A Merck é uma empresa multinacional farmacêutica que elaborou um relatório onde fala sobre a aceitação da carne cultivada e como esse produto se tornou um divisor de águas. Apesar da empresa não produzir carne cultivada, essa multinacional foca na tecnologia para permitir o escalonamento e a produção segura desse alimento.
É interessante mencionar que o relatório se concentrou nos cientistas, investigando seus pontos de vista a respeito desse produto, em vez do consumidor final, pois já existem pesquisas nesse campo.
O estudo apontou que — racionalmente falando — o mundo está preparado para a carne cultivada, devido à escassez de recursos, mudanças climáticas e as questões éticas relacionadas ao bem-estar animal. É destacado: “A carne é uma cultura e também um produto material — e agora mais do que nunca, é uma questão ética”.
Pensando nesse assunto, a consultoria Kearney também prevê que até o ano de 2040 a comercialização de carne à base de plantas e carne cultivada irão superar as vendas de carne de origem animal.
A aceitação da carne cultivada pelos cientistas
A Merck fez um estudo com 166 cientistas de diversos países que não trabalhavam para a empresa, o resultado foi que a maioria já sabia sobre esse produto (83%), sendo que uma baixa porcentagem (17%) nunca ouviu falar sobre esse alimento.
Os profissionais também foram questionados se eles estariam abertos a experimentar a carne cultivada, ao que 66% respondeu que sim e 5% rejeitou essa ideia, entretanto 19% não havia decidido.
Quais os motivos pelos quais as pessoas comem carne de origem animal?
O relatório também abordou os motivos pelos quais as pessoas podem querer comer carne de origem animal, alegando que ter a compreensão desse fato pode auxiliar a indústria de carne alternativa a ter mais sucesso em reduzir o consumo do produto de origem animal e conscientizar as pessoas.
Para isso, utilizou de uma pesquisa do psicólogo João Graça, esse profissional apontou que há quatro motivos pelos quais as pessoas se alimentam de carne de origem animal.
São os seguintes: hedonismo (consumo por prazer), direito (acreditar que os humanos têm o direito consumir animais), dependência (pensar que o consumo da carne é necessário para o bem-estar) e afinidade (não existem sentimentos negativos ao ingerir o produto).
Dessa forma, é possível que a indústria de carne alternativa pense em como conscientizar os consumidores a respeito desses pontos.
Possível desafio para a carne cultivada
Os cientistas pesquisados apontaram que existe um desafio, relacionado a aceitação da carne cultivada, pelo público-geral.
Um dos motivos pelos quais as pessoas podem rejeitar a carne cultivada é a visão de que o alimento “não é natural”, tendo sido produzido no laboratório.
É dito: “Os humanos modernos acreditam que a naturalidade é uma qualidade muito atraente. Quanto mais removidas nossas vidas, nosso trabalho e nossa comida são da natureza, e quanto mais incerto e imprevisível o mundo parece ser, mais desejamos o natural”.
É informado que essa imagem é reforçada pela publicidade, que mostra imagens de vacas alegres em um pasto, tudo aparentando naturalidade, quando o processo de produção de carne de origem animal também é industrializado.
Entretanto, a crise climática está trazendo novas emoções na concepção de mundo das pessoas.
Rotular produtos como “naturais” ou “não naturais” falha em fazer justiça, destacou o estudo
O relatório dá sua contribuição ao tópico: “Rotular produtos simplesmente como ‘natural’ ou ‘não natural’ falha em fazer justiça as múltiplas dimensões deste tópico, com todas as inter-relações e conflitos que isso acarreta. Essa simplificação é realmente contraproducente”.
Aqui entram também as emoções que sentimos ao ver a destruição causada na natureza, como raiva, tristeza e medo, isso faz com que as pessoas se sintam impotentes com relação a todo esse cenário.
Portanto: “A questão de saber se algo é como na natureza está se tornando menos importante. Mais relevante é se algo é bom ou ruim para a natureza”.
Aqui vale lembrar uma coisa: a carne cultivada tem o potencial de ser melhor para os animais (quando não utiliza o soro fetal bovino, não causa sofrimento) e também para o planeta.
Carreiras em carne cultivada
A carne cultivada é um negócio e, como tal, traz adaptações e novas carreiras.
A bióloga e professora de filosofia, Cor van der Weele, explicou no relatório que uma das possibilidades é que os fazendeiros produzam carne cultivada em suas próprias fazendas. Ela explica que muitos fazendeiros são empresários, ou seja, tem o desejo de pensar no futuro e inovar também.
A pesquisa que a Merck fez com cientistas também demonstrou a vontade desses profissionais em trabalhar na indústria. Os resultados foram: 30% tem muito interesse, 25% tem interesse moderado, 26% pouco interesse e 19% não tem nenhuma vontade.
Além disso, foi afirmado que 25% se consideram capacitados suficientes, 43% considerou que talvez fosse capacitado e 33% disseram que não.
Por último, o relatório também apontou: “Este estudo mostra, também, que construir esses caminhos não requer apenas energias criativas. Acima de tudo, o que é necessário é a vontade e a abertura para mudança”.
Para ler o relatório completo, acesse: The New Food Revolution: How Cultured Meat Becomes a Game Changer.
Gostou dessa notícia? Aproveite e leia também:
Primeira startup de carne cultivada brasileira
Indústria de carne cultivada levantou US$ 366 milhões em 2020
Mercado de carne cultivada com células poderá atingir US$ 25 bilhões
*Imagem de capa: Pexels
Compartilhe: