Se você segue a Dieta Planetária da Comissão EAT-Lancet, sabe que deve limitar o consumo de carne vermelha (como carne bovina, suína e cordeiro) a 5 kg por ano. Esse é o máximo recomendado para proteger sua saúde e a do planeta. No entanto, nos Estados Unidos, o consumo médio é de cerca de 48,5 kg por pessoa ao ano, quase dez vezes mais do que o indicado na Dieta Planetária.
Esse alto consumo de carne vermelha tem implicações ambientais e de saúde: a produção de carne bovina é uma das maiores fontes de poluição, e os recursos hídricos e de terras seriam insuficientes para alimentar a população mundial, que deve chegar a 10 bilhões até 2050. Além disso, a carne vermelha está associada a doenças como obesidade, diabetes tipo 2, câncer e problemas cardiovasculares.
Por isso, a Comissão EAT-Lancet recomenda reduzir em 90% o consumo de carne vermelha e adotar uma dieta baseada em vegetais. Em sintonia com essa orientação, os cientistas que elaboram recomendações para as diretrizes dietéticas nacionais dos EUA estão propondo uma redução no consumo de carne e um foco maior em proteínas vegetais.
Essa proposta, no entanto, já gerou polêmica entre produtores de carne e consumidores adeptos de dietas carnívoras, o que indica uma disputa intensa até a aprovação final das novas diretrizes, prevista para o final de 2025.
Propostas para as diretrizes dos EUA favorecem proteínas vegetais
As diretrizes dietéticas dos EUA são atualizadas a cada cinco anos e, apesar de nem sempre impactarem os hábitos alimentares diretos da população, elas influenciam diretamente programas de alimentação escolar, a produção de alimentos e campanhas de saúde pública.
Nas últimas orientações, recomendava-se limitar o consumo de gorduras saturadas – comum em carnes vermelhas e processadas –, mas sem interferir diretamente no consumo de carne vermelha. Porém, isso pode mudar: na última reunião do Comitê Consultivo das Diretrizes Dietéticas, especialistas recomendaram a redução no consumo de carnes vermelhas e processadas, ambas classificadas como cancerígenas pela Organização Mundial da Saúde.
Os cientistas estão sugerindo uma dieta mais baseada em plantas, priorizando vegetais, frutas, legumes, grãos integrais, oleaginosas, peixes, laticínios com baixo teor de gordura e gorduras insaturadas. Para reduzir o foco em carnes, o comitê propôs que ervilhas, feijões e lentilhas passem da categoria “vegetais” para “proteínas”, sendo colocadas acima de carnes, aves, ovos e frutos do mar na lista de fontes de proteínas. Produtos de soja, oleaginosas e sementes também seriam priorizados antes das proteínas de origem animal.
Essa sugestão foi aprovada pela maioria dos especialistas, e ninguém sugeriu manter as diretrizes anteriores. Angela Odoms-Young, vice-presidente do comitê, também propôs que feijões, ervilhas e lentilhas formem uma categoria separada, sugestão endossada por vários membros do comitê.
Recomendações recebem críticas, mas são consideradas essenciais
A reação foi imediata. Ethan Lane, vice-presidente da National Cattlemen’s Beef Association, considerou a reunião do comitê “um dos diálogos mais elitistas e desconectados da realidade do processo”. Muitos consumidores também se manifestaram contra, como um leitor do Wall Street Journal, que escreveu: “Vão pegar minha carne vermelha só se tirarem da minha mão fria e morta, pingando gordura de hambúrguer ao ponto”.
Apesar disso, as preocupações ambientais com a carne são reais. A carne bovina é um dos alimentos com maior emissão de carbono, e ovelhas e cordeiros não ficam muito atrás. Nos EUA, a carne vermelha representa um terço das emissões de gases de efeito estufa do sistema alimentar.
Pesquisas mostram que 40% dos americanos não acreditam que reduzir o consumo de carne vermelha ajudaria a diminuir emissões, e 74% não associam o consumo de carne com a mudança climática. Embora 75% dos americanos reconheçam a saúde das proteínas vegetais, o número de consumidores que relatam ter aumentado o consumo de carne vermelha subiu de 13% em 2020 para 19% em 2022.
Com 10.000 comentários já recebidos durante o processo de revisão, o comitê enviará o relatório final ao Departamento de Agricultura e ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA em dezembro. Após isso, o público terá 60 dias para opinar, e as diretrizes oficiais devem ser publicadas até o fim de 2025.
Se aprovadas, as novas diretrizes significariam um avanço importante para a saúde pública e o clima nos EUA, alinhando o país a várias nações europeias, como Alemanha, Áustria e Noruega, que já favorecem uma alimentação baseada em vegetais em suas recomendações nutricionais.
Confira a matéria publicada no Green Queen.
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