Em parceria com o Good Food Institute Europe, a consultoria Systemiq Ltd. realizou uma análise das tendências atuais e dados para projetar o futuro da carne cultivada, destacando os benefícios econômicos, ambientais e de saúde que essa inovação pode trazer para a Europa.

Segundo o relatório, divulgado hoje, o mercado global de carne cultivada pode atingir entre €170 e €510 bilhões até 2050. No cenário europeu, a carne cultivada tem o potencial de gerar entre €15 e €80 bilhões nesse mesmo período, criando diretamente de 25 mil a 90 mil novos empregos.

No entanto, esse crescimento só será possível se os produtos alcançarem paridade de preço e desempenho com a carne tradicional entre 2035 e 2040, além de superar os atuais obstáculos regulatórios e políticos.

Os autores do estudo afirmam: “A carne cultivada ainda está em fase inicial, mas tem o potencial de atingir a paridade em sabor e textura com os produtos tradicionais de carne e frutos do mar, desde que superemos alguns desafios tecnológicos, regulatórios e de investimento.”

Governos da UE precisam aumentar investimentos

O potencial da União Europeia, baseado em seus sólidos ecossistemas científicos e biotecnológicos, inclui tanto a produção doméstica quanto a exportação de carne cultivada, gordura para produtos híbridos e insumos especializados, como fatores de crescimento e fabricação de equipamentos.

O relatório sugere que a Comissão Europeia e os governos nacionais devem criar um ambiente regulatório e político favorável para desbloquear o potencial das proteínas inovadoras. Além disso, destaca a necessidade de aumentar os investimentos nos próximos anos para fortalecer a cadeia de suprimentos de carne cultivada na região.

Do objetivo de investimento anual da UE de €5 bilhões, pelo menos €500 milhões deveriam vir de fontes públicas. Recomenda-se que essa verba seja distribuída com uma divisão de 40/60, destinando 40% para pesquisa e desenvolvimento (P&D) e 60% para a construção de infraestrutura. “Ambos são essenciais para atrair investimentos privados e desbloquear fluxos de capital,” dizem os autores.

Papel dos países e outros benefícios

Baseado em entrevistas com mais de 35 especialistas, artigos científicos e relatórios da indústria, o estudo também analisa o papel que cada país poderia desempenhar na cadeia de valor da carne cultivada. O relatório identifica oportunidades para Alemanha, Espanha, França e Polônia desenvolverem mercados internos e insumos chave para a biomanufatura.

A análise aponta ainda que o setor pode reduzir até 3,5 gigatoneladas de emissões de gases de efeito estufa, economizar até 1,4 bilhão de hectares de terra e preservar 225 milhões de metros cúbicos de água. Entre os benefícios da carne cultivada, destacam-se o melhor perfil nutricional, gorduras mais saudáveis e a redução dos riscos de resistência antimicrobiana (AMR) e zoonoses. Os autores observam que 65% dos antibióticos na Europa são usados em animais, contribuindo para a resistência bacteriana. A carne cultivada também pode diminuir a bioacumulação de toxinas, especialmente em frutos do mar.

Além disso, a carne cultivada pode aumentar a segurança alimentar ao reduzir os custos da produção de carne, que são impactados por mudanças climáticas e pressões sobre recursos naturais, diminuindo assim a dependência de importações e produção de rações animais.

O relatório conclui: “No cenário atual, o consumo de carne deve crescer 30% até 2050 em relação aos níveis de hoje, mas nossos sistemas alimentares estão no limite — já ultrapassamos seis dos nove limites planetários, e não podemos continuar a alimentar uma população crescente sem respeitar esses limites.”

Confira a matéria publicada na Vegconomist.

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