A China deu um passo significativo no setor de proteínas alternativas com a abertura de seu primeiro centro dedicado à carne cultivada e a produtos derivados de fermentação. O projeto, localizado no Centro de Pesquisa Abrangente de Alimentos de Carne, em Pequim, é fruto de uma parceria entre o governo do distrito de Fengtai e o grupo de processamento de carne Shounong Food Group, com um investimento de ¥80 milhões (cerca de US$ 10,9 milhões).

O objetivo do centro é integrar recursos públicos e privados para impulsionar a pesquisa, a inovação e a industrialização de alimentos do futuro. Durante a cerimônia de inauguração, Cui Xulong, vice-prefeito do distrito de Fengtai, destacou que a nova base de inovação científica e tecnológica ajudará a transformar resultados de laboratório em soluções escaláveis e comercialmente viáveis.

Fengtai consolida liderança em biotecnologia alimentar

O centro conta com uma plataforma avançada de pesquisa e desenvolvimento para alimentos inovadores, como carne cultivada. Atualmente, possui uma linha celular de 200 litros para produção de carne cultivada e uma linha de 2.000 litros para proteínas microbianas. No futuro, planeja expandir para duas linhas celulares de 2.000 litros e três linhas de produção de proteínas microbianas com capacidades de 2.000 e 5.000 litros.

Como o primeiro centro de inovação tecnológica em nível nacional para carne cultivada na China, o projeto promete abrir “possibilidades ilimitadas” para o desenvolvimento da indústria. A pesquisa será focada em engenharia celular e biologia sintética, combinando avanços tecnológicos, aplicações industriais e um ecossistema de inovação.

Produtos como barras proteicas à base de microrganismos, tofu fermentado com micróbios e cortes de carne marmorizada cultivada foram apresentados como exemplos das possibilidades do centro.

Fengtai vem se destacando no setor de biotecnologia alimentar. Em maio, o distrito implementou medidas políticas para integrar recursos, aumentar a produtividade e acelerar o desenvolvimento da indústria alimentícia. Isso levou à criação do primeiro parque industrial de alimentos do futuro na região, atraindo institutos de pesquisa, empresas de todos os elos da cadeia produtiva e associações do setor.

O distrito também planeja usar tecnologias de inteligência artificial e blockchain para monitorar em tempo real a cadeia completa de produção, processamento e vendas de alimentos do futuro, garantindo maior segurança alimentar.

China aposta em proteínas alternativas para segurança alimentar e sustentabilidade

O novo centro reflete a estratégia nacional da China de fortalecer sua bioeconomia e indústrias de biomanufatura, além de contribuir para a segurança alimentar do país.

A China é o maior consumidor de carne do mundo, respondendo por 28% do crescimento global no consumo da última década. No entanto, especialistas preveem que metade da proteína consumida no país precisará vir de fontes alternativas até 2060 para alcançar metas de descarbonização.

Atualmente, mais de 60% da proteína consumida na China já vem de vegetais, frutas, feijões, nozes e sementes. Uma pesquisa recente revelou que 98% dos consumidores chineses considerariam aumentar o consumo de alimentos de base vegetal ao conhecer seus benefícios, impulsionados pela grande população flexitariana do país, que compõe um terço do total.

Empresas como CellX, Joes Future Food e Jimi Biotech estão liderando o setor de carne cultivada na China. O avanço do país nesse campo tem atraído atenção internacional, com líderes políticos dos EUA incentivando uma resposta à crescente influência chinesa em biotecnologia.

Impacto global da iniciativa da China

Os planos quinquenais da China já incentivam pesquisas em carne cultivada e proteínas recombinantes. O presidente Xi Jinping, por sua vez, promove uma visão alimentar ampla que inclui fontes de proteína vegetal e microbiana.

Segundo Mirte Gosker, diretora do Good Food Institute APAC, a influência da China no setor de alimentos do futuro não pode ser subestimada. “Assim como os investimentos chineses em energias limpas impulsionaram a adoção global de veículos elétricos e painéis solares, a liderança do país no setor de proteínas alternativas pode reduzir custos de produção e transformar produtos de nicho em itens de consumo em massa”, afirmou.

A inauguração do centro chinês ocorreu poucos dias antes da abertura do Centro de Proteína Sustentável, do Bezos Earth Fund, no Imperial College London, que também se dedicará a pesquisas sobre fermentação de precisão, carne cultivada, bioprocessos e inteligência artificial.

Confira a matéria publicada no Green Queen.

Leia também:

Atomo capta US$ 7,8 milhões para expandir café híbrido sustentável

Organic Valley lança linha de cremes vegetais à base de aveia

Alfa Laval lança centro de inovação para soluções proteicas sustentáveis

Compartilhe:
Faça parte da comunidade da Vegan Business no WhatsApp: Notícias | Investidores