Grande parte dos produtos de limpeza, como detergentes e sabonetes, contém surfactantes derivados de combustíveis fósseis, contribuindo significativamente para impactos ambientais. Diante disso, a Unilever anunciou em 2020 que eliminará o uso de combustíveis fósseis nesses produtos até 2030. A empresa, responsável por marcas como Domestos, Persil e Comfort, busca reduzir sua pegada de carbono, já que os químicos utilizados em seus produtos representam 46% desse impacto.
Investimento em óleos de biomassa
Para avançar nessa meta, a Unilever investiu milhões de euros em um projeto de desenvolvimento de óleos de biomassa que aproveitam não apenas sementes e frutos das plantas, mas também folhas, caules e outras partes. A iniciativa é conduzida em parceria com a startup australiana Nufarm, que trabalha no cultivo de uma variedade de cana-de-açúcar com maior biomassa. Esse tipo de planta pode ser transformado em ácidos graxos usados na fabricação de detergentes, produtos de beleza e cuidados pessoais da Unilever.
Benefícios e desafios da tecnologia
A Nufarm já lançou a “energy cane”, uma cana com maior produção de biomassa e açúcar, e características como resistência à seca, proteção do solo contra erosão e tolerância a mudanças climáticas. O novo investimento da Unilever busca aprimorar esses benefícios, desenvolvendo uma variedade de cana capaz de produzir óleo vegetal em escala comercial, alinhando-se às metas de redução de emissões.
“Podemos transformar plantas de alta biomassa em verdadeiras fábricas de óleo”, explicou Brent Zacharias, executivo da Nufarm. Para Greg Hunt, CEO da empresa, essa inovação representa tanto um grande desafio quanto uma oportunidade para a agricultura sustentável.
Se bem-sucedido, o projeto será pioneiro na otimização de culturas agrícolas para a produção de óleo vegetal, que será usado em diversos produtos da Unilever. Em 2023, itens de cuidados pessoais, beleza e limpeza representaram 65% do faturamento da companhia.
Foco em sustentabilidade e eficiência
O projeto também visa maximizar o aproveitamento das plantas. Além do óleo, o açúcar extraído poderá ser usado em processos biotecnológicos para criar fragrâncias, enzimas e ingredientes de limpeza especializados. As fibras restantes poderão ser destinadas à produção de embalagens ou energia renovável.
Neil Parry, chefe de biotecnologia da Unilever, destacou que a evolução da biotecnologia está permitindo a criação de materiais comerciais escaláveis que beneficiarão tanto a sociedade quanto a indústria. Ele reforçou que o uso de matérias-primas e ingredientes é a principal fonte de emissões da empresa, representando 52% de sua pegada de carbono.
Críticas às metas ambientais da Unilever
Embora o projeto com a Nufarm avance, a Unilever enfrenta críticas por alterações em suas metas de sustentabilidade. Entre os ajustes, a empresa adiou a meta de tornar 100% de suas embalagens plásticas reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis até 2025, além de reduzir outros compromissos, como a regeneração de 1,5 milhão de hectares de terras, florestas e oceanos para 1 milhão.
Essas mudanças ocorrem em meio a pressões de investidores e acionistas, que acusam as metas não financeiras de desviar o foco dos objetivos comerciais. Recentemente, a Unilever iniciou uma reestruturação, vendendo marcas menores e priorizando as mais lucrativas – como a recente decisão de colocar à venda a produtora de alimentos vegetarianos The Vegetarian Butcher.
Confira a matéria publicada no Green Queen.
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