A fama da Colúmbia Britânica pelo seu salmão selvagem coincidiu com a transição para a agricultura industrial, trazendo desdobramentos significativos para a saúde humana e o equilíbrio do planeta. Em resposta, três empresas estão dedicadas a criar uma versão vegetal do querido salmão canadense, impulsionadas pelo suporte financeiro do governo.

A relação dos canadenses com o salmão é profunda: quase 80% consomem essa iguaria, e um em cada dez saboreia-a semanalmente. O peixe é tão arraigado na identidade nacional que o governo o reconhece como um símbolo vital para as pessoas do Atlântico Canadense.

Entretanto, as populações de salmão selvagem do país estão minguando rapidamente, agora classificadas como espécies à beira da extinção. O último ano testemunhou o mais acentuado declínio populacional. O aumento na demanda resultou na transição da criação de salmão selvagem para práticas intensivas, como pesca excessiva e destruição de habitats, um cenário agravado pelas mudanças climáticas.

Não se trata apenas da sobrevivência do peixe, mas também da saúde das pessoas. Um exemplo disso é a indústria agrícola na Colúmbia Britânica, flagrada despejando sangue contaminado com piscine orthoreovirus, um vírus que afeta os peixes, na rota de migração do principal salmão selvagem do Canadá. Cientistas já alertavam desde 2012 sobre a disseminação desse vírus, afetando tanto as populações cultivadas quanto as selvagens e, consequentemente, ameaçando a saúde humana.

Apesar dos avisos, o governo canadense inicialmente minimizou os riscos para as populações ligadas à produção de salmão. Contudo, parece estar reconsiderando essa postura. Um dos cinco Clusters Globais de Inovação, a Protein Industries Canada, focada em proteínas alternativas, está investindo 4,5 milhões de dólares para desenvolver uma alternativa vegana realista ao salmão selvagem.

Salmão selvagem vegetal

O “Santo Graal” dos frutos do mar veganos parece ser o salmão integral. Este projeto engloba três empresas canadenses: a New School Foods, especializada em frutos do mar à base de vegetais, a Liven Proteins, uma startup de simulação precisa, e a NuWave Research, fornecedora de soluções de desidratação. O investimento total chega a US$ 11,4 milhões.

O esforço conjunto dessas empresas visa trazer ao mercado um salmão vegano totalmente cortado, capaz de “transformar-se de cru para cozido”, prometendo reproduzir o sabor e a textura dos queridos equivalentes convencionais. A New School Foods já lançou sua própria versão de salmão inteiro fatiado, feito a partir de fibras vegetais, utilizando tecnologia patenteada de andaimes baseada em congelamento direcional, caracterizando-se como a base da nova empreitada.

Essa iniciativa representa uma evolução do primeiro projeto da New School Foods e Liven Proteins, que demonstrou a tecnologia necessária para criar um produto completo com corte muscular. Agora, com a colaboração da NuWave Research, o foco está na expansão da produção e na comercialização do salmão.

A pesquisa da NuWave está concentrada em desenvolver e validar novas técnicas para sua tecnologia de micro-ondas descartáveis, um passo crucial para acelerar a fabricação desse produto inovador.

O Ministro da Inovação, Ciência e Indústria do Canadá, François-Philippe Champagne, expressou: “Essas novas tecnologias impulsionarão a produção de um filé de salmão à base de plantas, oferecendo mais opções nutricionais e sustentáveis para os canadenses, atendendo às demandas tanto nacionais quanto globais.”

Chris Bryson, fundador e CEO da New School Foods, complementou: “Além de otimizar nossa nova tecnologia de processamento de alimentos com o apoio de nossos parceiros de consórcio, estamos construindo nossa própria linha de montagem de produção. Isso nos dá vantagem competitiva para ajustar a qualidade do produto e otimizar custos, visando criar uma alternativa à base de plantas destinada a um público mais amplo.”

Fei Luo, cofundador e CEO da Liven, destacou: “A capacidade de escalabilidade e as aplicações do produto final são fundamentais para o sucesso dos novos ingredientes da Liven, sendo este projeto crucial para abordar ambos os aspectos.”

Esse empreendimento conjuga esforços e tecnologia para atender a demandas crescentes por alternativas alimentares mais saudáveis e sustentáveis, tanto dentro quanto fora do Canadá.

Investimento em produtos à base de plantas está em ascensão no Canadá

Prevê-se que o mercado canadense de produtos à base de plantas cresça 9,2% ao ano até 2027. O interesse por esses alimentos está em alta: levantamentos do governo indicam que mais de 40% dos cidadãos estão ativamente buscando incorporar mais alimentos veganos em suas dietas, buscando benefícios tanto para a saúde quanto para o meio ambiente. Estima-se um contributo de 4,5 bilhões de dólares para o crescimento do PIB do país.

No último ano, um terço dos canadenses experimentou substitutos de carne vegetal, enquanto 42% afirmaram ter consumido alternativas veganas ao leite, conforme revelou uma pesquisa da Universidade de Dalhousie. Paralelamente, 31% relataram consumir substitutos de carne pelo menos uma vez por semana, com metade desses números referentes a substitutos de laticínios. Outro estudo indicou que os canadenses consomem mais proteínas alternativas (7%) do que carne de porco (5%) ou frutos do mar (4%) em uma semana típica.

“O processo de inovação é contínuo. É uma constante evolução de ideias e a geração e acumulação de propriedade intelectual para, em última instância, criar produtos ou serviços revolucionários”, explicou Bill Greuel, CEO da Protein Industries Canada. “Ao desenvolver a propriedade intelectual gerada no primeiro projeto e trazer novos parceiros com suas próprias contribuições intelectuais, estamos desenvolvendo uma nova tecnologia que resultará em produtos de alta qualidade e pioneiros no mercado.”

O envolvimento da Protein Industries Canada representa seu primeiro investimento durante seu segundo mandato, que teve início no ano fiscal de 2023-24 com um financiamento adicional de US$ 150 milhões proveniente do governo federal.

Em setembro, a organização encomendou à Ernst & Young um relatório que destacou o vasto potencial do mercado global de produtos à base de plantas para a próxima década (ainda que esses números sejam otimistas, com algumas ressalvas). O documento ressaltou a necessidade de maior suporte político, infraestrutural e investimento no setor de proteínas alternativas no Canadá, mas afirmou que o país possui todas as qualidades necessárias para liderar nesse campo.

Esse projeto é considerado o “primeiro do gênero a ser comercializado”, embora, na Europa, a marca austríaca Revo Foods tenha lançado um salmão vegano integral no início deste ano. Outras empresas que exploram alternativas de frutos do mar completos incluem a Oshi de Israel (anteriormente conhecida como Plantish), Esencia Foods da Alemanha, Aqua Cultured Seafood dos Estados Unidos e Seaspire da Índia.

A notícia chega uma semana após o lançamento do Future Ocean Foods, um consórcio composto por 36 empresas que visa promover o setor alternativo de frutos do mar, com a participação da New School Foods como membro.

Imagem de capa: Unsplash

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Por Nadia Gonçalves em 20 de novembro
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