Uma pesquisa feita pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (IPEC), antigo Ibope Inteligência, encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), revelou dados interessantes sobre o consumo de carne de origem animal. Foi relatado que 46% dos brasileiros não consomem carne, por desejo próprio, pelo menos uma vez na semana. Além disso, mais de 30% priorizam a opção vegana em restaurantes ou estabelecimentos, quando essa informação está destacada. 

Pesquisa feita pela IPEC, antigo Ibope Inteligência, encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB)
Divulgação: Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB)

A coleta de dados foi feita em fevereiro de 2021, com mais de 2 mil pessoas em todas as regiões do território brasileiro. Ricardo Laurino, presidente da SVB, falou em um comunicado: “O que acontece é que, além da parcela vegetariana da população, cresce muito rapidamente a parcela que procura reduzir o seu consumo de carnes e derivados. Em um, dois, três ou vários dias da semana, os brasileiros têm optado por fazer refeições vegetarianas ou veganas”. 

Quanto aos detalhes da pesquisa do IPEC, foi afirmado no Globo Rural que às mulheres tem maior predisposição a abandonar a carne uma vez por semana do que os homens (em 49% contra 41%) e que essa redução é maior nas faixas etárias de 45 a 54 anos (com 53%) e menor entre jovens que tem entre 16 a 24 anos (32%). Uma possibilidade para essas variações são a preocupação com a saúde nos mais velhos e a falta de independência financeira entre os jovens, bem como a tendência em consumir comidas que não são tão saudáveis. 

Quanto as regiões, foi apontado que não existem muitas variações. A porcentagem de pessoas, segundo a IPEC, que reduzem seu consumo de carne semanal varia de 42% na periferia até 46% na capital. A respeito da renda de quem diminui o consumo de carne semanalmente, quem ganha até um salário mínimo reduz mais, com 50%, e aqueles que recebem mais de cinco salários retiram menos a carne do cardápio, ficando em 37%. 

Ricardo Laurino também avaliou que uma parte da porcentagem de 46% da população, resultado da pesquisa do IPEC, são os milhões de adeptos da Segunda Sem Carne (SSC), um movimento que existe no Brasil desde 2009 e que convida as pessoas a trocar, pelo menos uma vez por semana, a proteína animal pela proteína vegetal.

Pesquisa feita pela IPEC, antigo Ibope Inteligência, encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB)
Imagem: Divulgação Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB)

O movimento é conhecido mundialmente pelo seu embaixador Paul McCartney, mas o Brasil é reconhecido por ter “a maior SSC do mundo” — presente em refeitórios corporativos, escolas particulares e públicas, restaurantes e outras organizações, e tendo servido mais de 300 milhões de refeições com fontes vegetais de proteína desde o seu lançamento. 

“A ideia da campanha não é tirar algo do prato, e sim acrescentar”, explica Mônica Buava, diretora-executiva da SVB. “Existe uma grande variedade de gêneros alimentícios produzidos pela agricultura familiar brasileira que ainda não estão sendo aproveitados por grande parte da população, e todos que começam a fazer a Segunda Sem Carne ou outro movimento semelhante ficam surpresos com as descobertas de novos sabores e novas combinações”. Ela destaca ainda que o arroz e feijão perderam espaço no centro do prato do brasileiro ao longo dos últimos vinte anos, mas que a valorização dos vegetais traz uma retomada desse protagonismo. 

Além da pesquisa do IPEC: Dados de 2018 e mapa com opções veganas

Embora ainda exista muita demanda não atendida, a oferta de restaurantes nos últimos anos vem aumentando rapidamente. Um mapa da Sociedade Vegetariana Brasileira mostra milhares de endereços que já oferecem boas opções veganas. Batizado de “Onde Tem Opção Vegana”, o recurso reúne mais de 3,2 mil estabelecimentos no Brasil.

O resultado da pesquisa realizada neste ano impressiona, e em 2018 a SVB já havia encomendado outra pesquisa com o mesmo intuito, cujos números apontavam que 14% dos brasileiros se consideravam vegetarianos, e a maioria da população do país já estava disposta a escolher mais produtos veganos.  

Pesquisa feita pela IPEC, antigo Ibope Inteligência, encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB)
Imagem: Divulgação Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB)

Mônica acrescenta que a evolução do cardápio dos restaurantes para uma maior variedade de produtos plant-based é uma grande oportunidade para a retomada dos restaurantes no fim da pandemia de COVID: “Com um cardápio mais centrado em pratos à base de plantas, os restaurantes conseguem atrair essa imensa base de clientes evidenciada pelas pesquisas e, ao mesmo tempo, reduzir seus custos com alguns dos insumos mais caros, como carnes e queijos”. 

Para se adaptar a essa nova realidade e incluir pratos veganos no cardápio, os restaurantes não precisam fazer investimentos, comprar novos equipamentos ou aplicar novas técnicas. Eles podem optar por combinações simples, tradicionais, utilizando ingredientes facilmente disponíveis no restaurante. “Mas há uma evolução da culinária centrada nas plantas, com técnicas que evidenciam o sabor — e o consumidor está cada vez mais ávido por algo que seja saboroso, faça bem ao planeta e seja acessível”, explica Mônica. Importante, também, é os restaurantes se atentarem a ter pratos que sejam inclusivos, ou seja, pratos veganos porque contemplam a maior fatia possível do público — abrangendo vegetarianos, veganos, simpatizantes, flexitarianos e afins. 

Proteínas vegetais mobilizam os setores produtivos 

O aumento do apetite do mercado por proteínas vegetais mobiliza os setores produtivos. O Brasil, que já produz anualmente 250 milhões de toneladas de grãos, transforma uma parte desses grãos em “carnes feitas à base de plantas”, convertendo o grão em produto final a uma alta eficiência, sem a onerosa taxa de conversão alimentar usualmente implicada quando se usa os grãos para alimentar animais de produção. 

Hoje, algumas das empresas mais atuantes no mercado global de carnes vegetais estão justamente aqui. “É um sinal claro da mudança de comportamento do brasileiro em relação ao consumo de carne”, comenta Ricardo, acrescentando: “Também revela que existe uma oportunidade gigantesca para as marcas de alimentação que tiverem bons produtos veganos nos seus cardápios e portfólios”.

Sobre a Sociedade Vegetariana Brasileira 

Fundada em 2003, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) é uma organização sem fins lucrativos que promove a alimentação vegetariana como uma escolha ética, saudável, sustentável e socialmente justa. Por meio de campanhas, programas, convênios, eventos, pesquisa e ativismo, a SVB realiza conscientização sobre os benefícios do vegetarianismo e trabalha para aumentar o acesso da população a produtos e serviços vegetarianos.

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*Imagem de capa: Divulgação Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB)

Por Amanda Stucchi em 3 de agosto
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