O The Good Food Institute é uma organização sem fins lucrativos que trabalha internacionalmente para acelerar a inovação das proteínas alternativas. Iniciou suas atividades nos Estados Unidos no ano de 2016, sendo que um ano depois chegou no território brasileiro. 

Apesar de ainda ser jovem, a instituição é muito impactante, atuando em diversas frentes. Nós conversamos com Gustavo Guadagnini, managing director do The Good Food Institute, para saber mais a respeito. 

“Acreditamos que, por meio do desenvolvimento de alimentos feitos de plantas, cultivados a partir de células ou obtidos por fermentação, podemos mitigar o impacto ambiental do nosso sistema alimentar, diminuir o risco de doenças zoonóticas, salvar os animais e, por fim, alimentar mais pessoas com menos recursos”, afirmou sobre o The Good Food Institute. 

Trajetória profissional e veganismo

Gustavo Guadagnini se define como administrador de empresas, apaixonado por inovação, novos negócios e estratégia. Ele trabalhou anos no mundo corporativo, até passar por uma transformação pessoal, onde pode rever seus objetivos de vida e valores.

Em sua palestra A Revolução no seu prato, feita no TEDx, contou que nasceu em uma família de comerciantes por parte de pai e fazendeiros por parte de mãe, tendo sido criado com uma alimentação tradicional brasileira. Em busca de uma vida mais saudável, decidiu cortar todos os ingredientes de origem animal para ter novos hábitos alimentares. Dessa forma, percebeu o impacto positivo da dieta tanto para si mesmo quanto para o mundo. 

Com essa transformação, decidiu se envolver na instituição em que trabalha atualmente, pois entendeu que ainda faltava uma oferta de produtos consistentes no mercado vegano. “Tive o privilégio de encontrar o GFI, onde posso exercer meu lado profissional, como administrador, e ainda trabalhar para minha causa”, ressaltou para o Vegan Business. 

The Good Food Institute: acelerando a inovação das proteínas alternativas 

A organização é reconhecida como uma das ONGs mais eficientes do mundo. 

O managing director explicou que o GFI está entre as recomendações do The New York Times e também possui o Selo Platinium de transparência, certificação máxima concedida pelo GuideStar, maior banco de dados e informações sobre organizações sem fins lucrativos do mundo.

Atualmente, tem uma matriz nos Estados Unidos, escritórios no Brasil, Israel e Índia, além de escritórios regionais na Ásia-Pacífico e Europa, cujo número de países atendidos aumenta a cada dia. 

Ele contou: “Aqui pelo Brasil, estamos começando nossos estudos a respeito dos demais países da América Latina e Caribe, com a expectativa de criar um plano estratégico para a região. O GFI foi essencial no desenvolvimento do setor de proteínas alternativas no Brasil e acreditamos que ainda é possível fazer muito pela América Latina, porém isso ainda depende de conseguirmos doadores que possam colaborar com esse trabalho”, no momento, a instituição está em busca de fundos de filantropia e/ou grandes doadores para realizar esse movimento. 

Vamos ao bate-papo? 

Vegan Business: Quais são os projetos atuais de financiamento de pesquisa do The Good Food Institute Brasil?

Gustavo Guadagnini: O GFI tem, globalmente, algumas modalidades de financiamento de pesquisa. Nosso maior edital é gerido pelo GFI dos EUA, no qual podem concorrer pessoas de qualquer lugar do mundo. Esse edital já escolheu uma série de projetos brasileiros.  

Temos o orgulho de financiar pesquisas em diversas instituições, com temas sempre ligados ao mundo de proteínas alternativas. Por exemplo, temos uma pesquisadora da UNICAMP que estuda a extração de proteínas da folha de mandioca. Há também projetos na EMBRAPA, estudando temas como proteína de feijão e fibra de caju.

Além disso, temos um edital local, voltado apenas a pesquisadores brasileiros, no qual buscamos financiar projetos de pesquisa para o desenvolvimento de ingredientes vegetais a partir da biodiversidade da Amazônia e do Cerrado. 

A primeira leva de projetos financiados começa a ser executada agora em 2022, com estudos sobre baru, castanha do brasil, babaçu, macaúba, cupuaçu, guaraná e pequi. Todos os nossos projetos têm como objetivo criar novos ingredientes que possam ser utilizados pela indústria de proteínas alternativas,  compondo substitutos de carne.

VB: Como o GFI trabalha com os investidores para apoiar as startups de proteinas alternativas? 

GG: O GFI está envolvido na criação das primeiras empresas deste setor no Brasil e no mundo. Nosso papel começa com o apoio a startups e empreendedores, oferecendo materiais, conselhos, conexões e conhecimento para que esses projetos tenham maior chance de ser bem sucedidos. 

Nós também apoiamos a formação de fundos de investimento focados no setor, auxiliando os fundadores a entenderem o mercado de proteínas alternativas e a encontrarem as melhores oportunidades de investimento.

Agora, seguimos num trabalho contínuo de engajamento de novos investidores na área e introdução desses investidores com as startups que são nossas parceiras. O objetivo é acelerar o desenvolvimento do setor, fazendo com que cada vez mais empreendimentos estejam prontos para receber investimentos, ao mesmo tempo, em que mais investidores se interessam na indústria — isso para gerar uma combinação e aumentar o volume de capital investido na área.

VB: Como uma empresa pode receber suporte estratégico do The Good Food Institute? 

GG: O GFI trabalha com indústrias do setor de proteínas alternativas, substitutos diretos da carne, leite e ovos. Nós temos materiais de suporte para startups e investidores, podemos oferecer pesquisas de consumo, insights sobre o mercado, aconselhamento estratégico, conexões, treinamentos e mais. Nosso trabalho é 100% baseado em filantropia, ou seja, não há custos para os parceiros. Tudo o que fazemos é pela generosa colaboração de nossos doadores. Para indústrias que atuam nesse setor, basta entrar em contato com [email protected]

VB: O The Good Food Institute tem um lado educacional, tanto em seus relatórios, como nos vídeos produzidos. Conte um pouco mais sobre isso e fale da importância da educação para promover as proteínas alternativas. 

GG: A educação com certeza é um pilar chave para o sucesso desse mercado. Não adianta nosso setor oferecer soluções imprescindíveis para manutenção da vida na terra, se as pessoas não entenderem o que está acontecendo e não apoiarem. 

Foi pensando nisso que criamos a campanha “Consegue Imaginar?“, de vídeos lúdicos educando sobre o setor, com narração de nosso apoiador Hugo Bonemer. 

Primeiro vídeo da campanha: Créditos ao The Good Food Institute | Você pode acessar o Episódio 2 e o Episódio 3

Ao mesmo tempo, nosso maior foco educacional ainda está em três áreas programáticas: 

  • Engajamento Corporativo (empresas, investidores, etc.). 
  • Politicas Públicas (toda a atuação junto ao governo, agências reguladoras, etc). 
  • Ciência e Tecnologia (que envolve universidades, pesquisadores, institutos de pesquisa, entre outros). 

A maior parte de nosso trabalho ainda fica longe dos olhos do grande público: estamos atuando na conscientização do setor privado, dos reguladores, membros do governo, cientistas, educadores e outros profissionais que podem colaborar com o setor. 

O cenário de proteínas alternativas no Brasil

Você pode estar se perguntando a respeito do cenário de proteínas alternativas no Brasil. 

A visão de Gustavo Guadagnini é a seguinte: “O Brasil largou de certa forma atrasado nesse setor. O primeiro análogo de carne moderno, lançado com novas tecnologias, chegou ao Brasil em maio de 2019. Nos EUA esse mercado começou em 2008, mais de 10 anos antes.  Porém, atualmente nós já temos um amplo portfólio disponível, oferecido por diversas empresas e com todos os tipos de produtos”. 

Ele ressaltou que agora o Brasil se tornou um exportador desse tipo de alimento, vendendo carnes à base de plantas para mais de 25 países. “A meu ver, o ritmo de desenvolvimento desse setor é alucinante! Nossa vocação para o setor agroindustrial fez com o que Brasil crescesse num ritmo nunca visto antes e se tornasse uma potência dessa área”, ele destacou, também informou que o país vai se tornar um líder global nessa área em breve. 

Para quem tem curiosidade, o GFI  disponibilizou um Mapa do setor de Proteínas Alternativas, onde lista dezenas de marcas atuantes aqui no nosso país com substitutos de carnes, ovos, leites, derivados e ingredientes para esse setor. 

Como podemos impulsionar o setor de proteínas alternativas?  

Se você acompanha o Vegan Business, já sabe que tanto o veganismo quanto os produtos plant-based estão apresentando crescimento. Mesmo assim, ainda existe um caminho pela frente para termos mais opções de alimentos como esses no mercado, diversificando as possibilidades para os consumidores. 

Pensando nisso, perguntei ao Gustavo Guadagnini como nós podemos auxiliar a impulsionar esse setor.

“As pessoas podem ajudar de várias maneiras. Quem atua no mundo corporativo pode ajudar a influenciar suas empresas a entender melhor o setor das proteínas alternativas e aumentar (ou iniciar) seus investimentos na área. Além disso, todos podem ajudar! A melhor forma é pedir que seus varejistas vendam proteínas alternativas. Vai à padaria? Deixe uma sugestão para venderem queijos vegetais. Ouer pedir uma pizza? Aproveite para, como consumidor, exigir uma pizza feita com carnes análogas e queijos vegetais. Com isso, a gente ajuda as marcas a crescer e expandir seus negócios”. 

Gustavo também deixou o convite para você acompanhar o The Good Food Institute no Instagram, LinkedIn e YouTube, e recomendou a leitura do relatório trianual 2018-19-20 para conhecer mais os resultados da organização.

Gostou dessa notícia? Aproveite e leia outras entrevistas: 

Alessandra Luglio fala sobre veganismo no Dia do Nutricionista

Pediatra dá dicas sobre alimentação vegana na infância

Projeto 80 mil horas: carreira, altruísmo eficaz e veganismo

*Imagem de Gustavo Guadagnini: Divulgação The Good Food Institute

Por Amanda Stucchi em 21 de dezembro
Faça parte da comunidade da Vegan Business no WhatsApp: Notícias | Investidores