No último dia 21 de maio o The New York Times publicou um artigo de título um tanto polêmico: “O fim da carne está aqui”. A matéria enfatiza o fim da carne e a vez das plantas, além de revisitar reflexões sobre o tema.

Definitivamente, vale a pena ler o artigo completo, mas de modo sucinto, o autor, Jonathan Safran Foer trata dos seguintes temas:

  • A agricultura animal é uma das principais causas do aquecimento global.
  • Não precisamos de proteína animal para sobreviver e prosperar.
  • As fazendas familiares não sofrerão se a agricultura industrial desaparecer.

Os impactos do isolamento social

Foer, que também assina os livros “Eating Animals” e “We Are the Weather”, tem propriedade para tratar do assunto. Ele inicia seu artigo descrevendo a sensação desesperadora que é ocasionada por prateleiras vazias. Ainda, menciona a paradoxal sensação de alívio e conforto que é ter alimento no prato.

O autor coloca que, principalmente durante a quarentena, as pessoas estão cozinhando mais, por isso, tem mais consciência de quais alimentos são colocados à mesa. Além disso, o autor menciona as consequências trazidas pela crise do abastecimento de carne nos EUA, anunciada no mês de abril. Diante da qual, o Presidente Donald Trump, determinou que as indústrias americanas de processamento de carnes, cujos trabalhadores também enfrentam preocupações relacionadas a surtos de coronavírus, permanecessem abertas para garantir a oferta de alimentos no país.

Mais exposição para os impactos humanos e ambientais

Tudo isso revisitou a reflexão sobre a essencialidade da carne. Acima das vidas daqueles trabalhadores, da igualdade entre humanos e das preocupações com a mudança climática.

Os impactos ambientais causados pela indústria da carne, já amplamente divulgados antes mesmo da pandemia, e agora, o caos ocasionado à população, e principalmente, trabalhadores, parece não ser suficiente. Apenas metade dos americanos referem estar em busca de uma redução no consumo de carne.

Um olhar para a saúde

Para Foer, o COVID-19 direciona os olhares para as mudanças necessárias na cultura alimentar. Proteção ambienta e consumo de carne são antagônicas. Não há como dizer se preocupar com a crise climática e ainda consumir esse produto. Pior ainda, não há como conhecer os maus tratos que acontecem aos animais nas indústrias de processamento de carne e ainda consumir seus produtos.

Ele cita também a atenção dada aos mercados úmidos chineses, e a ação de tapar os olhos para as fazendas industriais, que são verdadeiros criadouros para pandemias. Simultaneamente, traz à tona um destaque para o aumento de doenças zoonóticas emergentes, que para ele, decorrem de uma inadequação na relação com os animais.

O fim das objeções

E para finalizar, Jonathan responde as três perguntas típicas, fruto das objeções que inevitavelmente surgem quando o assunto o fim da carne: precisamos de proteína animal para viver? Agricultores de fazendas industriais familiares vão sofrer? A dieta vegetariana não é elitista e cara demais? É possível trabalhar com empresas agrícolas para melhorar o sistema alimentar?

O autor é categórico ao afirmar que não precisamos de proteína animal, pelo contrário, a vida pode ser mais saudável e longeva sem carne.

Ressalta que as fazendas industriais nada mais são que um modelo de negócio. Desse modo, a transição para uma vida sem carne, com práticas agrícolas sustentáveis ​​afetaria positivamente os agricultores familiares, gerando ainda mais empregos.

Para enfatizar o quanto uma dieta vegetariana é econômica, ele cita um artigo científico em que os resultados demonstram que a economia com essa escolha chegou ao valor anual de US$750. Além disso, ressalta que as fazendas industriais da carne exploram principalmente indivíduos de pele escura.

E por último, Foer compara a agricultura industrial da carne aos monopólios criminais, que geram grandes riquezas sem seguir as regras reais do capitalismo.

Quais as implicações para o mercado de proteína vegetal?

Ao expor detalhes da terrível realidade dentro das fazendas agrícolas da indústria da carne, bem como, o impacto desse modelo de negócios no meio ambiente, na saúde humana e, é claro, nos animais, Foer traz toda a atenção para o mercado vegano.

Enquanto o “O fim da carne está aqui” subiu na lista de tendências do Twitter, a seção de comentários também explodiu, com centenas de leitores comentando seus pontos de vista.

Sejam eles comentários e opiniões positivas ou negativas, o fato é que a matéria do The New York Times trouxe ainda mais visibilidade para o mercado de proteínas vegetais. Ademais, subentende que, se é o fim da carne animal, é a vez das plantas. Agora a carne à base de vegetais certamente é o substituto ideal.

Quanto a isso, os consumidores já estão familiarizados. Desde veteranos da indústria como Tofurky a inovadores como Impossible Foods e Beyond Meat por lá, e Fazenda Futuro por aqui. Já é tão real que você pode pedir agora mesmo um Impossible Whopper no Burger King mais próximo.

O fim da carne e a vez das plantas

Certamente, desde o início da pandemia do COVID-19, as vendas de carnes alternativas dispararam. Em resposta à demanda crescente, ocasionada em partes pela dificuldade de lanchonetes e restaurantes fechados, a Impossible Foods, por exemplo, aumentou rapidamente sua presença no varejo.

Grandes player do mercado de alimentos, como a Cargill, a JBS e a Mafrig, também estão entrando no espaço e investindo em suas próprias alternativas vegetais. No momento, startups e foodtechs se concentram em desenvolver tecnologias para criar versões de carne vegetal mais realistas, incluindo versões que simulam frango, peixe e porco. Tudo bem que estes substitutos ainda não são perfeitos. Mas, com mais investimento, dentro de pouco tempo os consumidores poderão comprar todo e qualquer tipo de carne à base de plantas.

Por certo, o fim da carne e a vez das plantas é algo mais emergente e real a cada dia. Finalmente, quanto mais olhares voltados para o mercado de proteínas vegetais, melhores as alternativas serão.

Por Nadia Gonçalves em 25 de maio
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