A carne cultivada em laboratório, também conhecida simplesmente como carne cultivada ou carne baseada em células, é a carne produzida a partir de células animais em laboratório, e não é obtida a partir da criação e abate de animais inteiros. A ideia de produzir carne dessa maneira remonta a várias décadas, mas a tecnologia para produção só recentemente se tornou viável.

O conceito de carne cultivada foi proposto pela primeira vez por Winston Churchill em 1931, que previu que se tornaria uma fonte alimentar popular no futuro. No entanto, foi somente no início dos anos 2000 que a tecnologia para produzir carne cultivada começou a se tornar realidade.

Em 2002, a NASA financiou pesquisas sobre o uso de carne cultivada como fonte de alimento para astronautas em missões espaciais de longo prazo. A pesquisa foi bem-sucedida e a tecnologia continuou a se desenvolver nos anos seguintes.

Em 2013, o primeiro hambúrguer de laboratório do mundo foi criado por uma equipe de cientistas holandeses liderados pelo Dr. Mark Post. O hambúrguer foi feito com células musculares de vaca cultivadas em laboratório e foi preparado e provado por críticos gastronômicos em um evento público. Embora o hambúrguer fosse caro para produzir, custando cerca de $325.000, ele representou um marco significativo no desenvolvimento da carne cultivada.

Desde então, várias startups e equipes de pesquisa têm trabalhado para melhorar a tecnologia e reduzir o custo de produção de carne cultivada. 

Em 2018, a Memphis Meats anunciou que havia produzido a primeira carne de frango e pato cultivada em laboratório do mundo e, em 2019, a Mosa Meat anunciou que havia desenvolvido um método para produzir carne cultivada a um custo competitivo com a produção tradicional de carne.

Tempos modernos

O ano de 2022 viu alguns desenvolvimentos significativos na indústria de carne cultivada em laboratório. Várias empresas avançaram na ampliação de seus processos produtivos e na redução do custo da carne cultivada. Muitas dessas empresas também conseguiram novos investimentos para apoiar seus esforços de pesquisa e desenvolvimento.

A Future Meat Technologies, recentemente renomeada para Believer Meats, levantou mais de US$ 347 milhões em 2022 e está investindo US$ 123 milhões na fábrica com capacidade de produção de 10.000 toneladas métricas. A empresa planeja iniciar a fabricação em 2024.

Ainda em 2022, a Aleph Farms anunciou que havia desenvolvido um novo método para produzir carne cultivada com textura e sabor mais precisos. A empresa afirmou que seu novo método, que envolve o cultivo de células musculares em um andaime feito de materiais à base de plantas, pode levar a produtos de carne cultivados mais realistas e saborosos.

Além desses desenvolvimentos, vários órgãos reguladores ao redor do mundo têm trabalhado para estabelecer diretrizes para a produção e comercialização de carne cultivada. Nos Estados Unidos, o USDA e o FDA emitiram diretrizes conjuntas para rotulagem e segurança de produtos de carne cultivada, enquanto a União Européia estabeleceu uma estrutura regulatória para novos alimentos que incluem carne cultivada.

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Em 2023, a carne cultivada ainda não está amplamente disponível no mercado, mas muitos especialistas acreditam que ela tem o potencial de revolucionar a indústria alimentícia, fornecendo uma alternativa mais sustentável e ética à produção tradicional de carne.

Algumas pedras no caminho

No geral, a indústria de carne cultivada ainda está em seus estágios iniciais, mas continua progredindo em direção a um futuro mais sustentável e ético da produção de alimentos. Resta saber com que rapidez a carne cultivada se tornará amplamente disponível para os consumidores, e isso depende, é claro, de um criterioso processo de regulamentação.

Regulamentação ao redor do mundo

A regulamentação da carne cultivada varia muito, pois diferentes países e regiões adotaram abordagens diversas para regulamentar esse novo produto alimentício. 

Aqui estão alguns exemplos:

Estados Unidos

Em março de 2019, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e a Food and Drug Administration (FDA) anunciaram em conjunto sua estrutura regulatória para supervisionar a produção e rotulagem de carne cultivada. Sob essa estrutura, o FDA supervisionará a coleta de células, os bancos de células e o crescimento celular, enquanto o USDA supervisionará a produção e a rotulagem de produtos alimentícios derivados de carne cultivada. O USDA também realizará inspeções nas instalações de produção e exigirá que as empresas enviem amostras para testes.

Em junho de 2022, o USDA e o FDA anunciaram que estavam expandindo sua estrutura regulatória conjunta para carne cultivada para incluir produtos adicionais, como os derivados de células de aves. As agências também divulgaram novas orientações sobre a rotulagem de produtos de carne cultivada, que exigem que as empresas usem termos específicos para descrever seus produtos, como “cultivado em células” ou “cultivado”.

União Européia

A União Européia estabeleceu uma estrutura regulatória para novos alimentos que inclui carne cultivada. Sob este quadro, qualquer alimento que não tenha sido consumido de forma significativa na UE antes de maio de 1997 é considerado um novo alimento e deve passar por uma avaliação de segurança antes de poder ser colocado no mercado. Além disso, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) é responsável por avaliar a segurança de novos alimentos, incluindo carne cultivada.

