Atualmente temos tantas opções de leites vegetais no mercado que até esquecemos que cerca de 10 anos atrás essa realidade era bem diferente. O crescimento exponencial dos leites vegetais é muito bem vindo. Só para começarmos, em Nova Iorque o boom dos leites foi tão surpreendente que a Oatly, uma empresa sueca de leite vegetais, teve dificuldade em atender tanta demanda.

Em 2018, Nova Iorque passou a sofrer com a escassez dos leites vegetais da marca Oatly. A marca teve seu lançamento em 2016, e já nessa época passou a fornecer cafés de luxo para Nova Iorque. A empresa tinha aumentado a produção em 1.250%. O CEO da Oatly, Toni Peterson disse que eles estavam lutando para atender toda a demora que o país estava pedindo. “Como fornecemos quando o crescimento é tão louco?”, disse o CEO.

Quais eram as opções antes?

Se hoje nós conseguimos encontrar diversos tipos de leites vegetais no mercado, como soja, coco, amêndoas, amendoim, aveia, entre outros, em 2008 tínhamos outra história.

Antes as alternativas ao leite de vaca se resumiam, em maioria, ao leite de soja. Outra opção era o leite de arroz. John Schoolcraft, diretor de criação global da Oatly, disse que essa alternativa “Era só para pessoas que eram intolerantes à lactose [ou] tinham alergia ao leite; veganos, vegetarianos – pessoas que, na época, estavam à margem da sociedade ”.

Segundo pesquisas da Mintel, as vendas dos leites vegetais no Reino Unido cresceram 30% desde 2015. Isso porque foram impulsionadas pelo crescimento do vegetarianismo e do veganismo no país. Com a queda na demanda pelo leite de vaca, ocorreu uma queda nos preços dessa bebida e, em seguida levou ao fechamento de mil fazendas de leite entre os anos de 2013 e 2016.

“Os consumidores não têm certeza sobre a indústria de laticínios”, disse Caroline Roux, analista de laticínios da Mintel. “Eles não estão convencidos de que esses produtos são bons para eles”.

Quando falamos de Estados Unidos, quase metade de todos os compradores agora adicionam algum tipo de leite vegetal às suas compras. Hoje podemos dizer que a indústria dos leites vegetais mundial está estimada em US $ 16 bilhões.

Por que bebemos leite?

Nascemos bebendo leite. Leite materno. Com o tempo, passamos a substituir o leite das nossas mães por leites de vacas.

A diferença é que quando somos bebês, nossos intestinos produzem a enzima lactase. Essa quebra a lactose, o açúcar no leite materno (e o leite de vaca), em açúcares mais simples, como a glicose e a galactose. Porém para a maioria dos seres humanos, a produção da enzima lactase despenca após o desmame. Por isso, temos tantas pessoas com intolerância a lactose pelo mundo.

Nós desenvolvemos uma cultura do consumo de leite de outros animais há muito tempo.  Para Adam Fox, um dos principais alergistas pediátricos do Reino Unido, bebemos leite de vaca porque tivemos diversas mudanças genéticas ao longo dos anos. Tudo começou quando o ser humano começou a domesticar esses animais, ou seja, cerca de 10 mil anos atrás.

Indústria de lacticínios

Mesmo com o crescimento exponencial dos leites vegetais, ainda temos uma indústria gigantesca. As empresas regulamentadas são avaliadas em mais de US $ 400 bilhões, produzido por um rebanho global de mais de 274 milhões de vacas.

O consumo do leite animal está em declínio. Em 1975, o americano médio consumia 247 libras (cerca de 130 litros) de leite por ano; em 2017, eram apenas 66 litros. Nos EUA, as vendas de leite caíram 15% desde 2012.

Documentários disponíveis no Youtube e na Netflix, ativismo vegano, maus tratos evidentes de animais, dados sobre a indústria lacticínios e o meio ambiente. Esses são apenas alguns dos motivos que estão levando as pessoas a contribuírem com o crescimento exponencial dos leites vegetais.

O meio ambiente é um assunto bastante em alta. Não podemos deixar de ver o quanto a sustentabilidade e o veganismo estão lado a lado. Uma prova disso é que a agricultura animal contribui com mais gases de efeito estufa do que a aviação, a navegação e os veículos rodoviários combinados. Um estudo recente conduzido pela Universidade de Oxford afirmou que observar uma dieta vegetariana ou vegana é a maneira mais eficaz de reduzir sua própria pegada ambiental.

Os influenciadores digitais também defendem bastante uma alimentação mais limpa. Diversos youtuber veganos estão ganhando mais espaço e mostrando as vantagens de levar uma alimentação sem crueldade animal.

A substituição do leite vem de muitos anos

Na China, por exemplo, o leite de soja é fabricado desde o século XIV, como uma passo para a produção do tofu. “Se você olhar para receitas medievais, muitas vezes eles vão dar-lhe uma escolha entre leite ou leite de amêndoa”, disse Mark Kurlansky (cujo best-seller Cod: A Biography, lançou um gênero inteiro de micro-histórias de alimentos).

Porém apenas nos anos 90 que o leite de soja começou a ganhar muito mais espaço. Uma empresa do Colorado chamada WhiteWave fez uma descoberta que parece uma descoberta óbvia: deixar o leite de soja perto do leite de vaca faria com que as pessoas comprassem mais. E deu resultados! se eles transferiram o produto para o corredor refrigerado ao lado do leite, mais pessoas o compraram.

E no Brasil?

O crescimento dos leites vegetais lá fora está bastante claro, mas e aqui no Brasil? Os dados também são bastante positivos.

Segundo a consultoria Euromonitor Internacional, o crescimento dos leites vegetais no Brasil chegou a 51,5% em 2018. As principais escolhas dos consumidores são os leites de arroz, aveia, coco e amêndoas. A preferência por outros tipos de leites a base de plantas, fez com que a procura pelo leite de soja caísse em 19%.

De qualquer forma não podemos levar em consideração apenas a queda. As bebidas à base de soja corresponderam a 90% do mercado de bebidas vegetais em 2018. Esses dados chamaram atenção de grandes empresas que aderiram à bebidas vegetais. Ades, Coca-Cola, Danone, entre outras, já desenvolveram produtos de soja.

Os consumidores passaram a conhecer melhor as opções, e pouco a pouco vimos um crescimento exponencial dos leites vegetais. Os dados deixam claro que a tendência é que o isso continue pelos próximos anos.

Quer conhecer mais sobre o crescimento exponencial dos leites vegetais? Sugiro a leitura do texto White gold: the unstoppable rise of alternative milks.

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Por Lari Chinaglia em 18 de fevereiro
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