A MeliBio, startup californiana pioneira na produção de mel sem abelhas, foi adquirida pela suíça FoodYoung Labs, um hub de inovação com foco em alimentos do futuro. A negociação inclui a marca Mellody, voltada ao consumidor final, e toda a propriedade intelectual associada à tecnologia de primeira geração da empresa. A tecnologia de segunda geração, baseada em fermentação de precisão para replicar o mel de forma bioidêntica, não fez parte do acordo.
O movimento acontece poucos meses após a MeliBio levantar uma quantia não divulgada em uma rodada pré-Série A — uma reestruturação estratégica que substituiu os planos iniciais de captar US$ 10 milhões em uma Série A. A mudança refletiu os desafios que o setor de foodtech vem enfrentando no cenário atual de investimentos.
Fundada por Darko Mandich e Aaron Schaller em 2020, a MeliBio surgiu com a proposta ambiciosa de oferecer uma alternativa real ao mel tradicional, sem prejudicar abelhas. O projeto ganhou notoriedade ao lançar a Mellody, um mel 100% vegetal formulado a partir de glicose, frutose e uma combinação precisa de extratos naturais como jasmim, camomila, flor do maracujá, trevo-vermelho e seaberry, entre outros ingredientes.
Ao contrário de outros produtos similares no mercado — frequentemente feitos a partir de frutas como maçã, limão ou alfarroba — a Mellody buscou replicar não só o sabor, mas também a textura e os aspectos sensoriais do mel tradicional, entregando uma experiência mais próxima da original.
De restaurante estrelado à gôndola do supermercado
O produto estreou em alto estilo, com o restaurante Eleven Madison Park, em Nova York, como primeiro cliente. A marca então passou a ser vendida diretamente ao consumidor por meio da loja online do restaurante e, em seguida, expandiu sua presença nos Estados Unidos — incluindo o lançamento de uma versão hot honey (mel apimentado).
Hoje, Mellody já é encontrada em varejistas independentes e restaurantes como Palmetto Superfoods, Joyride Pizza e Moto Pizza, além de ter ampliado sua distribuição com grandes operadores como KeHE, UNFI, Greco and Sons e ACE Natural.
Na Europa, a expansão veio por meio de uma parceria de quatro anos e US$ 10 milhões com a eslovena Narayan Foods, que possibilitou a chegada do produto em países como Reino Unido (como Vegan H*ney, da marca Better Foodie), Áustria e Suíça (sob os rótulos Vegan Hanny e Ohney, da linha Just Veg do Aldi). A expectativa é levar o produto a até 75 mil pontos de venda.
“Foi um privilégio transformar o conceito de mel sem abelhas em realidade e vê-lo chegar a centenas de pontos de venda e milhares de consumidores ao redor do mundo”, celebrou Aaron Schaller nas redes sociais.
E o futuro da fermentação de precisão?
Apesar de a tecnologia de fermentação de precisão não ter sido incluída na aquisição, ela continua sendo uma promessa relevante para o setor. A MeliBio havia avançado significativamente nesse campo nos últimos meses, incluindo parcerias com a Pow.Bio, startup especializada em biomanufatura assistida por IA. A colaboração resultou em aumento expressivo na eficiência da produção de enzimas — um dos pilares para o desenvolvimento do mel bioidêntico — com crescimento de até 1.300% no rendimento da enzima principal.
Até outubro de 2024, a empresa buscava novos parceiros para continuar os testes e possíveis escalonamentos industriais, embora o futuro desse trabalho agora permaneça indefinido.
Para a FoodYoung Labs, a aquisição representa uma nova fase. Segundo o fundador e CEO Abouzar Rahmani, o objetivo é tornar a Mellody ainda mais natural, com rótulo limpo e formulações menos processadas, aproveitando a estrutura de inovação completa que a empresa mantém na Suíça — dedicada ao desenvolvimento de doces, snacks, pães e barras.
“Para que a foodtech floresça, ela precisa se conectar a raízes sólidas, como as que apenas empresas com experiência no setor alimentício podem oferecer”, comentou Mandich. “Acreditamos que a FoodYoung é o ambiente ideal para o legado da MeliBio crescer e se renovar.”
Um reflexo do momento do mercado
A venda da MeliBio se insere em um cenário desafiador para startups de alimentos e tecnologias climáticas. Em 2023, o investimento global em agrifoodtech caiu 51%, e registrou nova queda de 4% no ano seguinte. O setor de climate tech como um todo recuou 38% em 2024.
Com isso, muitas startups precisaram buscar fusões, aquisições ou encerrar operações. Casos como os da Wild Earth (alimentos veganos para pets) e da Bolder Foods (queijos à base de micélio) ilustram o impacto. Ao mesmo tempo, grandes players como Danone e Chobani têm movimentado o mercado com aquisições estratégicas — como Kate Farms e Daily Harvest, respectivamente.
O futuro do mel sem abelhas, no entanto, ainda parece promissor — e agora ganha novo impulso com uma base sólida na Europa para continuar inovando.
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