Diretamente de São Paulo, a foodtech Cuíca surge com uma proposta ambiciosa e urgente: ajudar a proteger a floresta Amazônica e fortalecer as comunidades que vivem dela — tudo isso por meio de um leite vegetal feito à base de castanha-do-brasil, também conhecida como castanha-do-pará.
O produto, lançado oficialmente em 2024, foi apresentado ao mercado internacional durante a Expo West, na Califórnia, e já chegou às prateleiras brasileiras por meio de uma parceria com a Tetra Pak.
Mas o que torna essa bebida diferente de outras alternativas vegetais?
Uma castanha que carrega a floresta nas costas
A Amazônia está cada vez mais próxima de um ponto de não retorno. Especialistas alertam que, se o ritmo de desmatamento continuar, até metade do bioma pode colapsar até 2050. A maior parte dessa devastação está relacionada à pecuária e ao avanço de monoculturas.
É nesse cenário que entra a castanha-do-brasil — considerada uma espécie-chave na manutenção do ecossistema amazônico. Cada árvore pode lançar mais de mil litros de água por dia na atmosfera, ajudando a manter o equilíbrio do clima. Além disso, é uma importante fonte de renda para comunidades indígenas e ribeirinhas.
O problema? O desmatamento ameaça a própria existência dessa árvore, que hoje já aparece na lista de espécies vulneráveis da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
O modelo de negócio que mantém a floresta em pé
A Cuíca trabalha exclusivamente com castanhas extraídas de forma tradicional e sustentável, ou seja: nada de cortar árvores, desmatar ou queimar solo. Toda a colheita é feita manualmente, por famílias que vivem da floresta, em um modelo conhecido como extrativismo.
Isso significa que mais de 90% das castanhas usadas pela Cuíca vêm de árvores nativas, centenárias, que crescem naturalmente, sem uso de agrotóxicos ou plantio em larga escala. Depois de coletadas, as castanhas são levadas a armazéns locais, onde são processadas e preparadas para virar leite vegetal.
Segundo as fundadoras Bianca Oglouyan e Cristina Frange, a Cuíca busca garantir que toda a cadeia produtiva respeite tanto o meio ambiente quanto os princípios do comércio justo, promovendo renda e autonomia para as comunidades envolvidas.
Um produto limpo, funcional e com rastreabilidade
Com apenas quatro ingredientes — castanha, água, açúcar e sal — o leite da Cuíca aposta em uma fórmula limpa, sem conservantes, seguindo a tendência dos chamados clean label.
Essa composição foi viabilizada graças ao suporte da Tetra Pak, que ofereceu sua planta-piloto em São Paulo para testes de formulação e auxiliou na busca por co-packers para a produção comercial. Além disso, a tecnologia de envase da Tetra Pak permite que o produto tenha validade de até um ano, sem a necessidade de aditivos artificiais — o que é essencial para a estratégia de exportação da empresa.
“Ter uma embalagem que preserva o alimento sem precisar de conservantes é parte central da nossa proposta de oferecer um produto verdadeiramente sustentável”, comenta Bianca.
Hoje, além da versão original, a Cuíca também conta com uma linha barista, voltada para uso profissional. O leite tem 1,6g de proteína por 100ml, 4,6g de gorduras saudáveis e é rico em selênio, magnésio, potássio e vitamina E.
Oportunidade em crescimento
Apesar do crescimento do setor de leites vegetais no Brasil, ainda há muito espaço para avançar. Em 2023, apenas 43% dos brasileiros haviam experimentado algum tipo de bebida plant-based — mas, entre os que nunca provaram, a castanha-do-brasil apareceu como a opção mais atrativa para 90% dos entrevistados, segundo pesquisa recente.
As vendas do segmento cresceram 10% no mesmo ano, alcançando R$ 673 milhões. Os dados mostram que o interesse do consumidor está se expandindo, especialmente por produtos que unem saúde, sabor e responsabilidade ambiental.
A Cuíca quer ocupar esse espaço, mostrando que é possível empreender com impacto positivo — e que cada caixinha de leite pode ajudar a manter a floresta em pé.
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