Em julho de 2022, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução pedindo à Comissão Europeia que estabeleça uma estrutura legal clara para a produção e rotulagem de carne cultivada. A resolução enfatizou a necessidade de rotulagem clara para garantir que os consumidores possam fazer escolhas informadas sobre os alimentos que comem.

Cingapura

Em dezembro de 2019, a Singapore Food Agency se tornou o primeiro órgão regulador do mundo a aprovar a venda de carne cultivada. De acordo com a estrutura regulatória de Cingapura, os produtos de carne cultivada devem passar por avaliações de segurança e atender a requisitos específicos de rotulagem antes de poderem ser vendidos.

Em agosto de 2022, a Singapore Food Agency anunciou que estava revisando suas diretrizes para a produção e venda de carne cultivada. As diretrizes revisadas visam agilizar o processo regulatório para produtos cárneos cultivados e tornar mais fácil para as empresas levarem seus produtos ao mercado.

Israel

Em dezembro de 2020, o Ministério da Saúde de Israel emitiu diretrizes para a produção e venda de carne cultivada. De acordo com essas diretrizes, os produtos cárneos cultivados devem passar por avaliações de segurança e atender a requisitos específicos de rotulagem. Além disso, as empresas devem obter uma licença do Ministério da Saúde antes de poderem produzir e vender carne cultivada.

Em setembro de 2022, o Ministério da Saúde de Israel anunciou um programa piloto para testar a segurança e a eficácia de produtos cultivados. O programa envolve testes de diferentes tipos de produtos cárneos cultivados, bem como o monitoramento das percepções do consumidor e aceitação desses produtos.

Vale ressaltar que, entre os produtores de carne cultivada de Israel estão dois grandes nomes da indústria, Aleph Farms, desenvolvedora do primeiro hambúrguer baseado em células do mundo em 2018, e a primeira empresa de carne cultivada listada publicamente do mundo, Meat-Tech 3D.

Austrália

Na Austrália, a regulamentação da carne cultivada está sob a alçada da Food Standards Australia New Zealand (FSANZ). A FSANZ ainda não estabeleceu regulamentos específicos para carne cultivada, mas indicou que avaliará os produtos cárneos cultivados caso a caso. 

Crescimento da indústria

No geral, à medida que a indústria de carne cultivada continua a crescer, mais países e regiões devem definir regulamentos para sua produção e venda. Esses regulamentos precisarão equilibrar a necessidade de garantir a segurança e a qualidade dos produtos cárneos cultivados com o desejo de promover inovação e crescimento nessa indústria emergente.

Nos próximos anos, o cenário regulatório continuará a evoluir, à medida que mais países e regiões lutam para supervisionar essa indústria emergente. O foco é garantir a segurança e a qualidade dos produtos cárneos cultivados, além de promover a inovação e o crescimento nesse campo. Enquanto a indústria continua a se desenvolver, é provável que mais países estabeleçam regulamentos para a produção e venda de carne cultivada.

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O que vem pela frente

A carne cultivada tem demonstrado um rápido crescimento, com desenvolvimentos surpreendentes. Aqui estão algumas das tendências que podem moldar o futuro desse mercado:

Demanda crescente do consumidor: os consumidores estão se tornando mais conscientes das questões ambientais, éticas e de saúde associadas à pecuária tradicional. Como resultado, há uma demanda crescente por fontes alternativas à carne, que provavelmente incluirão a carne cultivada.

Avanços na tecnologia: a tecnologia por trás da carne cultivada está avançando rapidamente, tornando-a mais econômica e escalável. Inovações em biorreatores, meios de cultura de células e linhas celulares estão ajudando a reduzir os custos de produção e melhorar a qualidade do produto, o que é fundamental para sua comercialização.

Estruturas regulatórias: governos de todo o mundo estão começando a desenvolver estruturas regulatórias para a carne cultivada. Isso fornecerá um caminho mais claro para o mercado para as empresas do setor e ajudará a garantir a segurança e a qualidade dos produtos.

Colaboração e parcerias: há uma tendência crescente de colaboração e parcerias entre empresas de carne cultivada e produtores tradicionais. Isso poderia ajudar a acelerar o desenvolvimento e a adoção desse produto, facilitando a distribuição e o comércio.

Expansão para novos mercados: as empresas de carne cultivada estão olhando além dos mercados tradicionais de carne e explorando oportunidades em áreas como ração para animais de estimação, fabricação de ingredientes e produtos biofarmacêuticos.

Futuro promissor

O futuro da carne cultivada parece promissor, com a criação e o aumento da demanda do consumidor, avanços na tecnologia e uma crescente estrutura regulatória. Além disso, especialistas acreditam que ela tem o potencial de revolucionar a indústria alimentícia nos próximos anos. Logo, à medida que a indústria continua a se desenvolver, podemos esperar mais inovações e novas aplicações deste produto.

Provavelmente, daqui alguns anos vamos olhar para trás e nos dar conta de que vivenciamos uma das mais importantes revoluções no mercado de alimentos.

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Por Nadia Gonçalves em 14 de abril
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