A startup austríaca Arkeon, conhecida por transformar CO₂ em proteínas por meio de fermentação gasosa, entrou com pedido de insolvência. A decisão marca mais um capítulo delicado no cenário atual das foodtechs voltadas à transição alimentar, que enfrentam uma fase desafiadora para levantar capital e ganhar escala.
Fundada em Viena por Gregor Tegl, Simon Rittmann e Günther Bochmann, a Arkeon nasceu em 2021 com uma proposta ambiciosa: usar microrganismos ancestrais (as arqueias) para converter emissões industriais de carbono em aminoácidos. Com isso, a empresa se posicionava como uma solução de duplo impacto — ao mesmo tempo contribuindo para a descarbonização de setores poluentes e oferecendo ingredientes funcionais, sem a necessidade de agricultura ou uso de animais.
Em julho de 2023, a startup inaugurou sua planta piloto em Seestadt, após captar mais de US$ 13 milhões com investidores como Square One Foods, Synthesis Capital, ICL e ReGen Ventures. No entanto, apesar da inovação, os custos elevados de tecnologia e produção, somados à dificuldade de escalar processos tão complexos, acabaram se tornando um entrave.
Em comunicado no LinkedIn, Tegl agradeceu a todos que acreditaram no propósito da Arkeon. “Esse é um momento difícil, mas sigo profundamente grato por quem apoiou nossa visão de produzir proteínas sustentáveis através da fermentação de gases”, escreveu o CEO. Apesar do encerramento das operações, ele reforçou sua confiança nas biotecnologias como parte essencial de um futuro alimentar mais limpo.
Concorrência acirrada, recursos escassos
Enquanto a Arkeon captava cerca de US$ 13 milhões, outras startups com propostas similares conseguiram cifras significativamente maiores. A norte-americana Air Protein, por exemplo, já levantou mais de US$ 100 milhões. A britânica Calysta ultrapassa os US$ 170 milhões, e a finlandesa Solar Foods soma mais de US$ 79 milhões, além de apoio governamental.
Grande parte desses recursos, no entanto, foi levantada antes de 2023 — um período mais favorável para investimentos em tecnologias climáticas e proteínas alternativas. Desde então, o mercado esfriou: só em 2023, o setor de proteínas alternativas viu os aportes encolherem 44%, e em 2024, houve nova queda de 27%. O setor de climate tech como um todo sofreu retração de 38% no ano passado, em meio à mudança de foco dos investidores para inteligência artificial.
Não é só a Arkeon: outros nomes também enfrentam turbulências
A crise não é isolada. Nos últimos 12 meses, empresas como Akua (frutos do mar plant-based), Sunfed Meats (carne vegetal), Willicroft (queijos veganos), SciFi Foods (carne cultivada) e Motif Foodworks (ingrediente heme sem origem animal) encerraram operações.
A sueca Mycorena, especializada em fermentação, também entrou com pedido de falência, sendo posteriormente adquirida. Já a Allplants, de pratos prontos plant-based, vendeu seus ativos para a Grubby e os fundadores da Deliciously Ella. Até mesmo a Wild Earth, de ração vegana apoiada por Mark Cuban, entrou com pedido de falência.
Outro caso emblemático é o da Meati, referência em carnes feitas de micélio, que recentemente entrou com documentos indicando sua venda por US$ 4 milhões — valor simbólico para uma empresa que já havia levantado US$ 450 milhões e chegou a ser avaliada em US$ 650 milhões em 2022.
Nem gigantes como Beyond Meat e Oatly escaparam. A primeira registrou queda de 9% nas vendas no primeiro trimestre de 2025 e encerrou suas operações na China. Já a Oatly fechou sua fábrica em Singapura no fim de 2024, após um período de instabilidade.
Na França, a Swap, que fabrica carnes vegetais, também vive um momento delicado. Após registrar uma receita de apenas €1 milhão em 2024, seu cofundador deixou o cargo de CEO. A missão de reestruturar a empresa agora está nas mãos de Hervé Salomon, ex-Mondelēz, que precisará captar €9 milhões até o fim deste ano e cerca de €30 milhões até o fim de 2026.
Um mercado em transformação
O encerramento da Arkeon é mais um sinal dos tempos para quem empreende no setor de proteínas do futuro. A pressão por escalabilidade, retorno rápido e investimentos vultosos tem colocado em xeque até mesmo os modelos mais inovadores e sustentáveis.
Ainda assim, Gregor Tegl encerra este capítulo com esperança. “Apesar do fim da Arkeon, sigo acreditando no potencial das biotecnologias sustentáveis. Cada tropeço ensina algo. As lições que levamos sobre escala, regulação e engajamento com stakeholders seguirão comigo daqui para frente”, conclui.
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