Se governos e investidores aplicassem a mesma quantia em alimentos plant-based que em veículos elétricos (EVs) e energia verde, os primeiros gerariam os maiores retornos em termos de redução de emissões de gases de efeito estufa.

Cada US$ 1 bilhão investido em empresas focadas na transição para um sistema alimentar plant-based resultaria na mitigação de 28 milhões de toneladas de CO2e (dióxido de carbono equivalente), um retorno cinco vezes maior do que o de energias renováveis (5 milhões de toneladas) e EVs (7 milhões de toneladas), segundo um relatório da Tilt Collective e da Systemiq.

O estudo também destaca que os benefícios climáticos de financiar o avanço dos alimentos plant-based superam significativamente os ganhos obtidos com o aprimoramento das práticas de produção pecuária.

“A transição para um sistema alimentar plant-based oferece um retorno espetacular como investimento climático – os benefícios são claros”, afirmou Sarah Lake, CEO da Tilt Collective.

O sistema alimentar é responsável por cerca de um terço das emissões globais, tendo gerado 13 gigatoneladas de CO2e em 2019, mais que os setores de indústria e transporte juntos, segundo a ONU.

Apesar do impacto significativo, o relatório ressalta que o setor de alimentos plant-based ainda recebe investimentos insuficientes, especialmente em comparação com o seu potencial de mitigação das mudanças climáticas.

Investir em alimentos plant-based é mais eficaz que melhorar a pecuária

Atualmente, os métodos de produção de alimentos são extremamente ineficientes. A agricultura animal utiliza 80% das terras cultiváveis, mas responde por apenas 18% das calorias e 38% das proteínas consumidas globalmente. Ela também contribui para 57% das emissões do sistema alimentar, mais que o dobro das associadas à produção de alimentos vegetais.

O estudo revela que, mesmo com o investimento em tecnologias para reduzir o impacto da pecuária, os retornos são modestos quando comparados aos da transição para um sistema alimentar plant-based. Esta mudança oferece 2,5 vezes mais redução de emissões por dólar investido do que melhorias na produção animal e agrícola.

Além disso, a redução do desperdício de alimentos também se destaca como uma solução climática altamente eficaz, sendo responsável por cinco vezes mais emissões do que todo o setor da aviação.

O relatório projeta um cenário otimista em que 80% da população adota uma dieta plant-based até 2050. Esse cenário resultaria na diminuição de 71% das emissões agrícolas, evitando o aumento para 21 gigatoneladas em 2050.

Benefícios adicionais de uma transição para alimentos plant-based

Além da redução de emissões, a mudança para uma dieta plant-based traria outros benefícios ambientais e econômicos. O relatório prevê que, ao adotar uma dieta mais sustentável, cerca de 1,6 bilhão de hectares de terra seriam liberados, reduzindo a perda de biodiversidade em 40% e possibilitando o sequestro de até quatro gigatoneladas de carbono até 2050.

O uso de água também diminuiria em um terço, economizando 1.100 km³ de água, equivalente ao consumo atual dos EUA e da China. Isso reduziria a poluição por nutrientes em 40% e geraria uma economia anual de US$ 140 a 240 bilhões para agricultores.

Do ponto de vista da saúde pública, uma alimentação plant-based aumentaria a expectativa de vida saudável em 150 milhões de anos e economizaria US$ 3,4 trilhões em produtividade econômica até 2050, devido à redução de doenças crônicas, resistência antimicrobiana e riscos de pandemias.

Necessidade de mais investimentos

Apesar de todos esses benefícios, o investimento para a transição para um sistema alimentar sustentável é insuficiente. Enquanto as proteínas alternativas recebem US$ 3,4 bilhões em investimentos públicos e privados por ano, o setor de energias renováveis, por exemplo, recebeu US$ 11,6 bilhões em 2023 apenas de capital de risco.

O relatório da Tilt Collective e da Systemiq indica que o setor de proteínas alternativas precisaria de US$ 160 bilhões em investimento anual até 2050, muito acima dos atuais 2% desse valor.

Organizações filantrópicas podem desempenhar um papel crucial nesse processo. Investimentos iniciais de US$ 250 a 500 milhões desse setor poderiam atrair entre US$ 4 a 7 bilhões em capital público e privado, segundo o estudo.

Uma dessas iniciativas é o Bezos Earth Fund, que já destinou US$ 1 bilhão para o programa Future of Food, incluindo US$ 100 milhões para três centros de pesquisa em proteínas alternativas ao redor do mundo.

Andy Jarvis, diretor da iniciativa, afirma que esse tipo de investimento filantrópico pode catalisar ações governamentais e do setor privado para atingir as metas climáticas e melhorar a saúde e nutrição global.

Confira a matéria publicada na Green Queen.

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