A startup israelense Kokomodo captou US$ 750 mil para produzir cacau e chocolate por meio da agricultura celular. Com o futuro do chocolate cada vez mais incerto devido às mudanças climáticas, a Kokomodo é a mais nova empresa a inovar para proteger o cacau e combater os impactos ambientais causados pela produção tradicional de cacau.
Com um investimento da The Kitchen FoodTech Hub e da Autoridade de Inovação de Israel, a empresa de Rehovot lançou-se no mercado para produzir cacau cultivado em células, visando as indústrias de alimentos e bebidas, suplementos e cosméticos. O produto da Kokomodo é derivado de células de grãos de cacau premium cultivados na América Central e do Sul. Após concluir a produção em escala laboratorial, a empresa utilizará o capital para expandir a produção em escala piloto e aproximar-se da paridade de preço com o chocolate convencional.
Segundo Tal Govrin, cofundadora e CEO da Kokomodo, “Estamos avançando para produzir biomassa em um biorreator escalável para aumentar ainda mais o volume de produção e otimizá-lo. Em 18 a 24 meses, planejamos produzir centenas de litros em biorreatores, trabalhando para alcançar a escala comercial.”
Govrin destaca que o financiamento também será usado para engajar clientes, ampliar a gama de produtos e realizar submissões regulatórias e de propriedade intelectual para expandir a entrada no mercado.
Por que a Kokomodo está produzindo chocolate cultivado em células
A Kokomodo é fruto de uma joint venture entre a The Kitchen FoodTech Hub e a Plantae Bioscience, de Tel Aviv. “A Kokomodo promove diversas causas, como a preservação do cacau, comércio justo e cadeias de suprimento mais curtas”, disse Amir Zaidman, diretor de negócios da The Kitchen FoodTech Hub.
A indústria do cacau está sendo devastada pelas mudanças climáticas, com cientistas alertando que um terço das árvores de cacau pode desaparecer até 2050. Eventos climáticos extremos têm arruinado colheitas e levado a uma escassez de cacau, elevando os preços a níveis recordes. Em abril, uma tonelada de cacau estava cotada a mais de US$ 12.000, em comparação com menos de US$ 2.500 em janeiro de 2023.
A produção de cacau também tem um impacto altamente prejudicial ao meio ambiente. Apenas a produção de carne bovina polui mais a atmosfera do que o chocolate amargo, e os grãos de cacau têm um dos maiores custos de oportunidade de carbono.
“Nossa tecnologia de agricultura celular garante um fluxo constante de cacau premium e saudável, alinhando o prazer do consumidor com a responsabilidade global”, diz Govrin.
Tendências apontam para potencial de paridade de preços
A startup escolheu a América Latina para obter variedades premium de grãos de cacau. “Procuramos obter diferentes variedades e genótipos para explorar e aproveitar o potencial da variação natural”, explica Govrin. Essas células são cultivadas usando tecnologia avançada de agricultura celular e processadas em biorreatores.
Um dos maiores desafios para qualquer empresa de agricultura celular é o custo. Embora os preços do cacau estejam subindo, alcançar a paridade de preço ainda é um desafio para os produtores de cacau cultivado em células.
Govrin acredita que o cacau cultivado em células pode ser competitivo em termos de preço devido a duas tendências: a escalabilidade da produção celular e as pressões econômicas e ambientais sobre a agricultura tradicional de cacau.
Uma solução não agrícola ao cacau
Govrin sugere que a Kokomodo está direcionada a marcas premium que priorizam produtos sustentáveis e éticos de cacau. Seu primeiro produto será um “cacau em pó de alto valor”, seguido por manteiga de cacau. A empresa pretende usar seus produtos de cacau cultivados em células em várias categorias de bens de consumo, como chocolates, bebidas, pastas e barras de proteína.
Antes de qualquer coisa, a empresa precisará superar barreiras regulatórias nos países onde deseja comercializar. Govrin indica que um lançamento nos EUA pode ser mais adequado, dado que o processo de autoafirmação GRAS (Generally Recognized as Safe) é mais simples e rápido do que as regulamentações de novos alimentos na UE.
A Kokomodo é uma das poucas empresas que trabalham com chocolate cultivado em células, ao lado da startup israelense Celleste Bio, da produtora americana California Cultured e da gigante finlandesa Fazer. Outras empresas estão criando alternativas ao chocolate sem cacau, usando plantas e fermentação para criar produtos semelhantes ao chocolate.
“Kokomodo utiliza ciência e tecnologia para desenvolver cacau real de forma a maximizar o impacto na saúde humana e torná-lo disponível para uso em produtos de consumo. A tecnologia de agricultura celular é um divisor de águas para trazer o cacau ao mercado durante todo o ano”, acrescenta Govrin.
“Com as mudanças climáticas ameaçando o cacau, uma solução não agrícola pode garantir sua sobrevivência para as futuras gerações, pois não queremos desistir desta poderosa planta.”
Confira a matéria publicada na Green Queen.
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