The Vegan Society reconhece que a carne cultivada oferece potenciais benefícios, como a redução do abate e do sofrimento animal, melhorias ambientais (menor uso de água e terra, e redução de emissões de gases de efeito estufa), diminuição dos riscos de doenças zoonóticas e menor resistência a antibióticos. No entanto, a organização afirma: “Carne cultivada não é vegana. E, além disso, pode nunca ser considerada vegana.”

Em um novo relatório, a The Vegan Society aborda as interseções entre veganismo, ética e carne cultivada, destacando os desafios éticos que impedem seu alinhamento com os princípios veganos.

Do futuro ficcional à realidade

O documento também apresenta uma visão geral da tecnologia, que passou de uma ideia futurista para uma realidade aprovada em países como Singapura, Estados Unidos e Israel. Atualmente, a carne cultivada já é servida em restaurantes de Hong Kong e aprovada como ingrediente para alimentos para pets no Reino Unido.

“O veganismo, como filosofia, busca acabar com a exploração e crueldade contra os animais não humanos. Assim, é compreensível que alguns veganos vejam potencial na tecnologia. No entanto, conforme nossa posição deixa claro, carne cultivada não é vegana,” reforça a organização.

O uso contínuo de animais

A The Vegan Society critica o especismo, ideia que justifica a exploração animal com base na superioridade humana. O veganismo busca alternativas livres de exploração animal em alimentos, roupas e entretenimento, visando beneficiar não apenas os animais, mas também os seres humanos e o meio ambiente.

A carne cultivada, no entanto, não se alinha plenamente com essa visão, já que depende de células extraídas de animais para crescer em biorreatores. Embora a tecnologia possa reduzir o número de abates, ainda utiliza animais, o que vai contra o princípio de abolir totalmente a exploração animal.

Mesmo que no futuro seja possível criar linhas celulares independentes de animais, atualmente os animais usados no processo seguem em condições tradicionais de criação, segundo o relatório.

Além disso, a The Vegan Society aponta que a carne cultivada pode beneficiar empresas tradicionais de carne, como Cargill e Tyson, sem resolver problemas ligados à exploração de animais para outros fins, como leite, ovos, lã e couro.

“Até o momento, o processo de produção de carne cultivada não é suficiente para que a apoiemos. Já existem inúmeras alternativas veganas à carne que não dependem de células animais ou de carne cultivada — alternativas mais éticas estão disponíveis,” argumenta a organização.

Opiniões divergentes e recomendações

O relatório também inclui opiniões diferentes sobre ética animal e carne cultivada. Dr. Corey Lee Wrenn, sociólogo da Universidade de Kent, e Dr. Chris Bryant, cientista social e diretor da Bryant Research, compartilham perspectivas que podem ser acessadas no documento completo.

A The Vegan Society também recomenda que empresas veganas:

  • Promovam rótulos claros para garantir que os consumidores saibam a origem dos produtos.
  • Acompanhem o impacto da tecnologia sobre os animais utilizados no processo de carne cultivada, discutindo seu bem-estar.
  • Realizem mais pesquisas para compreender melhor a opinião dos veganos sobre a carne cultivada.
  • Desenvolvam campanhas que enfatizem as limitações dessa tecnologia como solução para a crise climática.

“Embora esses produtos utilizem células iniciais derivadas de animais, eles não são veganos. Entendemos que esse é um setor em rápido desenvolvimento, e continuaremos monitorando os avanços,” conclui a The Vegan Society.

Confira a matéria publicada no vegconomist.

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