Um relatório da Royal Agricultural University (RAU) do Reino Unido examinou como a adoção generalizada de carne cultivada pode impactar os agricultores britânicos.
Os resultados sugerem que, nas condições adequadas, a carne cultivada pode oferecer oportunidades para alguns agricultores, como fornecer células animais ou matérias-primas para a produção de carne cultivada. Além disso, os agricultores poderiam transformar subprodutos de cultivos ou de animais em uma fonte de receita ao vendê-los como ingredientes para carne cultivada. Segundo o relatório, o uso desses subprodutos como fontes de aminoácidos poderia reduzir o custo e a pegada ambiental da produção de carne cultivada.
Outros agricultores poderiam obter investimentos privados para produzir carne cultivada em suas próprias fazendas. No entanto, estima-se que isso custaria cerca de 30% a mais do que a produção em escala industrial.
Comunicação inclusiva
Alguns agricultores demonstraram interesse em explorar essas possibilidades, enquanto outros afirmaram que a criação de gado é fundamental para sua identidade. Muitos expressaram preocupações sobre a carne cultivada, incluindo a percepção de falta de dados imparciais, incerteza sobre como novas cadeias de suprimento funcionariam na prática, receios sobre possíveis efeitos colaterais e a ideia de que os produtos cultivados são “não naturais”. Em muitos casos, fatores como diversificação de negócios, posse, ativos e relacionamentos contratuais poderiam influenciar a resiliência dos agricultores diante das potenciais interrupções causadas pela carne cultivada.
O relatório sugere que tanto a agricultura quanto a indústria de carne cultivada se beneficiariam ao afastar-se de um debate polarizado. Uma comunicação inclusiva que reconheça as incertezas e a inovação dos agricultores poderia ajudar a construir um terreno comum.
Além disso, as indústrias poderiam colaborar em pesquisa e inovação, particularmente na valorização de resíduos e na produção nas fazendas. Poderia ser criada uma plataforma para ajudar agricultores interessados a se conectar com empresas de carne cultivada, e investidores poderiam exigir que as empresas de carne cultivada incluam uma “transição justa” para os agricultores em seus compromissos Ambientais, Sociais e de Governança.
Buscando causas comuns
O relatório é a segunda fase de um projeto de pesquisa da RAU que estuda o impacto potencial da carne cultivada sobre os agricultores do Reino Unido. A primeira fase focou nas opiniões dos agricultores sobre a carne cultivada, que foram complexas e variadas. Alguns acreditavam que a tecnologia poderia criar produtos de carne mais baratos e beneficiar os agricultores de culturas, enquanto outros eram céticos quanto à viabilidade da carne cultivada.
Também houve preocupação com a falta de transparência e o sigilo corporativo das empresas de carne cultivada. No entanto, alguns agricultores viam potencial para as fazendas tradicionais fornecerem matérias-primas derivadas de plantas ou animais.
“Após consultar agricultores, formuladores de políticas, grupos ambientais e financiadores, lançamos nosso relatório, que descobriu que, longe de significar o fim da agricultura tradicional, cientistas e empresas desenvolvedoras de carne cultivada poderiam encontrar uma causa comum com os agricultores,” afirmou a RAU.
Confira a matéria publicada na vegconomist.
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