Um novo movimento de mercado que está surgindo

É cada vez mais comum conhecer alguém que está fazendo a transição (total ou parcial) para uma alimentação vegana ou vegetariana, ou conhecer de algum novo negócio que está sendo lançado se aproveitando desse novo movimento do mercado. Os novos produtos ou serviços que estão surgindo prometem ser mais sustentáveis, não causam nenhum impacto aos animais e, cada vez mais, aproximam os alimentos da sua forma natural e não processada.

Uma pesquisa realizada em 2018 pela Innova Market Insights, empresa líder em pesquisa de mercado no setor alimentício, revelou que 43% dos brasileiros alegam ter aumentado o consumo de frutas e verduras em busca de melhorar a saúde e de adotar um estilo de vida mais saudável. O número de respondentes sobe para 48% na França, e 55% na China.

A crescente preocupação, por parte do mercado consumidor, em (1) melhorar a saúde e, de forma geral, adotar um estilo de vida mais saudável e natural; e também em (2) minimizar o impacto causado pelos produtos que estão sendo consumidos, seja para o meio ambiente, ou para os animais; está estimulando toda a indústria alimentícia a investir pesado em mudar o modelo de negócios que prevalece, e se adaptar às novas demandas.

Na categoria de leites vegetais, por exemplo – os mais conhecidos sendo os leites de soja, arroz, amêndoas, côco e aveia – a consultoria de pesquisa de mercado Mintel estima que o mercado nos Estados Unidos tenha crescido cerca de 60% desde 2012, a venda desses produtos chegando a US$ 2.1 bilhões em 2017. No mesmo período, no entanto, a venda de leite convencional recuou em 15%.

E quais são as barreiras atuais para esses mercados?

Essas categorias de produtos, apesar de já presentes em todo o mundo e com alto nível de crescimento, ainda chegam quase que exclusivamente a grupos de populações de maior renda, e ainda não atingiram as massas. Existem diversas razões pra isso, mas podemos basicamente resumir em 3 fatores principais:

  1. Custo mais alto que o dos produtos convencionais, que ainda se mantém por conta (a) da escala / tamanho das companhias do setor, o que garante toda uma cadeia de suprimentos mais eficiente por conta do volume, e (b) do sucesso obtido por essas companhias com o exercício de lobby político, o que tem garantido um fluxo constante de subsídios governamentais que mantém os custos artificialmente baixos para o consumidor final;
  2. Conhecimento pouco difundido no mercado consumidor (principalmente dentre as classes de baixa renda) à respeito dos impactos dos produtos convencionais para a saúde das pessoas, e dos benefícios de uma dieta à base de plantas. Um dos fatores mais relevantes que geram isso é o massivo poder financeiro das companhias mais tradicionais, que acabam influenciando desde médicos individuais – como os responsáveis pelas recomendações nutricionais oficiais de um país – a até mesmo legislação específica para proteger o setor – como por exemplo a lei americana que proíbe o registro fotográfico ou em vídeo da operação em matadouros e fábricas de extração de leite nos Estados Unidos; e, finalmente
  3. Sabor e conveniência dos produtos alternativos quando comparados aos produtos convencionais, com os quais estão competindo – pesquisas mostram que os consumidores esperam que essas companhias tragam inovações que sejam mais saudáveis e que possuam menos impacto ambiental, mas também eles esperam que a experiência e a satisfação ao consumir o produto seja mantida.

O que esperar do futuro?

Quando conversamos com os empreendedores por trás das companhias que estão comandando a inovação no setor de alternativos, e também com os investidores que estão por trás das principais iniciativas, a visão geral é muito otimista. É um consenso a crença de que é só uma questão de tempo até que os desafios citados sejam superados, e essas categorias cheguem às massas em um custo competitivo.

Essa crença está se mostrando real à medida que o crescimento acelerado dessas companhias, junto com a constante inovação tecnológica tanto em produtos quanto em métodos de produção, têm baixado os custos de forma importante, e não estamos longe de ter produtos que são não só competitivos desde o ponto de vista de custo, mas também experiência sensorial pelo consumidor.

Não temos uma bola de cristal para dizer o que o futuro reserva, mas acredito que é uma certeza o fato de que essas categorias vão se consolidar na indústria alimentícia, e que as companhias que não investirem, ou que fecharem a cabeça para esse tipo de negócio não vão prosperar. Eu vejo uma tendência muito clara de que essa é uma demanda por parte dos consumidores que só tende a crescer, e que vai levar toda a indústria junto. 

Sobre o autor:Caio Malufe é um profissional de investimentos que atua nos mercados agro e de alimentos há cerca de 10 anos. Junto com sua esposa, Giovana, divulga informações sobre saúde, qualidade de vida, e um estilo de vida Plant-Based no canal de Instagram @MovingWithPlants e também no www.movingwithplants.com. Para entrar em contato, mande um e-mail para [email protected].  

Por Caio Malufe em 7 de março
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