A startup finlandesa Solar Foods acaba de garantir um novo investimento de €10 milhões (aproximadamente R$ 58 milhões) da Business Finland, agência ligada ao Ministério da Economia do país. O recurso será direcionado à próxima fase de construção da “Factory 02”, uma planta industrial de grande porte para produção de proteínas cultivadas por fermentação gasosa.

Esse aporte complementa os €33,6 milhões que a empresa já havia recebido em 2022 para erguer sua primeira unidade piloto, a Factory 01, localizada nas proximidades de Helsinque. Inaugurada em abril, a planta já é capaz de produzir 160 toneladas por ano da proteína Solein – número que deve subir para 230 toneladas até 2026.

A nova fábrica está sendo planejada com ambições muito maiores: capacidade anual de 12.800 toneladas e potencial de faturamento entre €80 milhões e €200 milhões. O custo de produção por quilo deve girar entre €4,30 e €5,20, tornando-se economicamente competitivo mesmo em larga escala. Caso a construção ocorra em solo europeu, até €76 milhões em subsídios públicos poderão ser destinados ao projeto, dentro do programa IPCEI, da Comissão Europeia.

Segundo a Solar Foods, o investimento recém-anunciado ajudará não só a acelerar os preparativos da nova planta, mas também a avançar em projetos de P&D, processos regulatórios em diferentes países e a estratégia de entrada no mercado.

A proteína que vem do ar

Fundada em 2017 a partir de pesquisas do centro tecnológico VTT e da LUT University, a Solar Foods desenvolveu um processo inédito para produzir proteínas a partir de gases como dióxido de carbono, hidrogênio e oxigênio — eliminando completamente a necessidade de terra, irrigação, pesticidas ou clima favorável. O resultado é um ingrediente em pó de tom amarelo-alaranjado, com 78% de proteína, 6% de gordura e 10% de fibras, com perfil nutricional semelhante ao da soja ou microalgas.

A empresa batizou esse ingrediente de Solein e o define como “a proteína mais sustentável do planeta”. Isso porque, além de ter uma pegada de carbono quase nula — apenas 1% das emissões da carne convencional —, sua produção depende unicamente de CO₂ capturado e energia renovável.

A inovação já conta com aprovação como novel food em Singapura, onde estreou em um sorvete de chocolate vegano no restaurante italiano Fico e, depois, em snacks e sobremesas lançadas por marcas como Fazer e Ajinomoto. Nos EUA, a Solein recebeu status GRAS (sigla para “geralmente reconhecido como seguro”) e sua comercialização será focada no nicho de nutrição funcional e esportiva, com produtos como bebidas prontas, misturas em pó e barras de proteína.

Expansão, investimento e próximos passos

Embora já tenha captado mais de €43 milhões em investimentos de capital e outros €30 milhões em financiamentos, a Solar Foods ainda busca novos aportes para viabilizar a Factory 02, cujo custo total pode chegar a €420 milhões. Isso porque os subsídios europeus cobrem, no máximo, 81% do investimento total.

Enquanto isso, a empresa segue ganhando tração: sua receita operacional cresceu 57% em 2024, atingindo €8,1 milhões, mesmo com um prejuízo líquido de €11 milhões — resultado esperado para uma companhia em fase de expansão.

Em paralelo, a Solar Foods já solicitou autorização para vender Solein no mercado europeu e espera a aprovação em 2026. No mês passado, consumidores italianos puderam experimentar o ingrediente pela primeira vez durante a feira Pitti Taste, em Florença, por meio de uma parceria com a startup local KelpEat, que criou um snack proteico com a novidade.

Pasi Vainikka, cofundador e CEO, anunciou que deixará o cargo em abril, mas seguirá ligado à empresa até o final do ano. Ele será sucedido por Rami Jokela, que assume o desafio de escalar a tecnologia da empresa globalmente. “Temos uma missão ousada: tornar a Solein acessível em escala global, revolucionar a produção de alimentos sustentáveis e gerar valor para o planeta e todos os nossos parceiros”, afirmou Vainikka.

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