A agricultura sustentável é um conceito que visa o equilíbrio entre o agronegócio e a sustentabilidade, utilizando um conjunto de técnicas de cultivo que respeitem o meio ambiente e a sociedade e resultem na oferta de produtos saudáveis, ainda gerando rentabilidade aos produtores. 

A consciência coletiva sobre a necessidade de repensar a forma com que estamos tratando o planeta nunca esteve tão forte. 

Com os recentes acontecimentos em todo o mundo, fica mais do que claro a importância da saúde ambiental e do nosso papel para a sobrevivência das futuras gerações, para que elas tenham, ao menos, a capacidade de atender às próprias necessidades básicas. 

Por isso, a agricultura tradicional tem sido deixada de lado em vista da agricultura sustentável que entra em cena com objetivos claros para guiar um mercado gigante com o potencial de transformar a economia e a sociedade.


Continue lendo e entenda o que é a agricultura sustentável e qual sua importância para o nosso presente e futuro.

O que é Agricultura Sustentável?

A agricultura sustentável é a proposta de se buscar uma produtividade maior do sistema agrícola que atenda à demanda crescente de alimentos, mas utilizando os recursos naturais de maneira mais racional, respeitando o meio ambiente ao máximo e sendo justa com as pessoas que fazem parte do processo de produção.

Para que isso seja realizado, são indicadas algumas práticas importantes, como:

  • Utilizar mais pesticidas naturais e menos produtos químicos que contaminam o solo, ar e água para o controle de pragas. 
  • Reaproveitamento de materiais, como por exemplo, criando sistemas que utilizem a água das chuvas para irrigação ou até mesmo utilizando containers marítimos como armazém de produtos.
  • Alternar a plantação de culturas na mesma terra para diminuir a degradação do solo e garantir uma produtividade maior.
  • Utilizar fontes de energia renováveis e limpas como a energia solar, biomassa e o biodiesel.
  • Optar pelo sistema de plantio direto para controle de erosão.
  • Criação de adubo por meio de compostagem, reduzindo custos e aumentando a variedade de adubos para as diferentes culturas.
  • Investimento em tecnologia voltada para o agronegócio para aumento de produtividade, eficiência e segurança dos trabalhadores. Como por exemplo, tecnologias de precisão para gerenciamento do campo e mapeamento de colheita. 
  • Não desmatar florestas para ampliar as áreas agrícolas.
  • Além de também respeitar as leis trabalhistas em favor dos trabalhadores do campo e investir em capacitação profissional.

Como surgiu a agricultura sustentável?

Apesar do fortalecimento dessa prática nos dias atuais, a história da agricultura sustentável teve início nos anos 70 quando foram percebidos os diversos impactos negativos da agricultura convencional no meio ambiente. Isso resultou em movimentos a favor de uma agricultura mais “verde”.

Além da agricultura, outras questões ambientais que já estavam em discussão global na época fizeram com que os consumidores finais, conscientes e preocupados, iniciassem uma demanda por produtos mais saudáveis que tivessem uma produção mais pensada para a preservação do meio ambiente.

O objetivo da agricultura sustentável e sua importância

A agricultura sustentável busca atender a necessidade dos consumidores de alimentos de qualidade e boa procedência, mas faz isso de forma a reduzir ao máximo o impacto da ação do homem sobre a natureza, ao mesmo tempo que garante a rentabilidade do produtor com a redução de custos de insumos e aumento da produção e, também, promove a equidade social e econômica dos produtores.

Desta forma, os principais pontos que podem ser listados como objetivos da agricultura sustentável são:

  • Melhorar a gestão de água e demais recursos naturais
  • Reduzir a degradação do solo
  • Aumentar a qualidade de vida no campo
  • Aumento da biodiversidade local
  • Produção de alimentos saudáveis e seguros
  • Redução de desperdícios

Por isso, a importância da agricultura sustentável vai para além da produção de alimentos saudáveis, procurando melhorar a qualidade de vida não só de quem produz e vive da renda do que planta, mas também de todos os seres que vivem no planeta.

O contexto político, econômico e social da agricultura sustentável

Nos últimos 50 anos a agricultura tem se intensificado para suprir uma demanda cada vez maior em função do crescimento populacional e do aumento das grandes cidades. 

