Quase quatro anos após seu lançamento, a versão vegana do KitKat será retirada do mercado devido às baixas vendas, representando um revés tanto para a indústria de produtos plant-based quanto para as metas climáticas da Nestlé.
O chocolate sem laticínios já não era encontrado em lojas ou online há algum tempo, e a Nestlé confirmou que o KitKat V será descontinuado em todos os países, exceto no Reino Unido.
“Sabemos que o KitKat vegano era popular entre consumidores que buscavam alternativas sem laticínios. No entanto, as vendas caíram a ponto de tornar sua produção insustentável, complicando nossas operações de fabricação”, declarou um porta-voz da Nestlé ao portal Green Queen.
A empresa afirmou que o segmento de chocolates veganos ainda é um nicho, com os produtos tradicionais dominando as vendas da categoria. “Nosso foco para o futuro será nos clássicos sabores de chocolate, que continuam sendo a escolha preferida dos consumidores”, acrescentou.
A Nestlé não confirmou se a continuidade do KitKat V no Reino Unido se deve a estoques remanescentes ou se a produção seguirá ativa para esse mercado.
Impacto nas metas climáticas da Nestlé
O KitKat V foi lançado em 2021 em resposta à demanda dos consumidores. “Uma das solicitações mais frequentes que recebemos nas redes sociais é por um KitKat vegano”, disse na época Alexander von Maillot, então chefe da divisão de confeitaria da Nestlé.
Feito à base de arroz e com ingredientes como manteiga de cacau, farinha de trigo, fibra de milho e gorduras vegetais, o produto teve boa aceitação inicial e, em 2022, sua produção foi ampliada para 800 mil unidades diárias.
O lançamento representou um marco na confiança da Nestlé no mercado vegano, já que a empresa investiu na criação de uma versão sem laticínios de um de seus produtos mais icônicos. A cada segundo, cerca de 560 barras de KitKat são consumidas globalmente.
Além de atender à crescente demanda por alternativas vegetais, o KitKat V fazia parte do plano da Nestlé de alcançar emissões líquidas zero até 2050. A versão vegana tem 18% menos impacto ambiental do que o KitKat tradicional, o que poderia trazer benefícios significativos caso conquistasse uma fatia relevante do mercado. No entanto, as vendas não atingiram as expectativas da empresa, colocando o futuro do produto em dúvida.
Custos altos e mudanças no mercado de chocolates
O KitKat completa 90 anos em 2025, mas a indústria do chocolate enfrenta desafios históricos em sua cadeia de suprimentos, agravados pelas mudanças climáticas. A alta demanda global tem levado ao desmatamento em Gana e na Costa do Marfim, os dois maiores produtores de cacau. Se nada mudar, estima-se que apenas um terço das árvores de cacau sobreviverá até 2050.
Essa crise tem impactado os preços, com os contratos futuros de cacau atingindo recordes. Em dezembro de 2024, o preço do cacau em Nova York chegou a US$ 12.931 por tonelada, reflexo da escassez de oferta pelo quarto ano consecutivo na África Ocidental. Os estoques globais de cacau estão no nível mais baixo da última década e os preços devem permanecer altos em 2025.
O KitKat V já era mais caro do que a versão tradicional, mas também mais sustentável. No entanto, sua jornada como um produto de menor impacto ambiental agora está incerta, especialmente após a Nestlé abandonar a promessa de torná-lo carbono neutro até 2024, devido a acusações de greenwashing.
Concorrência aposta no mercado vegano
Embora a Nestlé esteja se afastando do segmento de chocolates plant-based, suas concorrentes europeias continuam investindo nele. A Lindt já oferece diversas opções sem laticínios, incluindo barras com leite de aveia, trufas Lindor e produtos da linha Hello!. Ritter Sport e Cadbury também mantêm alternativas veganas há algum tempo.
A Ferrero, por sua vez, lançou uma versão vegana da Nutella em 2023, após anos de demanda do público e tentativas de concorrentes que não conseguiram replicar o sabor original. A empresa também começou recentemente a distribuir uma versão plant-based de seu wafer Hanuta.
Além disso, Nestlé e outras fabricantes de chocolate estão envolvidas em uma disputa legal contra a confeitaria alemã Katjes, que detém a patente de chocolates com leite de aveia, um indicativo de que os produtos veganos ainda despertam grande interesse no setor.
Com a ascensão dos chocolates sem cacau, uma alternativa mais sustentável e inovadora, o futuro dos doces amigáveis ao meio ambiente continua promissor – mesmo com a decisão da Nestlé de descontinuar o KitKat vegano.
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