A Intake, foodtech com sede em Seul, acaba de captar 13,5 bilhões de won (cerca de US$ 9,2 milhões) para acelerar sua entrada no campo da fermentação de precisão. A empresa, que já atua com proteínas alternativas, amplia agora seu portfólio com soluções tecnológicas que prometem revolucionar o setor.
Responsável por marcas como a Innocent (de carnes vegetais) e a Sugarlolo (gelatinas de konjac sem açúcar), a Intake desenvolveu uma cepa de levedura derivada de uvas cultivadas localmente, com um teor proteico 50% superior ao das leveduras convencionais. A ideia é que essa nova fonte sirva como substituta ao soro de leite de origem animal. A empresa também está investindo no desenvolvimento de proteínas recombinantes voltadas para carnes e ovos.
A rodada série C contou com a participação de CJ Investment, HB Investment, Woori Venture Partners, KDB Industrial Bank Capital, J Curve Investment e Wonik Investment Partners. Com isso, o total captado pela Intake até hoje chega a US$ 20 milhões.
“Com o aumento do interesse dos consumidores por hábitos alimentares mais saudáveis, cresce também a atenção da indústria por tecnologias alimentares inovadoras”, afirma Kim Hyun-kyu, analista sênior da CJ Investment. “A Intake, liderada por especialistas em ciência de alimentos da Universidade Nacional de Seul, já desenvolveu e comercializou ingredientes alternativos patenteados.”
Além da fermentação, a Intake aposta em um portfólio diverso de proteínas
Fundada em 2013 por Han Nok-yeob, a Intake trabalha com proteínas alternativas tanto no mercado B2B quanto B2C. A aposta na fermentação de precisão vem em um momento estratégico: enquanto o investimento em proteínas vegetais e carne cultivada recua globalmente, as startups que utilizam fermentação têm atraído mais atenção e capital. Em 2024, esse segmento viu um aumento de 43% no volume de investimentos, contrastando com quedas de 64% nas proteínas vegetais e 40% na carne cultivada.
A empresa está utilizando a fermentação de precisão para criar o que chama de “proteínas de primeira geração”, voltadas para alimentos alternativos de segunda geração, como carnes, laticínios e ovos à base de microrganismos. A levedura desenvolvida – uma linhagem aprimorada da Saccharomyces cerevisiae, comum na indústria – é processada para produzir um ingrediente proteico versátil, capaz de substituir o whey protein convencional.
Segundo Han, a cepa é naturalmente evoluída e não se enquadra como organismo geneticamente modificado (OGM), o que reduz barreiras regulatórias. Ainda assim, a empresa está reunindo os dados necessários para garantir as certificações NDI (Ingrediente Dietético Novo) e GRAS (Reconhecido como Seguro) junto à FDA dos EUA.
Outro foco é a produção de heme – proteína responsável pela coloração e sabor característicos da carne bovina – por meio de edição genética baseada em CRISPR, similar à abordagem adotada pela Impossible Foods. Além disso, a Intake também está desenvolvendo albumina (proteína da clara do ovo), segmento no qual empresas como The Every Company (EUA) e Onego Bio (Finlândia) têm ganhado espaço.
Coreia do Sul vira terreno fértil para as proteínas alternativas
O substituto de whey da Intake já está em fase inicial de comercialização, mas o plano é escalar a operação e mirar no mercado norte-americano a partir de 2026, considerado o mais maduro e lucrativo nesse segmento.
Os recursos da rodada série C serão destinados principalmente à expansão do time de P&D e à estruturação global para o negócio de proteínas microbianas. “Esse aporte valida a confiança do mercado em nossas tecnologias e produtos alimentares alternativos”, destaca Han. “Nosso objetivo é finalizar o desenvolvimento das tecnologias-chave com base microbiana e consolidá-las como uma alternativa real à indústria alimentar convencional.”
Hoje, a Intake também atua com a marca de hidratação Vital Water e registrou, em 2024, uma receita de 22,4 bilhões de won (US$ 15,2 milhões), com crescimento anual de 30%. Sob a marca Innocent, a empresa oferece produtos como bolinhos veganos, almôndegas e falafels. A expectativa é aplicar os ingredientes proteicos também nas linhas B2C, embora o foco principal continue sendo o fornecimento para empresas.
Além disso, a Intake lidera um projeto financiado pelo governo para desenvolver alternativas vegetais e cultivadas para pescados. O programa, que terá duração de cinco anos e investimento de 29 bilhões de won (US$ 21 milhões) do Ministério dos Oceanos, envolve outras startups e universidades, com o objetivo de criar ingredientes com sabor e textura semelhantes aos de salmão e atum, usando “proteínas azuis” derivadas de algas marinhas.
“Nossa meta para 2025 é comercializar o concentrado proteico derivado de levedura como substituto ao whey. A partir de 2026, queremos avançar no desenvolvimento de proteínas como heme, albumina e alternativas ao soro de leite, tanto em rotas OGM quanto não OGM”, conclui Han.
O cenário sul-coreano está cada vez mais aquecido para as proteínas alternativas. Especialistas apostam que o país poderá ser um dos primeiros a liberar a carne cultivada ainda este ano. Empresas como CellMeat e Simple Planet já estão em processo de aprovação regulatória, impulsionadas por significativos aportes públicos.
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