Um programa de cinco anos, apoiado pelo governo da Nova Zelândia, pretende desenvolver novos sistemas de produção de células de peixes para frutos do mar cultivados no país.
Com um investimento de NZ$ 9,6 milhões (US$ 5,95 milhões) do governo central, o novo programa do Fundo Endeavour permitirá à Plant & Food Research criar produtos inovadores de frutos do mar em um contexto local.
A Plant & Food Research é uma agência estatal de pesquisa focada em preparar e aumentar o valor das indústrias de horticultura, agricultura, pesca, alimentos e bebidas. Segundo a agência, frutos do mar cultivados podem ajudar a Nova Zelândia a atender à crescente demanda global por produtos marinhos mais sustentáveis, como o colágeno.
O projeto também analisará os aspectos sociais e culturais relacionados à aceitação de peixes cultivados na Nova Zelândia, incluindo as perspectivas e preocupações dos povos Māori em relação às espécies taonga (consideradas significativas para a cultura Māori, como o atum, lagosta e mexilhões).
Pesquisadores esperam criar peixes cultivados e colágeno
A Plant & Food Research tem como objetivo “mudar fundamentalmente a forma” como as células de peixes cultivados são utilizadas para acelerar o progresso da indústria, desbloquear novas aplicações e colocar a Nova Zelândia na “vanguarda tecnológica no desenvolvimento de linhas celulares e formulação de meios de cultura”.
O projeto será liderado pela Dra. Georgina Dowd, chefe de pesquisa em aquacultura celular da agência. “Existem muitas aplicações para linhas celulares,” ela afirmou em 2022. “Prevenir e monitorar doenças é provavelmente a maior delas.”
Ela acrescentou: “É apenas uma questão de tempo até que uma das doenças notificáveis à OIE (Organização Mundial da Saúde Animal) chegue aqui e impacte nossa indústria de frutos do mar. A menos que estabeleçamos sistemas e mecanismos adequados, estamos realmente em risco.”
Segundo a agência de pesquisa, as células precisam ser viáveis, saudáveis, se multiplicarem rapidamente e em grandes quantidades. Além disso, o meio de cultura deve ser definido, livre de produtos de origem animal e produzido de forma sustentável. No entanto, as atuais linhas celulares e meios de cultivo de peixes não atendem a esses requisitos.
Embora várias empresas estejam trabalhando em frutos do mar cultivados – como a Umami Bioworks, de Singapura, e a Bluu Seafood, da Alemanha – ainda não houve a comercialização efetiva desses produtos, evidenciando as “bases instáveis” da agricultura celular de frutos do mar e a falta de viabilidade comercial dessa tecnologia, de acordo com a Plant & Food Research.
Com o investimento recebido, a equipe de Dowd espera expandir o conhecimento sobre culturas de células de peixes e aprofundar a compreensão de suas necessidades nutricionais, facilitando um isolamento e uma proliferação aprimorados. Assim que os requisitos ideais de cultura forem identificados, será possível desenvolver fontes naturais de nutrientes para duas aplicações: peixes cultivados e colágeno à base de células.
“Seria ótimo se outros pudessem usar as linhas celulares de peixes contínuas desenvolvidas na Plant & Food Research como parte de uma estratégia de gestão da saúde dos peixes que não envolva o uso de animais inteiros,” disse Dowd há dois anos. “Ou se nossas linhas celulares pudessem ser usadas para criar produtos de peixe cultivados em laboratório para consumo humano, ajudando a apoiar uma indústria de baixo impacto para compartilhar nosso kaimoana (alimento marinho) com o mundo.”
Por que o setor de frutos do mar da Nova Zelândia precisa de uma reformulação
O financiamento concedido à Plant & Food Research faz parte do Fundo Endeavour, uma iniciativa do Ministério de Negócios, Inovação e Emprego que, este ano, investiu NZ$ 236 milhões (US$ 146 milhões) em 19 programas de pesquisa e 53 projetos Smart Ideas, que visam estimular e testar inovações de alto potencial.
Isso inclui quatro projetos Smart Ideas da Plant & Food Research. Um deles está focado em desenvolver métodos para examinar a vulnerabilidade do solo e apoiar práticas sustentáveis de gestão. Outro investiga o microbioma das vinhas para controlar doenças do tronco das videiras. Um terceiro projeto explora o uso de compostos da espécie de kiwi silvervine para controlar populações de gatos selvagens. O quarto projeto busca desenvolver um “relógio epigenético” para apoiar a gestão sustentável das pescarias de pāua (caracóis marinhos).
A indústria de aquacultura da Nova Zelândia tem como meta quadruplicar suas vendas até 2035, mas as mudanças climáticas e o aumento das temperaturas do mar podem resultar em grandes perdas financeiras para o setor. Especialistas sugerem que o impacto da pesca excessiva no comércio de peixes do país tem sido subestimado.
No ano passado, a indústria de pesca de arrasto da Nova Zelândia foi alvo de críticas após um relatório, encomendado pelo governo, apontar essa prática como uma das maiores ameaças ao aumento da liberação de carbono do fundo do mar para as águas oceânicas. Preocupações com a gestão de estoques também levaram a Seafood NZ a suspender a certificação do Conselho de Manejo Marinho para o peixe laranja, bloqueando as exportações para a maior parte da Europa e América do Norte.
Os consumidores estão conscientes do impacto das mudanças climáticas na indústria pesqueira e vice-versa. Uma pesquisa global recente com 22 mil pessoas mostrou que 30% delas diminuíram o consumo de frutos do mar nos últimos dois anos, com quase metade (48%) preocupada com a pesca excessiva e 35% com os impactos das mudanças climáticas.
Mais de 80% das pessoas mudaram seus hábitos alimentares nesse período, e 43% o fizeram por razões de sustentabilidade, ressaltando a importância de investimentos em projetos como o da Plant & Food Research.
Este é também um mercado inexplorado na Nova Zelândia – atualmente, apenas uma empresa local (Opo Bio) está trabalhando com carne cultivada, mas focada em carnes vermelhas. No entanto, os neozelandeses podem estar prestes a experimentar carne cultivada pela primeira vez, uma vez que a startup australiana Vow está prestes a receber autorização do órgão regulador conjunto dos dois países.
Confira a matéria publicada na Green Queen.
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