A Bene Meat Technologies, uma empresa checa produtora de carne cultivada para humanos e pets, lançou seu primeiro hambúrguer, que será comercializado pelo mesmo preço da carne bovina premium.

Esse lançamento marca a primeira inovação da startup voltada para o consumo humano, após a inscrição de sua ração cultivada para pets como material alimentar na União Europeia no ano passado (o que é distinto de uma aprovação regulatória oficial para venda).

A produção de alimentos para humanos sempre fez parte dos planos da startup, e a afirmação de que pode oferecer carne cultivada com preço equivalente ao de versões convencionais premium atende à demanda de consumidores preocupados com os altos custos dessas proteínas, além de sinalizar um avanço na busca da indústria por produtos competitivos em termos de preço.

“Desenvolver carne bovina cultivada para consumo humano sempre foi nosso objetivo principal, especialmente devido ao impacto ambiental significativo associado à produção tradicional de carne. Ao longo do caminho, expandimos nossos esforços para incluir outras linhagens celulares e mercados”, afirma Tomáš Kubeš, chefe de projetos estratégicos da Bene Meat, em entrevista à Green Queen.

A empresa também está trabalhando com linhagens celulares de frango, embora Kubeš ressalte que esse não é o foco atual. Ele confirma que a Bene Meat está desenvolvendo simultaneamente alimentos para pets. “Investimos tempo e recursos significativos no desenvolvimento de nossa ração cultivada”, afirma, sugerindo uma “atualização significativa” sobre esse tema para “final de 2024 ou início de 2025”.

Uso de mídia e equipamentos internos para reduzir custos

A Bene Meat utiliza um “processo clássico de cultivo celular”, começando pela isolação do tecido celular ou pela obtenção deste de um banco de células. Em seguida, a empresa seleciona e desenvolve a linhagem celular apropriada, utilizando técnicas de adaptação natural ou modificação genética, dependendo das necessidades específicas de cada linhagem.

“Uma vez otimizada a linhagem celular, escalamos o processo para cultivo em suspensão, permitindo-nos produzir de forma eficiente o volume necessário de células”, explica Kubeš.

Ele ressalta que a startup sempre focou no design de seus processos com ênfase em custos e escalabilidade: “Desde o início, evitamos ingredientes caros para os meios de cultivo ou processos excessivamente complicados.”

O hambúrguer da Bene Meat não utiliza soro fetal bovino, um meio de crescimento controverso e caro do qual cada vez mais produtores de carne cultivada estão se afastando. “Desenvolvemos tudo internamente, incluindo receitas de meios de cultivo e equipamentos”, afirma Kubeš, que não divulga mais detalhes “pois muitas de nossas inovações fazem parte do nosso know-how proprietário”.

Contudo, ele complementa: “Nosso equipamento de cultivo é projetado para atender aos padrões de segurança alimentar, e evitamos algumas soluções farmacêuticas que, embora bem estabelecidas, não são inerentemente escaláveis de forma custo-efetiva.”

Atualmente, a startup opera uma planta piloto de pequena escala, usada principalmente para desenvolvimento de produtos e testes de alimentação. “Paralelamente, estamos construindo uma instalação de maior escala com uma capacidade de produção projetada de cerca de 200 toneladas por ano, com conclusão prevista para 2025”, afirma Kubeš.

Desafios na escalonamento e redução de custos

Aumentar os volumes de produção enquanto se reduz os custos se tornaram barreiras significativas para a comercialização da carne cultivada. A indústria já reduziu os custos em 99% na última década, mas a McKinsey sugere que levará pelo menos até 2030 para que os preços se tornem equivalentes aos da carne convencional.

O hambúrguer da Bene Meat pode conter até 90% de células de carne cultivada. Várias startups têm feito avanços na busca por preços mais baixos, incluindo concorrentes da Bene Meat no mercado de ração para pets, como a Meatly e a BioCraft Pet Nutrition. A primeira, a primeira a receber aprovação regulatória para ração cultivada, criou um meio de cultura sem proteína que reduz os custos a apenas £1 (cerca de US$ 1,30), enquanto a segunda desenvolveu um meio plant-based que poderia baixar os preços de mercado para US$ 2 a US$ 2,50 por libra.

Os meios de cultivo costumam ser as partes mais caras da produção de carne cultivada, custando centenas de dólares. Por isso, empresas e pesquisadores estão buscando soluções, seja por meio de processos de fabricação contínua ou metabolismo de células-tronco.

No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer antes que esses preços sejam refletidos no mercado consumidor. O frango da Good Meat, a única carne cultivada disponível atualmente em supermercados, tem um preço de varejo equivalente a mais de US$ 20 por libra, e as células cultivadas representam apenas 3% do produto, sendo o restante plant-based.

Esses formatos, conhecidos como carnes híbridas, foram promovidos como a única maneira viável para a carne cultivada chegar ao mercado a curto prazo. As empresas têm experimentado taxas de inclusão de até um terço do produto, mas Kubeš afirma que o hambúrguer da Bene Meat contém apenas “temperos e outros ingredientes menores”, além da carne cultivada.

“Estamos testando várias formulações, com algumas receitas contendo até 90% de carne cultivada”, observa. “Ainda estamos avaliando a melhor receita para o produto comercial.”

Entretanto, levar esse hambúrguer até a mesa do consumidor pode demorar. A startup precisará passar pelos reguladores de segurança alimentar em cada mercado onde planeja lançar o produto, incluindo a UE, que se mostrou a estrutura mais complexa para as empresas (apenas uma startup pediu aprovação na região).

“Estamos avaliando a melhor estratégia para buscar a aprovação regulatória para nossa carne cultivada”, afirma Kubeš. “Embora estejamos explorando vários mercados, incluindo a UE, ainda não finalizamos onde iremos registrar primeiro. Nossa decisão será baseada no cenário regulatório e na prontidão do mercado em cada região.”

A startup anunciou recentemente que conseguiu armazenar mais de 5.000 amostras em um “banco de células de ponta” e submeteu um dossiê de sua ração para a FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA). “Nossa ração para pets é baseada em células cultivadas de origem mamífera”, diz ele, acrescentando que a linhagem celular é um segredo comercial, e que não pode confirmar se é carne bovina ou não.

O valor total do financiamento da Bene Meat não foi divulgado, mas Kubeš confirma que a empresa não está buscando investimentos ativamente: “Conseguimos garantir todos os recursos necessários para nossas atividades anunciadas através de nosso investidor estratégico, o BTL Medical Group, que forneceu o suporte financeiro necessário para nossos projetos em andamento e marcos futuros.”

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