É muito comum um certo medo quando se decide por retirar os produtos de origem animal da alimentação. O receio de que falte algum nutriente em uma alimentação vegana, ou seja, vegetariana estrita (sem nenhum produto de origem animal) é recorrente. 

À exceção da vitamina B12, que é produzida por bactérias, uma alimentação baseada exclusivamente em vegetais bem planejada é completa em nutrientes e também pode trazer benefícios à saude de quem a adota. Uma das principais associações americanas, a Academy of Nutrition and Dietetics se posicionou desde 2009 sobre a segurança da adoção de dietas vegetarianas, inclusive as veganas. Portanto, não é novidade que uma alimentação vegana pode ser adotada tranquilamente quando planejada de modo adequado.

Casos de desnutrição e subnutrição em familias vegetarianas ocasionalmente aparecem na mídia e podem ser atribuídos à pratica de dietas extremamente restritas por pessoas sem uma orientação adequada. Um vegano pode adotar uma dieta inadequada, mas dietas inadequadas são inadequadas independente do rotulo que possuem. Por exemplo, bebês nos primeiros 6 meses de vida alimentados exclusivamente por leites vegetais, ao invés de leite materno ou fórmulas não irão obter todos os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento. Do mesmo modo que se um bebê fosse alimentado com ovos batidos, por exemplo, também não obteria a nutrição adequada para o seu desenvolvimento.

Apesar dos alertas em relação aos possíveis riscos de uma dieta exclusiva de vegetais, pouco se fala dos benefícios relacionados a uma alimentação vegana bem planejada. Alguns dos principais motivos são:

1. Doenças Cardiovasculares.

Uma gama de evidências apontam que dietas vegetarianas estão associadas a um menor risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Um dos maiores estudos prospectivos realizados é o EPIC (European Investigation into Cancer and Nutrition), um que conta com a participação de 520.000 participantes de 10 países europeus e cujos participantes foram acompanhados por 15 anos. Neste estudo, o centro de Oxford (EPIC-Oxford) selecionou na população uma boa parcela de vegetarianos (29%) e veganos (4%). Os vegetarianos apresentaram após ajustes de variáveis de confusão um risco 28% menor de doença cardiaca isquêmica. Alguns fatores associados a estes benefícios são o menor consumo de gorduras saturadas e de colesterol em dietas vegetarianas. Estes compostos são geralmente consumidos com freqüência e em quantidades elevadas em dietas ricas de produtos de origem animal.

2. Manutenção e controle do peso. 

Uma preocupação excessiva com o peso é um fator importante para o desenvolvimento de transtornos de comportamento alimentar. Mas, por outro lado, a adoção de uma dieta ocidental clássica, rica em açúcares, sal, gorduras do tipo trans ou saturada e plena de proteínas animais aumenta as chances de sobrepeso e obesidade. A obesidade é fator de risco não somente das ja citadas doenças cardiovasculares, mas também de doenças como o diabetes tipo 2 e câncer. Uma alimentação vegana que priorize alimentos na sua forma integral ajuda na manutenção do peso e diminui os riscos de obesidade. Isto porque este tipo de alimentação fornece uma menor densidade calórica, rica em fibras e nutrientes. De fato, através das informações obtidas ainda no estudo EPIC-Oxford, observou-se que o IMC (índice de massa corporal) dos veganos foi o menor, enquanto o IMC de quem comia carne o maior. Importante dizer que estes dados refletem a média desta população. Uma população vegana com um alto consumo de grãos refinados, farinhas, açúcares e outros produtos processados acabaria  por consumir uma dieta hipercalórica, pobre em fibras e em alguns nutrientes, que poderia igualmente levar a um aumento substancial de peso. Em contrapartida, veganos que priorizam o consumo de alimentos integrais conseguem controlar o peso de forma adequada diminuindo também o risco de deficiências de macronutrientes e micronutrientes.

3. Câncer 

Fortes evidências correlacionam o consumo de carne vermelha e carnes processadas ao câncer colorretal. A eliminação da carne pode reduzir consideravelmente o risco de câncer de intestino. Os mecanismos ainda não são bem compreendidos pela ciência, mas acredita-se que o consumo de ferro-heme (origem animal) pode contribuir para uma maior irritação do intestino, danificando as células do epitélio intestina. Outros compostos envolvidos são os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, aminas heterocíclicas e compostos n-nitrosos. Retirando carnes, ovos e laticínios da alimentação e incluindo mais grãos integrais, frutas, verduras e leguminosas é possivelmente a atitude mais eficaz neste momento para a redução do risco de câncer. O aumento do consumo destes alimentos é também o que recomenda a “The World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research (WCRF/AICR)” uma associação sem fins lucrativos que se dedica à estudar pesquisas relacionadas à prevenção do câncer.

4. Diabetes tipo 2 

Participaram de um importante estudo adventista (Adventist Health Study-2) 15.200 homens e 26.187 mulheres. Estas pessoas foram acompanhadas através de questionários de acompanhamento durante dois anos e coletou informações sobre o desenvolvimento da diabetes tipo 2. Os casos de diabetes apareceram em 0,54% dos veganos, 1,08% dos ovolactovegetarianos, 1,29% dos pescetarianos, 0,92% dos semi-vegetarianos e 2,12% dos não-vegetarianos. Isto é, o risco de veganos desenvolverem o diabetes tipo 2 foi significativamente menor em relação às pessoas em uma dieta onívora e obteve o melhor resultado dentre todas as dietas analisadas. De fato, estudos que evidenciam benefícios de uma alimentação à base de plantas na prevenção e gerenciamento do diabetes tipo 2 estão em ampla ascensão e com base neste corpo de evidências a “American Association of Clinical Endocrinologists” e a “American College of Endocrinology” atualizaram em janeiro de 2018 suas diretrizes recomendando as dietas baseadas em plantas para a promoção do bem-estar e gerenciamento da doença.

Morena Bertuzzi é ítalo-brasileira, engenheira química, mestranda em Ciências da Nutrição Humana na Universidade de Pisa e palestrante. Promove saúde através da ciência baseada em evidências. É criadora da página @nutricaovegana no instagram.

Leia também como uma dieta vegana é mais eficaz na prevenção de doenças cardíacas.

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