Produzir gordura suína com o mínimo de impacto ambiental e crueldade animal! Essa é a proposta da Cellva, única empresa da América Latina a produzir gordura real de porco, cultivada em laboratório. A startup brasileira, focada em bioingredientes alimentares, surgiu para atender a uma demanda cada vez maior por gorduras na indústria alimentícia. 

A startup é a sexta no mundo todo a investir em biotecnologia para cultivar células de gordura e lipídios. Bem como, eles são 100% focados em usar ingredientes de origem vegetal durante todo o processo de produção. 

Experimentamos a gordura suína da Cellva

Foi no estiloso salão do Green Kitchen, renomado restaurante localizado na charmosa rua Benjamim Egas, em Pinheiros, que o time da Cellva encontrou o lugar ideal para demonstrar a aplicação prática da curiosa gordura produzida em laboratório. O evento para convidados aconteceu na última quarta-feira de junho (28) e contou com a participação da Vegan Business.

Antes mesmo de provarmos a gordura aplicada num preparo alimentar, tivemos a oportunidade de ver o produto “in natura“. Algumas das pessoas presentes até degustaram para sentir a textura e o sabor. De aspecto limpo e aroma suave, a gordura de modo isolado surpreende por deixar a sensação amanteigada na boca por mais tempo. De fato, é o que acontece quando se come gordura animal. 

Gordura da Cellva produzida em laboratório
Imagem: Juan Gasparin/Reprodução

Essa suavidade indica que a aplicabilidade da gordura realmente é imensa. Ela poderá ser responsável pelo sabor e pela experiência de preparar inúmeros alimentos. Além da indústria alimentícia, ela também tem utilidade em outros preparos, por exemplo, cosméticos, rações animais, produtos farmacêuticos e até biocombustíveis. Tudo isso sem a típica crueldade animal da indústria tradicional. Definitivamente, é uma gordura versátil!

Na cozinha, separada do salão apenas por um vidro, pudemos presenciar o chef Vitor Asprino utilizar cinco gramas da gordura suína produzida pela Cellva para preparar a linguiça vegana da casa, que é feita de proteína da ervilha. A textura deixada pelo produto possibilitou tornar a linguiça mais hidratada, assim como, de trazer o residual de sabor característico da gordura suína para um produto 100% plant-based.

Produção da linguiça plant-based com gordura suína de laboratório
Imagem: Juan Gasparin/Reprodução

Aprovada pela maioria ali presente, as sensações foram um misto de surpresa e alegria. Ainda mais, pela memória afetiva de provar um alimento feito com gordura de origem animal, que fez parte da vida de quem há algum tempo abdica de comer animais.

Como é produzida a gordura suína de laboratório

De acordo com Bibiana Matte, CSO da Cellva, a produção da gordura começa com a extração das células de um animal vivo, de forma indolor. Essa etapa é a única que requer contato com animais, porém, é capaz de extrair milhões de células em apenas cinco gramas de gordura, é realizada apenas uma vez e não há necessidade de sacrifício dos animais. Após a extração, as células são selecionadas para o cultivo.

Em seguida, ocorre a etapa de proliferação das células. Isso significa que as células são cultivadas em biorreatores, onde recebem os nutrientes à base de plantas necessários e as condições ideais para crescerem. Nesse estágio, as células começam a se multiplicar e a formar uma população maior.

Após a proliferação, ocorre a diferenciação das células. Nessa fase, as células mesenquimais são induzidas a se transformarem em células de gordura, chamadas de adipócitos. São estabelecidas diferentes linhagens de adipócitos, que são armazenadas para uso futuro. A partir desse ponto, não é mais necessário utilizar animais vivos para obter as células de gordura.

A etapa final é o escalonamento da produção. Nesse momento, são determinadas as condições ambientais adequadas para o aumento da escala de crescimento das células de gordura. Isso significa que é possível cultivar uma quantidade maior de células de gordura em biorreatores de maior capacidade. Com o escalonamento da produção, as células de gordura cultivadas estão prontas para serem utilizadas pelas indústrias interessadas.

Produção de gordura da Cellva
Imagem: Juan Gasparin/Reprodução

Vantagens da tecnologia

Essa tecnologia traz vários benefícios em relação aos métodos tradicionais de produção de gordura de porco. É mais eficiente, causa menos impacto no meio ambiente e tem um perfil nutricional melhor. E tudo isso em apenas 21 dias! Nesse curto espaço de tempo eles conseguem cultivar essa gordura no laboratório, enquanto o processo convencional leva de 18 a 24 meses, contando o tempo de crescimento e abate dos animais. É uma solução significativa, ainda mais quando o mercado sofre com escassez e os preços das gorduras e óleos aumentam absurdamente.

A Cellva é uma empresa vegana?

Apesar de ter todo seu trabalho focado na produção de gordura suína em laboratório, processo com o mínimo de crueldade e que não usa qualquer insumo de origem animal, a startup não é vegana. 

Nas palavras de Sérgio, CEO da startup, “a Cellva é uma empresa de impacto e estamos trabalhando para entregar um produto com uma experiência agradável ao consumidor, sem prejudicar o meio ambiente e os animais“.

