A startup Galy, sediada em Boston, arrecadou US$ 33 milhões em uma rodada de investimento série B, liderada pela Breakthrough Energy Ventures, de Bill Gates. A empresa busca acelerar sua missão de praticamente eliminar o consumo de água na produção de algodão, cultivando-o em laboratórios.

Entre os investidores dessa rodada também estão grandes marcas da moda rápida, como o Grupo H&M e a Inditex, controladora de Zara, Bershka e Stradivarius. Além delas, participaram a Indorama Ventures, Endeavor Scale-up Ventures e Unreasonable. Investidores anteriores, como Eighty Eight Group (da família de John Doerr), Material Impact, Artesian, Brinc e Reaction Global, também contribuíram. Com esse aporte, a Galy já levantou mais de US$ 65 milhões no total.

A startup planeja usar o capital para expandir sua plataforma de agricultura celular e avançar na produção de seu algodão cultivado em laboratório, um material sustentável que se aproxima da qualidade e escala industrial.

“O desenvolvimento da tecnologia da Galy promete reduzir o impacto da produção de algodão em termos de uso de água, químicos e solo. Esse investimento representa um passo significativo para uma indústria têxtil mais responsável e inovadora”, comentou Óscar García Maceiras, CEO da Inditex.

Por que a indústria do algodão precisa mudar

Fundada em 2019 por Luciano Bueno (CEO) e Paula Elbl (CSO), a Galy pretende revolucionar um setor de US$ 42 bilhões, marcado por problemas ambientais e questões de direitos humanos.

O cultivo de algodão ocupa 2,5% das terras agrícolas do mundo e é responsável por 16% do uso de pesticidas a cada ano. No total, a indústria utiliza 22% dos agroquímicos globais e emite 220 milhões de toneladas de CO2 anualmente – um impacto maior que as emissões da Argentina ou dos Emirados Árabes Unidos.

No entanto, o maior problema é o consumo de água. A produção de uma única camiseta de algodão demanda água suficiente para sustentar uma pessoa por dois anos e meio. Em termos globais, isso equivale a 250 bilhões de toneladas de água usadas anualmente no cultivo do algodão.

A agricultura industrial agrava esse cenário. Tanto a H&M quanto a Inditex, que agora investem na Galy, já foram associadas a fazendas de algodão no Brasil envolvidas em desmatamento ilegal e conflitos de terra.

García Maceiras destacou que, ao investir em tecnologias inovadoras para produzir fibras de próxima geração, suas empresas não apenas caminham rumo a materiais de menor impacto ambiental, mas também moldam a transformação do setor.

O processo inovador da Galy

A Galy utiliza células de algodão, cultivando-as em biorreatores e alimentando-as com açúcar. Após atingir o volume necessário, genes específicos são ativados ou desativados para transformar as células em fibras de algodão. Esse processo é 10 vezes mais rápido, 500 vezes mais produtivo e utiliza 99% menos água, 97% menos terra e emite 77% menos CO2 do que o cultivo tradicional. A meta da Galy é proteger o algodão dos impactos adversos das mudanças climáticas.

O setor adota o algodão de laboratório da Galy

O CEO da Galy, Luciano Bueno, enfatizou que as mudanças climáticas estão revelando a fragilidade das cadeias de suprimentos agrícolas. Além do algodão, a Galy tem planos de aplicar sua tecnologia na produção de cacau e café cultivados em laboratório.

“Infelizmente, não é uma questão de ‘se’, mas de ‘quando’. O mundo enfrentará uma maior volatilidade na agricultura convencional à medida que eventos climáticos extremos se tornem mais frequentes”, disse Bueno. “Quando isso acontecer, a Galy estará preparada.”

Carmichael Roberts, da Breakthrough Energy Ventures, afirmou que a agricultura é um dos setores mais impactados pelas mudanças climáticas, além de ser uma grande fonte de emissões de gases de efeito estufa. Ele destacou que a tecnologia da Galy oferece uma solução para esses desafios, melhorando a eficiência de recursos e criando resiliência climática.

Além dos novos investidores, a Galy já conta com o apoio de nomes como Hydrazine Capital (fundada por Sam Altman, da OpenAI), Tony Fadell’s Build Collective e Tim Draper’s Ventures Lab. Agora, a startup busca escalar sua produção, que atualmente está na casa dos quilogramas. No entanto, ela já garantiu acordos de prova de conceito com líderes da indústria, além de um contrato de US$ 50 milhões com a Suzuran Medical, que terá duração de 10 anos.

Martin Ekenbark, do H&M Group, que concedeu €300 mil à Galy em 2020 como parte de seu Global Change Award, afirmou: “O algodão cultivado em laboratório da Galy está prestes a fazer uma grande diferença e pode reduzir a dependência do algodão virgem.”

Ekenbark acrescentou que cerca de 60% dos materiais usados pela H&M são algodão e que a empresa tem grandes ambições de que todos os seus materiais sejam reciclados ou sustentáveis até 2030. Por isso, a parceria com a Galy faz todo o sentido.

Confira a matéria publicada na Green Queen.

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