Será que um peptídeo bioativo pode transformar a indústria alimentícia da mesma forma que medicamentos como o Ozempic estão transformando o mercado da saúde? A startup israelense Lembas acredita que sim — e está apostando alto nessa ideia com o lançamento do GLP-1 Edge, um ingrediente natural voltado para produtos de consumo (CPG), capaz de estimular a produção do hormônio GLP-1 no organismo, que regula o apetite de forma fisiológica.
A empresa, sediada em Tel Aviv, acaba de sair do modo “stealth” com uma rodada de pré-seed que captou US$ 3,6 milhões, superando as expectativas. O investimento foi liderado pela Flora Ventures, que também incubou a Lembas, e contou com a participação de fundos como Bluestein Ventures, Fresh Fund, Longevity Venture Partners, Maia Ventures, Siddhi Capital, Mandi Ventures e SDH.
“Estamos criando uma nova categoria de nutrição baseada em ciência, com o objetivo de oferecer às pessoas uma forma eficaz e prática de gerenciar o peso, por meio de alimentos e suplementos, sem depender de remédios caros, injeções ou efeitos colaterais indesejados”, explica Shay Hilel, cofundador e CEO da Lembas.
O que está por trás da proposta da Lembas
Medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro têm ganhado força nos Estados Unidos, especialmente diante de um cenário preocupante: cerca de 75% dos adultos norte-americanos têm sobrepeso ou obesidade, e quase 20% das crianças e adolescentes também. Esses remédios mimetizam o GLP-1, um hormônio naturalmente produzido no intestino, que atua reduzindo o apetite, prolongando a sensação de saciedade e ajudando a controlar os níveis de açúcar no sangue.
A popularidade desses fármacos cresce de forma exponencial — estima-se que, até 2028, 70 milhões de pessoas nos EUA possam estar usando medicamentos baseados em GLP-1. A projeção é que, juntos, eles incrementem o PIB do país em 1%.
Por outro lado, os efeitos colaterais não são poucos: náuseas, vômitos, alterações no paladar, ansiedade e irritabilidade são alguns dos relatos frequentes. Além disso, o custo é elevado — um mês de tratamento com Ozempic custa cerca de US$ 1.000.
Diante desse cenário, diversas startups e centros de pesquisa vêm buscando alternativas mais acessíveis e livres de efeitos colaterais. A Lembas aposta nos peptídeos bioativos, pequenas cadeias de aminoácidos que, apesar de sensíveis à digestão, podem ativar respostas naturais do organismo.
Com base em uma tecnologia própria ainda em processo de patente, a Lembas desenvolveu uma plataforma de descoberta baseada em inteligência artificial, capaz de identificar, analisar e projetar rapidamente peptídeos funcionais que atuam de forma segura e eficaz no metabolismo.
Seus cientistas já conseguiram desenvolver compostos que estimularam a liberação de GLP-1 em testes celulares e com modelos animais. Esses peptídeos podem ser incorporados em diversos tipos de produtos alimentícios — barras, snacks, bebidas, shakes e suplementos — criando uma nova frente para alimentos com função terapêutica.
Alimentação como medicina: um mercado em expansão
Com os recursos levantados, a Lembas pretende acelerar a escalada industrial e a entrada no mercado do GLP-1 Edge, além de expandir sua plataforma tecnológica e fechar parcerias com empresas de ingredientes, alimentos e suplementos.
Embora o foco inicial esteja no controle de peso e saúde metabólica, a tecnologia desenvolvida pela startup permite avançar em outras áreas, abrindo caminho para ingredientes funcionais com diversos benefícios à saúde e ao bem-estar.
“A descoberta do GLP-1 é, na minha visão, a maior disrupção da indústria de alimentos nas últimas décadas”, afirma Gil Horsky, presidente do conselho da Lembas e sócio da Flora Ventures.
“A Lembas é a primeira empresa com base científica a dar às marcas de alimentos a oportunidade real de atuar nessa transformação. Estamos combinando tecnologia de ponta com ciência robusta para tornar a alimentação funcional, de fato, funcional.”
Essa mudança de paradigma encontra forte apoio popular. Segundo uma pesquisa recente da Fundação Rockefeller, mais de 80% dos norte-americanos acreditam que o sistema de saúde deveria investir mais em programas de alimentação e nutrição para prevenção e tratamento de doenças, e nove em cada dez pacientes prefeririam gerenciar seus problemas de saúde por meio da alimentação em vez de recorrer a medicamentos.
Outras startups também seguem trilhas semelhantes. A Shiru, por exemplo, usa IA para descobrir novas proteínas para a indústria de alimentos. A chilena NotCo lançou um produto natural que estimula a produção de GLP-1. Já a californiana One Bio captou US$ 27 milhões para desenvolver fibras invisíveis extraídas de plantas, enquanto marcas como Supergut utilizam fibras prebióticas e amidos resistentes com efeitos similares.
Na Europa, pesquisadores da Universidade Católica de Murcia, na Espanha, estão estudando extratos vegetais com potencial para serem transformados em pílulas naturais com ação semelhante ao GLP-1.
O movimento é claro: a alimentação está ganhando cada vez mais protagonismo como ferramenta real de cuidado com a saúde. E empresas como a Lembas mostram que é possível unir ciência, tecnologia e ingredientes naturais para abrir novos caminhos na intersecção entre saúde e comida.
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