Tecnicamente, a gordura suína cultivada não é vegana ou mesmo vegetariana: é feita de células em crescimento retiradas de animais reais. No entanto, vale lembrar que as pessoas optam por uma alimentação vegetariana por diferentes razões. Desde preocupações com os direitos dos animais até medos sobre o uso de antibióticos, hormônios e outros insumos utilizados pela indústria. Além disso, muitas pessoas evitam alimentos de origem animal em um esforço para reduzir os danos ambientais. 

Em algumas dessas frentes, a gordura suína à base de células certamente será uma alternativa viável.

Para Crica Wolthers, CEO da Vegan Business, há um equívoco em pensar que as pessoas se tornam veganas por não gostarem de comer carne e outros alimentos de origem animal. “Isso não é uma verdade. Eu mesmo adoro pancetta e sushi. Mas me tornei vegano há muitos anos por uma questão de ética com os animais e relacionada ao meio ambiente”.

Gordura da Cellva é vegana?
Imagem: Juan Gasparin/Reprodução

Sobre a Cellva

A Cellva nasceu com o objetivo de revolucionar o mercado B2B através do cultivo de células, começando com a gordura suína. Nesse sentido, eles estão focados em oferecer ingredientes melhores para os consumidores, sem prejudicar nenhum animal. Eles têm soluções para diferentes indústrias, tudo para oferecer a melhor gordura do mercado para a sociedade.

Ao cultivar as células de gordura de porco em laboratório, a Cellva produz um produto mais consistente e de alta qualidade, e ainda reduz a necessidade de terra, água e recursos alimentares usados na criação tradicional de suínos. Acima de tudo, é uma forma sustentável e inteligente de produzir.

Em síntese, a Cellva é uma startup sensacional da América Latina, pioneira no desenvolvimento e produção de bioingredientes alimentares, começando pela gordura suína cultivada em laboratório. Eles estão na vanguarda da biotecnologia e trazem diversos benefícios em relação aos métodos tradicionais de produção. E pra fechar com chave de ouro, eles têm parcerias com empresas globais e nacionais e fazem parte da frente de aceleração da SCE em Munique, Alemanha. É sucesso na certa!

Desafios para a gordura suína de laboratório

A Cellva enfrenta um desafio significativo em relação à escalabilidade de sua produção. O objetivo ambicioso de alcançar 11 mil toneladas de gordura cultivada requer investimento financeiro para expandir as instalações e acelerar as pesquisas. Em outras palavras, a capacidade de aumentar a produção de forma significativa é crucial para atingir essa meta.

Além disso, a empresa enfrenta outro desafio importante: a aprovação regulatória da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O processo de obtenção de autorização para comercializar e vender seus produtos requer tempo e conformidade com os requisitos estabelecidos pela agência reguladora. No entanto, o CEO da Cellva acredita que demonstrações bem-sucedidas, como a que participamos no Green Kitchen, podem ajudar a acelerar o processo de aprovação junto à Anvisa.

Sérgio expressa otimismo ao afirmar que espera receber a aprovação da Anvisa até o final de 2024, no máximo. Essa é uma etapa crucial para que a Cellva possa levar seus produtos de gordura cultivada ao mercado e atender à crescente demanda por alternativas sustentáveis e éticas.

Enfrentar os desafios de escalabilidade e aprovação regulatória é fundamental para o sucesso da Cellva e para alcançar suas metas ambiciosas. A empresa está ciente da importância desses aspectos e está trabalhando diligentemente para superar esses obstáculos, garantindo assim seu lugar no mercado e contribuindo para a transformação do setor de alimentos.

Futuro da gordura suina de laboratorio
Imagem: Juan Gasparin/Reprodução

O que vem pela frente

A startup está inserida num mercado em franco crescimento. De acordo com um relatório da ResearchAndMarkets, o tamanho do mercado global de gordura de porco em 2020 era de US$ 18,9 bilhões e deve chegar a US$ 23,1 bilhões em 2026, crescendo a um CAGR de 3,2% durante o período de previsão.

Segundo o CEO e a CSO da Cellva, eles têm planos ambiciosos para expandir a capacidade de produção da gordura cultivada. No futuro próximo, eles pretendem ser capazes de produzir 150 gramas dessa gordura em um prazo semelhante ao atual.

Além disso, a Cellva tem uma visão ainda mais audaciosa para os próximos anos. Até o ano de 2030, levando em consideração a construção de uma fábrica que deve ficar pronta até o final de 2025, eles têm o objetivo de atingir uma produção de 11 mil toneladas de gordura suína cultivada. Isso representa um salto significativo em comparação com a capacidade atual da empresa.

Essa meta demonstra a ambição da Cellva em se tornar um player importante no mercado de gordura cultivada. Finalmente, com a construção da fábrica planejada, eles estarão em posição de expandir sua produção de forma significativa e atender à crescente demanda por alternativas sustentáveis e éticas para a gordura animal tradicional.

Esses planos de expansão refletem o compromisso da Cellva em fornecer soluções inovadoras para a indústria alimentícia, atendendo às demandas dos consumidores e contribuindo para a transformação do setor. Dessa forma, a startup está colocando o Brasil no mapa das biotechs de agricultura celular e construindo história.

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Imagem de capa: Juan Gasparin/Reprodução

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