Depois de enfrentar três anos consecutivos de queda nas receitas, a Veganz — uma das pioneiras do mercado plant-based na Alemanha — dá passos ousados em sua reestruturação. A companhia acaba de lançar a Mililk FoodTech, subsidiária focada em inovação e tecnologia alimentar, e fechou a venda integral da OrbiFarm GmbH, seu braço de agricultura indoor, por €30 milhões (cerca de US$ 35 milhões), com possibilidade de receita extra por meio de earnout.
As movimentações fazem parte de uma estratégia mais ampla de capitalização. A Veganz prepara-se para receber novos investimentos ainda no terceiro trimestre, com aporte previsto entre €10 e €20 milhões, a partir de uma avaliação pre-money de €80 milhões. Mesmo após o financiamento, a empresa manterá o controle majoritário da nova foodtech.
Mililk: tecnologia alemã, ambição global
Criada com base na marca de “leite” de aveia impressa em 2D — tecnologia licenciada da norte-americana Vitiprints —, a Mililk é a grande aposta da Veganz para virar o jogo. O processo imprime a base de aveia fermentada em folhas compactas, que dispensam refrigeração e usam 94% menos material de embalagem que os tradicionais Tetra Paks, reduzindo o peso em 85% e as emissões em até 90%.
Desde outubro de 2023, os produtos Mililk vêm sendo vendidos em formatos estáveis e de longa duração, e a tecnologia já está sendo expandida para outras categorias, como sucos, smoothies e bebidas funcionais.
Para escalar a produção global, a Veganz fechou parcerias estratégicas, como a colaboração com o grupo Döhler — voltada à otimização do processo produtivo — e um acordo com a australiana Jindilli Beverages (produtora da Milkadamia) para levar Mililk à América do Norte, Oceania e outras regiões.
A expectativa é alta: a demanda estimada para os produtos da Mililk é de 30 milhões de litros nos próximos 12 meses, com potencial de gerar €30 milhões em receita — resultado direto das economias de escala e do custo reduzido da tecnologia.
Expansão em curso: da Alemanha para o mundo
A fábrica atual da Veganz, em Ludwigsfelde, tem capacidade para produzir 3 milhões de litros por ano, mas está sendo ampliada para 11,5 milhões com investimento de €1 milhão. Além disso, há planos para abrir seis novas unidades na Europa. Nos EUA, a empresa já identificou uma planta com infraestrutura pronta para produzir mais de 60 milhões de litros ao ano a partir de 2026, operando sob modelo de licenciamento.
Com esse plano agressivo de expansão, a Veganz espera retomar o crescimento. Segundo a COO da empresa e CEO da Mililk FoodTech, Anja Brachmüller, a companhia ainda está explorando apenas uma fração do potencial de mercado da tecnologia.
Venda da OrbiFarm e novo fôlego financeiro
A venda da OrbiFarm — que até então fazia parte da vertical de agricultura indoor da empresa — ajuda a destravar o capital necessário para os próximos passos. A tecnologia, originalmente licenciada do Fraunhofer Institute, vinha sendo desenvolvida há anos e a ideia inicial era vender apenas 25% da operação por €10 milhões. Mas, diante do interesse de novos investidores, a Veganz decidiu negociar 100% da empresa.
Essa operação facilita a entrada de parceiros estratégicos que, por regras de compliance, não poderiam investir em subsidiárias de companhias listadas em bolsa. Além disso, o capital levantado deve reforçar o caixa da Veganz e apoiar sua nova fase de crescimento.
Uma virada possível?
A Veganz já captou US$ 24 milhões até hoje, incluindo uma rodada de US$ 11 milhões focada na Mililk no ano passado. Este mês, a empresa também aprovou um aumento de capital que deve gerar mais US$ 7,5 milhões em recursos brutos.
Essas movimentações tentam reverter um cenário desafiador: em 2021, a empresa atingiu seu pico com €30,4 milhões em receita, mas viu as vendas despencarem nos anos seguintes — 22,4% em 2022, 30,5% em 2023 e mais 34,2% no último ano, fechando 2024 com €10,8 milhões. Os motivos? Mudanças no portfólio, atrasos na produção e dificuldades para fechar financiamentos.
Apesar disso, as projeções para 2025 são otimistas. A empresa espera alcançar €13,2 milhões em vendas este ano — um crescimento de 22,5% — e prevê um aumento expressivo nas receitas próprias e uma recuperação do EBITDA.
“Nós reestruturamos o grupo em cinco unidades de negócios claras: Veganz, Mililk, Happy Cheeze, Peas on Earth e OrbiFarm. Agora, com os recursos certos, temos tudo para atender à alta demanda esperada para 2025”, afirmou Jan Bredack, fundador e CEO da Veganz.
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