Mas a pressão causada pela agricultura industrial tem forçado o pequeno agricultor a, ou abandonar a vida no campo, ou adotar técnicas mais competitivas de produção. 

A modernização da agricultura, com o uso de maquinários pesados e defensivos agrícolas cada vez mais modernos (e não menos perigosos), maior desenvolvimento econômico para o grande produtor em detrimento do pequeno, concentração fundiária e de renda e a exclusão e violência rural são pontos que tornaram o modo convencional insustentável.

Além disso, há também o uso desenfreado da terra, seja para a produção de monocultura, para a instalação de fábricas e plantas de beneficiamento, ou ainda pior, para a criação de pastagem.

Neste contexto é considerado não apenas o desmatamento, mas também todo o impacto causado pela criação de animais, como a poluição do ar, da água, a compactação da terra e também o bem estar animal. 

A agricultura sustentável surgiu como uma forma de impedir que essa produção constante acabe com os recursos naturais e para promover o desenvolvimento sustentável tanto no ponto de vista ecológico quanto no social.

A agricultura sustentável no Brasil

No Brasil, o desenvolvimento da agricultura sustentável teve contribuição desde 1976, quando José Lutzemberger publicou o “Manifesto ecológico brasileiro: fim do futuro?” criticando o modelo da agricultura tradicional e criando uma proposta mais ecológica. 

Nessa época, também foi formada a AEASP – Associação de Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo, que se reunia para discutir problemas ecológicos, sociais e econômicos resultantes da agricultura convencional.

Durante o passar dos anos, as ONGs também tiveram um papel fundamental na continuidade da agricultura sustentável, na década de 80 nasceram organizações com foco em alternativas para a agricultura tradicional, que depois foi chamada de “agricultura ecológica”. 

Percebe-se que a agricultura sustentável não é um conceito novo, mas que nasceu pela preocupação de pessoas que previam os problemas que poderiam acontecer – e que aconteceram – devido ao uso extensivo e sem consciência dos insumos naturais e da degradação ambiental.

Todo esse movimento estimulou o interesse nas questões ambientais por parte da sociedade como consumidora e dos agricultores que se voltaram para tecnologias mais sustentáveis.

Uma pesquisa do Sebrae, de 2018 apontou o Brasil como líder do mercado de orgânicos da América Latina e hoje conta com mais de 25 mil produtores de alimentos orgânicos cadastrados. 

Em 2020, o setor cresceu 30%. É um mercado que teve um grande impulso na pandemia, quando as pessoas começaram a optar por produtos mais naturais e por uma alimentação saudável como meio de aumentar a imunidade. A conexão entre saúde e alimentação com o meio ambiente se fortaleceu ainda mais. 

Outro crescimento foi no financiamento de área agrícola pelo programa ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) que, em comparação com 2019, teve um aumento de 47%. O programa apoia o desenvolvimento da agricultura sustentável por meio de uma linha de crédito para financiamento de diversas tecnologias, como recuperação de pastagens degradadas e plantio direto, entre outras.

Os principais tipos e exemplos de agricultura sustentável

De forma abrangente, a agroecologia é o conjunto de ideias, descobertas e estudos relacionados à ligação do meio ambiente com a produção de alimentos. Ela é a base dos principais tipos de agricultura sustentável que buscam superar os danos causados tanto à biodiversidade quanto à sociedade através do desenvolvimento sustentável.

Sistemas agroflorestais (SAFs)

Com o objetivo de recuperar áreas degradadas e restaurar florestas, os sistemas agroflorestais (SAFs) se utilizam de consórcios de culturas agrícolas com espécies arbóreas de extrato de folhagem alto, médio e baixo para auxiliar no desenvolvimento da cultura plantada.

Este sistema ainda permite o plantio de várias culturas ao mesmo tempo, o que faz com que o produtor gere renda todos os meses. O sistema agroflorestal pode gerar em torno de 10 toneladas por ano em cada 1ha (hectares).

Agricultura Orgânica ou Biológica

É o tipo principal de agricultura sustentável, diretamente contrário à agricultura tradicional, que utiliza práticas agrícolas preventivas para manter a fertilidade do solo e a saúde da produção por meio de medidas.

