A maior cooperativa agrícola da Suécia, a Lantmännen, recebeu um importante impulso da União Europeia para construir uma nova unidade de produção de proteína vegetal, que promete abastecer a indústria de alimentos plant-based em larga escala.
O Banco Europeu de Investimento (BEI), instituição financeira da UE, aprovou um financiamento de €50 milhões (cerca de US$ 55 milhões) para apoiar a construção de uma fábrica de isolado de proteína de ervilha em Lidköping, município localizado no sul da Suécia. O valor representa aproximadamente metade do custo total do projeto.
O objetivo do investimento é duplo: fortalecer a segurança alimentar do bloco europeu e reduzir a dependência de importações de proteínas vegetais, em um contexto em que a diversificação da matriz proteica se torna cada vez mais urgente diante da crise climática.
Todos os projetos apoiados pelo BEI seguem as diretrizes do Acordo de Paris, sendo que mais de 60% do volume anual financiado está diretamente ligado a iniciativas que contribuem para mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Fábrica será a primeira do tipo na Suécia e terá capacidade para 40 mil toneladas de ervilha por ano
O projeto da nova unidade foi anunciado no ano passado. A cooperativa, formada por cerca de 17 mil agricultores, destinou um investimento total de 1,2 bilhão de coroas suecas (aproximadamente US$ 116 milhões) para viabilizar a iniciativa.
A expectativa é que a fábrica processe até 40 mil toneladas de ervilhas cultivadas localmente por ano, gerando cerca de 7 mil toneladas de proteína e criando até 30 novos empregos na região. A produção será voltada para diversos setores da indústria de alimentos: de barras proteicas, bebidas e pães a alternativas plant-based para carne e laticínios.
Segundo a Lantmännen, culturas como ervilha e feijão se destacam não apenas pela versatilidade e alto teor proteico, mas também por serem mais amigáveis ao meio ambiente — demandando menos água e nutrientes e contribuindo para a biodiversidade.
A cooperativa defende que ampliar o uso de leguminosas produzidas na própria Suécia é uma estratégia eficiente para reduzir o uso de soja importada e fortalecer os compromissos de sustentabilidade do país e da União Europeia.
“É muito positivo que o Banco Europeu de Investimento reconheça o valor estratégico do nosso projeto e decida apoiar o desenvolvimento de uma fábrica voltada para a proteína do futuro”, afirmou Michael Sigsfors, CFO da Lantmännen. “Aumentar a produção e as exportações de alimentos também fortalece a rentabilidade dos agricultores e a resiliência do sistema alimentar como um todo.”
Parcerias estratégicas e pesquisa avançada impulsionam o projeto
Além da nova planta industrial, a Lantmännen também participa de iniciativas voltadas ao avanço das proteínas vegetais. A empresa colabora com o centro de pesquisa PAN Sweden, da Universidade de Örebro, em um projeto financiado pelo governo, e também firmou uma parceria com a Ingredion — uma das maiores fornecedoras globais de ingredientes — para acelerar o desenvolvimento de isolados de proteína de ervilha.
A cooperativa ainda integra um consórcio com a Universidade de Tecnologia de Chalmers e a gigante dos laticínios Arla, com foco em pesquisa de fermentação e desenvolvimento de alimentos híbridos.
UE acelera estratégia para diversificar fontes de proteína
O financiamento à Lantmännen reflete os esforços contínuos da União Europeia para tornar-se menos dependente de proteínas importadas e fomentar a transição proteica rumo às plantas, com foco em agricultura regenerativa e redução do impacto ambiental.
Esse movimento responde à crescente pressão de grupos ambientais, organizações de consumidores, médicos, agricultores e até grandes empresas do setor alimentício, que pedem à Comissão Europeia um plano de ação específico para a alimentação plant-based. Apesar de o plano agrícola mais recente da UE não ter atendido totalmente a esse apelo, foi confirmada a elaboração de uma estratégia de diversificação de proteínas, voltada a ampliar a produção interna e fortalecer a segurança alimentar.
“A prioridade será aumentar a produção doméstica para reduzir a dependência histórica de proteínas vegetais importadas e diversificar o acesso a essas fontes, garantindo mais autonomia alimentar ao bloco”, afirmou recentemente o comissário de Agricultura da UE, Christophe Hansen.
A Europa tem reforçado seus investimentos em alimentos do futuro por meio de diferentes iniciativas. Além de apoiar startups por meio de programas de aceleração, o bloco já investiu €50 milhões em empresas que atuam com fermentação de precisão e alimentos à base de algas, por meio do European Innovation Council.
Segundo dados da GFI Europe, desde 2020, a UE já destinou €252 milhões à pesquisa em proteínas alternativas, sendo que metade desse valor foi aplicada apenas entre 2023 e o início de 2024.
“Com o apoio ao investimento da Lantmännen em proteína de ervilha, estamos fortalecendo não apenas a segurança alimentar, mas também o compromisso climático da Suécia e da UE”, afirmou Thomas Östros, vice-presidente do BEI. “É um exemplo claro de como a cooperação europeia pode gerar benefícios concretos em nível local.”
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