O Dia Mundial pelo Fim do Especismo, realizado em 27 de agosto, auxilia a conscientizar sobre o impacto da relação das pessoas com os animais. Na data, dezenas de organizações e grupos ao redor do mundo estão participando para abordar a discriminação especista e também demandando a proteção dos direitos desses seres vivos.

O Dia Mundial pelo Fim do Especismo 

O termo “especismo” foi criado pelo psicólogo inglês Richard D. Ryder, nos anos 70, e popularizado pelo filósofo australiano Peter Singer em seu livro “Libertação Animal”, publicado em 1975. 

A linha de pensamento investiga e questiona as razões pelas quais a humanidade hierarquiza o valor dos animais com quem dividimos o planeta. Portanto, o especismo pode ser classificado com um tipo de preconceito onde o ser humano desmerece a vida de algumas espécies, normalizando a exploração desses seres vivos. 

“Apesar de não haver nenhuma diferença fundamental em sua capacidade de sentir dor e ter emoções, na prática, sujeitamos os animais da pecuária a um sofrimento muito mais intenso e prolongado. Esses animais — como vacas, porcos e galinhas — são submetidos a práticas que em muitos países seriam consideradas cruéis e chocantes se fossem cometidas contra animais de estimação, como serem confinados a vida inteira em ambientes apertados e mutilados sem anestesia. Então, esta é uma data importante para pararmos e refletirmos sobre isso”, destacou Fernanda Vieira, diretora de bem-estar animal da organização internacional de proteção Sinergia Animal.

Conforme dados da Nações Unidas, apontados em uma publicação da organização sem fins lucrativos Faunalytics, mais de 70 bilhões de animais terrestres são mortos ao redor do mundo para alimentação a cada ano. Para ter uma ideia, são 50 vezes mais animais do que o número atual de pets. 

“Estamos falando de bilhões de seres sencientes. Estudos mostram, por exemplo, que porcos são tão inteligentes quanto cães e eles certamente sofrem do mesmo jeito”, destacou Fernanda Vieira. 

Aqui vale ressaltar que o nível de proteção oferecido a diferentes espécies varia entre países, culturas e com o tempo. 

No ano passado, o Reino Unido reconheceu legalmente todos animais vertebrados como seres sencientes, o que significa que são capazes de ter sentimentos positivos e negativos, como prazer, alegria, dor e angústia. Já em 2022, o governo britânico adicionou algumas espécies invertebradas à lista, como lagostas, polvos e caranguejos. A mudança auxilia a garantir que suas necessidades e capacidade de sentir dor sejam consideradas na criação de novas políticas públicas.

O Animal Rights Index, elaborado pelo The Swiftest por meio de estatísticas das principais fontes internacionais, oferece uma visão geral de como diversas espécies de animais são tratadas e protegidas pelo mundo. Com 67 países, o Brasil aparece em 32º lugar no ranking — pontuando mal pelo alto consumo de carne e uso de animais para vestuário, mas melhor em termos de reconhecimento do sofrimento animal e pelo seu apoio à Declaração Universal de Bem-Estar Animal.

Como curiosidade, o primeiro país na lista é Luxemburgo, enquanto o último é a China.

Estudo sobre empatia e compaixão com outras espécies 

Como é a psicologia por trás do especismo? Essa é a pergunta que intriga os pesquisadores!

Um estudo, publicado na Nature em 2019 e realizado por meio de uma pesquisa on-line que teve 3.500 participantes, demonstrou que a empatia e a compaixão com outras espécies de animais aumentam dependendo do grau de parentesco evolutivo com a humanidade e se os mesmos possuem características em comuns com as pessoas. 

Vale ressaltar que resultados parecidos já tinham sido observados por Janis Driscoll em 1995, na Universidade do Colorado, quando a cientista demonstrou que as pessoas têm a tendência de classificar mais mamíferos como “amáveis” do que os peixes ou aves.

“O fato de não-mamíferos não serem considerados amáveis pode dessensibilizar as pessoas diante de seu sofrimento. Por exemplo, ainda que se tenha menos empatia por galinhas, não significa que elas não possam sentir e sofrer, muito pelo contrário. Inclusive, em números absolutos, elas são uma das espécies que mais sofrem em nosso sistema de alimentação”, explicou Fernanda Vieira. 

De acordo com o estudo de Janis Driscoll, as espécies de não-mamíferos geralmente também são consideradas menos “inteligentes” pela população. 

“Peixes são um bom exemplo disso. Apesar das vastas evidências da sua percepção à dor e de suas complexas habilidades cognitivas, incluindo o autorreconhecimento e a competência matemática, eles são os menos protegidos por políticas de bem-estar animal — em grande parte porque a sua senciência ainda é amplamente ignorada”, afirmou a diretora da Sinergia Animal. 

Segundo ela, quanto mais conhecimento se tem sobre a senciência animal, mais as pessoas acabam se deparando com um paradoxo na sua alimentação. “Se alguém se choca só com ideia de matar um cachorro, como essa mesma pessoa pode comer uma espécie comprovadamente igual em complexidade cognitiva e comportamental, como os porcos?”, questionou. 

Assim como a saúde e as preocupações com o meio ambiente, questionar o especismo é uma das razões que têm levado mais pessoas a adotar uma alimentação mais compassiva nos últimos anos. Isso causa, por exemplo, o aumento do veganismo

Sobre a Sinergia Animal

A Sinergia Animal é uma organização internacional que trabalha em países do Sul Global para diminuir o sofrimento dos animais na indústria alimentícia e promover uma alimentação mais compassiva. A ONG é reconhecida como uma das mais eficientes do mundo pela instituição Animal Charity Evaluators (ACE). 

No Brasil, instituição também mantém uma comunidade online de voluntários dedicados a promover a compaixão e a proteção dos animais. 

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*Imagem ilustrativa de capa: Unsplash

Por Amanda Stucchi em 26 de agosto
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