Entre as práticas mais utilizadas estão: rotação de culturas, adubação orgânica, manejo ecológico de pragas e doenças. 

Resultados de uma pesquisa científica realizada por 22 anos, por David Pimentel, mostraram que o cultivo orgânico gasta em média 30% a menos de energia fóssil, conserva mais água no solo e recursos biológicos, tem menos erosão e mantém a qualidade do solo, quando comparado à agricultura tradicional

Agricultura Biodinâmica

Nesse tipo de agroecologia, são utilizados conhecimentos astronômicos nas atividades agrícolas e interação de energias com as plantas e animais.

Por meio de uma abordagem holística, busca-se a integridade da exploração agrícola.

Agricultura Natural

Criada no Japão, em 1935, é um sistema de produção que busca imitar a natureza. Nele não há muita manipulação do solo e não é incentivada qualquer tipo de cultivo que vá contra o comportamento natural do solo e do crescimento do produto.

O seu criador, Mokiti Okada acreditava que reciclar o máximo possível dos recursos naturais e manter o solo sempre vivo através de um ciclo, permitiria criar uma harmonia entre o meio ambiente e o homem.

Permacultura

Conhecida como agricultura permanente, a permacultura se baseia no modo de vida natural e busca criar, em conjunto com a natureza, projetos de ecossistemas agrícolas produtivos e sustentáveis. 

Os sistemas são criados de forma integrada, procurando não desperdiçar energia, unindo a terra, os recursos, as pessoas, os animais e o meio ambiente, economizando verba e recursos.

O papel dos consumidores e dos varejistas na agricultura sustentável

Os consumidores são aqueles que ditam o nível de sustentabilidade a ser alcançado e quando o consumo consciente está entre as tendências do mercado, esse nível é extremamente alto.

Como parte desse ecossistema, quanto mais conscientizados os consumidores e varejistas estiverem sobre de onde vem os produtos que consomem e sobre como eles são produzidos, mais incentivo eles podem dar para que as práticas sejam seguidas e as transformações aconteçam. 

É comum que hoje as pessoas busquem por produtos mais naturais, com menos químicos que venham de empresas que prezam pela sustentabilidade e sejam corretas nos aspectos sociais. 

Uma pesquisa feita pela Opinion Box mostrou que 62% dos consumidores consideram a sustentabilidade da empresa no momento da decisão de compra e 82% afirmaram que têm mais chances de virarem clientes de empresas que têm práticas sustentáveis.

Então quando a demanda por produtos desse tipo cresce, as empresas se sentem obrigadas a seguir o padrão.

Veganismo, agricultura e sustentabilidade

O veganismo sem sustentabilidade não existe. Um dos principais motivos que levam as pessoas a iniciarem nesse estilo de vida e alimentação é a preocupação com o meio ambiente, além de saúde e bem-estar animal. Que também são os principais objetivos das práticas de agricultura sustentável.

E esse número de pessoas aderindo ao vegetarianismo e veganismo no Brasil é constante. Uma pesquisa da Ingredion, de setembro de 2020, mostrou que 90% dos entrevistados estão dispostos a ingerir alimentos derivados de plantas. 

O crescimento desse mercado plant-based tem impacto direto no agronegócio, que tem à sua frente uma possibilidade enorme de expansão e investimento, onde as empresas que oferecem produtos plant-based buscam parcerias com agricultores sustentáveis, não somente voltada para a alimentação, mas de materiais naturais de origem vegetal. 

Conclusão

Os alimentos e produtos de origem vegetal são o futuro da sociedade e o consumidor cada dia mais consciente do processo de produção desses produtos mostra que a adoção das práticas de agricultura sustentável são indispensáveis para o agronegócio.

O objetivo disso tudo é produzir em mais quantidade ao mesmo tempo em que se reduz os malefícios que a agricultura convencional traz para todo um ecossistema. 

A questão não é mais aparentar “ser verde”, mas comprovar que as escolhas e ações de hoje vão dar chance para que quem venha depois tenha um lugar melhor. 

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Por Leticia Rocha em 6 de agosto
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