O consumo de carne está excessivo e é necessário migrar para proteínas de origem vegetal para garantir o futuro da alimentação e da agricultura diante das mudanças climáticas.
Essa afirmação não veio de grupos de ativistas ambientais, mas de organizações que representam os agricultores da Europa. Em um relatório conjunto apresentado à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, 29 entidades concordaram com as conclusões após um processo de sete meses, como parte do Diálogo Estratégico sobre o Futuro da Agricultura na UE.
O documento concluiu que o modelo atual de agricultura não é viável. Para os agricultores da UE, é preciso uma intervenção política rápida e corajosa, capaz de promover práticas mais sustentáveis e enfrentar desafios como a crise climática, perda de biodiversidade, degradação do solo, inflação e questões de saúde pública.
“Precisamos fazer mais – e faremos mais – para proteger nossos agricultores e tornar o sistema agroalimentar mais resiliente, competitivo e, principalmente, sustentável”, afirmou von der Leyen ao receber o relatório.
As partes envolvidas, que incluem desde sindicatos agrícolas a grupos ambientalistas, fizeram cinco recomendações para avançar o sistema alimentar da UE: tornar o futuro mais competitivo, promover a sustentabilidade no setor agroalimentar, fortalecer a resiliência climática, aumentar a diversidade agrícola e ampliar o acesso ao conhecimento e inovação.
O relatório destacou a importância de apoiar a transição das proteínas animais para alternativas vegetais, solicitando à Comissão Europeia um Plano de Ação para Alimentos de Origem Vegetal até 2026, a fim de fortalecer essa cadeia produtiva. Outras tecnologias, como fermentação de precisão e carne cultivada, também foram mencionadas, embora ainda existam debates sobre sua segurança.
A implementação dessas recomendações dependerá das ações futuras de von der Leyen, que prometeu apresentá-las como parte de um plano agroalimentar em seus primeiros 100 dias de novo mandato. Embora grupos ambientalistas tenham acolhido bem as propostas, há cautela, dado o histórico da UE com políticas ambientais.
Como a UE pode promover dietas mais sustentáveis
O relatório destacou que o consumo de proteínas na UE, principalmente de origem animal, está acima do recomendado por órgãos de saúde. Por isso, sugere que organizações de consumidores, ONGs, autoridades de saúde e educação, e os Estados-membros colaborem para incentivar dietas mais sustentáveis e saudáveis, despertando o interesse das pessoas por padrões alimentares mais benéficos ao planeta.
Entre as medidas, estão a oferta de refeições gratuitas para crianças em escolas primárias e a implementação de programas de educação alimentar. A Comissão Europeia foi instada a avaliar se o programa escolar da UE, que atualmente promove frutas, leite e produtos lácteos, pode ser adaptado para incentivar dietas menos intensivas em recursos.
Os Estados-membros foram também incentivados a atualizar suas diretrizes alimentares para incluir a sustentabilidade. Alemanha e Áustria já fizeram isso este ano.
O relatório ainda sugere a criação de normas de rotulagem para permitir que os consumidores façam escolhas alimentares mais informadas quanto à sustentabilidade e bem-estar animal. A UE, no entanto, atualmente proíbe o uso de termos como “leite” e “queijo” em rótulos de produtos alternativos.
Uma transição justa para agricultores
A agricultura responde por 11% das emissões de gases de efeito estufa da UE, sendo 84% dessas emissões provenientes da pecuária. Apesar disso, alimentos de origem animal fornecem apenas 35% das calorias e 65% das proteínas consumidas no bloco. O setor também recebe subsídios muito maiores do que a agricultura vegetal, com 82% dos apoios financeiros no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC).
A PAC sofreu enfraquecimento em seus controles ambientais este ano, mas o relatório recomenda que os pagamentos aos agricultores estejam atrelados ao uso de práticas sustentáveis, em vez de depender apenas do cumprimento de normas ambientais já existentes. Foi sugerido um aumento significativo no financiamento climático, em resposta a demandas dos agricultores.
Diante da crise climática e da transição para uma agricultura mais sustentável, o relatório propôs a criação de um Fundo de Transição Justa Agroalimentar, separado da PAC, para apoiar financeiramente agricultores nessa adaptação.
Rafael Pinto, gestor de políticas da União Vegetariana Europeia, destacou a necessidade de apoiar essa transição com subsídios e treinamentos. “É essencial garantir que ninguém fique para trás”, afirmou.
Ações concretas são necessárias
O plano de ação para alimentos vegetais proposto foi bem recebido por entidades como a ProVeg International, que vê na iniciativa um grande avanço para o setor. No entanto, Pinto alertou que é preciso mais do que relatórios: “Sem medidas concretas, metas e financiamento, pouco impacto terá na agricultura da UE, no planeta ou na saúde das pessoas”.
Confira a matéria publicada na Green Queen.
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