente foi o fato de Ricardo Laurino ter se tornado colunista da Eletromidia, painéis presente no metrô, aeroporto de Congonhas, vários shopping center, edifícios comerciais, entre outros, sendo calculado que atinjam mais de 10 milhões de pessoas por dia ao falar de veganismo.

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*Imagem de capa de Ricardo Laurino: Divulgação Sociedade Vegetariana Brasileira

Por Amanda Stucchi em 4 de julho
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