A indústria de carne cultivada, que ganhou considerável interesse nos últimos anos, está em destaque em um relatório publicado pela empresa de finanças corporativas do Reino Unido, Oghma Partners. O relatório aponta um crescimento notável nos investimentos nesse setor, mas também prevê um possível movimento de consolidação entre os principais players.

As startups de carne cultivada começaram a surgir no final da década de 2010, com investimentos na casa dos 176 milhões de dólares de 2016 a 2019. No período de 2020 a 2021, esse número saltou para mais de 2,15 bilhões de dólares. A Oghma Partners estima que o investimento total nessa indústria já ultrapassa os 3,17 bilhões de dólares.

Mark Lynch, sócio da Oghma Partners, destaca que esse investimento maciço levou a um aumento nos gastos com capital e expansões de instalações. Muitas empresas estão ampliando sua capacidade de produção e investindo em pesquisa e desenvolvimento. No entanto, Lynch observa que, embora esses investimentos tenham potencial para acelerar o lançamento de produtos no mercado, está ficando mais difícil para as empresas obterem financiamento adicional em 2023.

De acordo com o relatório, é provável que a indústria passe por uma consolidação, de maneira semelhante ao que ocorreu na indústria de carne vegetal. Uma pequena proporção de empresas obteve a maior parte do financiamento, com a UPSIDE Foods recebendo sozinha cerca de 676,57 milhões de dólares, representando 21,5% do financiamento global. As cinco principais empresas do setor, incluindo UPSIDE Foods, Believer Meats, Wildtype, Aleph Farms e Mosa Meat, responderam por 46,9% dos recursos arrecadados.

Outro ponto destacado no relatório é que apenas dois países, Estados Unidos e Singapura, aprovaram a venda de carne cultivada até o momento. Dentre esses, apenas duas empresas obtiveram aprovação regulamentar: Eat Just’s GOOD Meat em ambos os países e a UPSIDE Foods nos Estados Unidos. A obtenção da aprovação dos EUA é particularmente relevante devido ao tamanho do mercado consumidor nesse país.

Há indícios de que outros países podem seguir o exemplo e considerar a aprovação da venda de carne cultivada. O Reino Unido busca acelerar o processo visando maior segurança alimentar, enquanto os Países Baixos recentemente se tornaram o primeiro país europeu a permitir degustações de carne cultivada. Israel também demonstrou apoio ao setor com um investimento de 18 milhões de dólares em pesquisas relacionadas à carne cultivada.

Os Estados Unidos estão liderando o caminho na indústria de carne cultivada, atraindo o maior número de investidores e produtores. Um ambiente regulatório favorável e facilidade de negócios estão tornando os EUA um centro para atividades industriais. Lynch aponta que várias empresas estrangeiras estão buscando realocar ou transferir operações para os EUA. Israel e o Reino Unido também se destacam no cenário global, refletindo tanto a inovação em suas indústrias alimentares e universidades quanto a disponibilidade de capital combinada com um ambiente regulatório flexível.

O relatório da Oghma Partners sinaliza tanto o crescimento notável quanto a necessidade de financiamento contínuo e a possibilidade de consolidação na indústria de carne cultivada, enquanto essa alternativa à carne convencional continua a ganhar terreno.

Imagem de capa: Unsplash

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Por Nadia Gonçalves em 31 de outubro
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