Além de falarmos sobre negócios, empreendedorismo e investimentos, também estamos atentos as notícias que envolvem política. Uma informação recente foi que a Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (ABIPESCA) moveu uma ação para regulamentar os produtos à base de plantas. 

Sabemos que a regulamentação dos produtos à base de plantas está em discussão — já falamos sobre esse assunto na matéria Alimentos Plant-based e onda regulatória — onde foi citado a busca por um equilíbrio regulatório quando são usadas as nomenclaturas de leite e carne para produtos que não possuem origem animal. 

A ideia defendida pelos apoiadores é que o consumidor pode se enganar e comprar um produto de origem vegetal ao invés de um de origem animal. Na Índia, para resolver esse embate, foi proposto um texto que afirma a necessidade de haver a presença obrigatória de um selo vegano. 

Ação da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (ABIPESCA) e as empresas de carne vegetal 

Conforme informações da Globo Rural, a associação elaborou uma ação civil contra a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o governo federal, solicitando que retirassem das prateleiras os produtos plant-based que simulassem as proteínas animais. 

O presidente da instituição, Eduardo Lobo Naslavsky, explicou que deseja que os produtos sejam descritos como “planta processada com sabor artificial de” para serem comercializados. Ele argumentou: “A gente não pode deixar que a população seja induzida ao erro”. 

Como sabemos, mesmo empresas de carne de origem animal estão apostando no segmento de carnes à base de vegetal. Um exemplo disso é a Seara — que lançou uma linha de carnes 100% à base de vegetal, nomeada de Incrível Cortes — na embalagem está escrito que o produto é de origem vegetal. 

Além disso, várias startups inteiramente veganas atuam nesse setor. A Fazenda Futuro, que lançou seu atum à base de plantas é mais um exemplo. 

Veganismo e mercado à base de plantas

O veganismo está se fortalecendo cada vez mais. Isso é um fato constatado pelas estatísticas e previsões numéricas. 

Apesar de não haver números exatos para a quantidade de veganos — sabemos que 14% da população brasileira se declara como vegetariana, conforme dados do IBOPE de 2018. 

Entretanto, a Sociedade Vegetariana Brasileira criou uma probabilidade desse número (considerando a porcentagem de veganos, dentro do número de vegetarianos em países onde pesquisas desse tipo foram realizadas) e chegou a somatória  de 7 milhões de pessoas veganas em 2018. 

Uma pesquisa mais recente — a da IPEC — também demonstrou que 46% dos brasileiros não estão consumindo carne, por desejo próprio, pelo menos uma vez na semana. Além disso, 32% das pessoas também priorizam a opção vegana quando essa está destacada nos restaurantes. 

Um relatório da Credit Suisse também apontou o número desse mercado: você sabia que está previsto que a indústria plant-based seja 100 vezes maior em 2050? Isso significa que o mercado de carnes e laticínios alternativos poderá valer US$ 1,4 trilhão até 2050 (atualmente, está em US$ 14 bilhões). 

Dito tudo isso, você já percebeu que esse estilo de vida é não é uma tendência qualquer e, como tal, movimenta a economia global. 

Impactos da proibição dos rótulos de produtos à base de plantas

Agora que você já conhece mais essa ação da Abispeca e esse mercado, que tal mergulharmos nos impactos que essa proibição nos rótulos traria para os negócios? 

O primeiro impacto perceptível seria no marketing e na comunicação geral desses produtos. 

Como seriam feitas as publicidades? “Planta processada com sabor artificial de carne”, vamos combinar que isso não parece interessante para os consumidores que ainda estão na transição para veganismo ou vegetarianismo, tornando a descrição mais longa também. 

Além disso, não auxilia a esclarecer o produto de origem animal que está sendo substituindo. Já imaginou ouvir toda a frase “planta processada com sabor artificial…” para só aí entender o que é o produto? 

O advogado Nigel Barella também explicou no Good Food Institute sobre leis que censuram os rótulos, dizendo que essas propostas são inconstitucionais. Por quê? 

Elas violam a liberdade de expressão, impedindo que as empresas falem de forma livre e clara com seus clientes e também dificulta o entendimento por parte dos consumidores que desejam comprar o produto. 

Ele afirmou ao veículo: “O verdadeiro princípio que orienta essas leis não é uma confusão imaginária do consumidor sobre palavras ou frases comuns, mas sim a proteção de um seleto conjunto de setores favorecidos pelo Estado contra a concorrência”. 

Isso, por si só, já nos permite refletir mais sobre essas leis que estão sendo propostas em diversas partes do mundo. Afinal, essas proibições de rótulos possuem o objetivo de auxiliar o consumidor ou só impedir que outras empresas prosperem? O questionamento fica no ar para sua reflexão. 

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*Imagem de capa: Pexels

Por Amanda Stucchi em 4 de novembro
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