A indústria da moda, reconhecida por sua influência cultural e estética, enfrenta um desafio crescente: conciliar elegância com sustentabilidade. Felizmente, a biotecnologia tem emergido como uma aliada poderosa nesse processo, permitindo a criação de materiais como couro, seda e lã sem qualquer exploração animal. Diversas startups globais estão na vanguarda dessa transformação, oferecendo alternativas inovadoras que prometem redefinir o futuro da moda.

ProjectEx: couro exótico cultivado em laboratório

A ProjectEx, sediada em Cingapura, é uma startup dedicada ao desenvolvimento de couro exótico cultivado em laboratório. Fundada em 2019 como uma spin-off da National University of Singapore, a empresa captou US$ 1 milhão em uma rodada pré-seed. Seu objetivo é criar alternativas sustentáveis e éticas a peles de animais como cobra, crocodilo, jacaré e avestruz, eliminando a necessidade de abate. A ProjectEx utiliza biotecnologia e biologia sintética para cultivar couro exótico, com planos de lançar pulseiras de relógio e bolsas de luxo nos próximos 24 meses.

Muush: biocouro a partir de resíduos agroindustriais

A Muush, uma startup paranaense, desenvolve um biocouro inovador utilizando micélio de cogumelos cultivados em resíduos agroindustriais como serragem, palha e borra de café. Esse processo não só reduz o desperdício, mas também diminui significativamente os impactos ambientais associados à produção de couro tradicional. A Muush emite cerca de 7 kg de CO₂ por metro quadrado de biocouro produzido, enquanto o couro bovino convencional emite entre 35 kg e 40 kg. Em 2023, a empresa captou R$ 1,8 milhão em uma rodada de investimento-anjo, visando expandir sua produção e comercialização.

Spiber: seda vegana por meio da fermentação microbiana

A japonesa Spiber é pioneira na produção de seda vegana utilizando fermentação microbiana. Em 2021, a empresa captou US$ 314 milhões para industrializar materiais sustentáveis, como seda, couro e lã, sem recorrer a produtos animais. A Spiber já colaborou com marcas renomadas, como Stella McCartney e The North Face, demonstrando a viabilidade de materiais bioengenheirados na moda de luxo.

ALT.Leather: couro biodegradável e livre de plásticos derivados do petróleo

A australiana ALT.Leather desenvolve um material alternativo ao couro, biodegradável e livre de plásticos derivados do petróleo. A empresa utiliza resíduos agrícolas e plantas cultivadas de maneira regenerativa para criar um bioplástico que serve como base para o material. Em 2023, a ALT.Leather captou US$ 1,1 milhão em uma rodada de investimento, com o objetivo de expandir sua produção e oferecer alternativas sustentáveis à indústria da moda.

Algaeing: tecidos biodegradáveis a partir de algas

A israelense Algaeing utiliza algas marinhas para criar tecidos biodegradáveis e corantes naturais. A empresa converte as algas em uma fórmula líquida que, combinada com celulose, resulta em fibras naturais com menor consumo de água e produção de resíduos em comparação aos métodos tradicionais. A Algaeing visa revolucionar a cadeia de suprimentos têxtil, oferecendo soluções mais verdes e sustentáveis para a moda.

Mercado em expansão: o crescimento das alternativas ao couro de origem biológica

O mercado de couro vegano de origem biológica está em ascensão, com previsões indicando um crescimento anual de 37,4% até 2034. Inovações como materiais feitos de resíduos de maçã, cogumelos e outros subprodutos agrícolas estão diversificando as opções disponíveis, tornando-as mais acessíveis e atraentes para consumidores e marcas. Esse crescimento reflete uma mudança significativa na indústria da moda em direção a práticas mais sustentáveis e éticas.

O papel das startups na transformação da moda

As startups mencionadas exemplificam a convergência entre biotecnologia e moda sustentável. Ao utilizar processos como fermentação microbiana e cultivo de micélio, essas empresas oferecem alternativas que reduzem o impacto ambiental e promovem o bem-estar animal. Além disso, a reutilização de resíduos agroindustriais na produção de biocouro contribui para a economia circular, minimizando o desperdício e a poluição.

O investimento significativo nessas tecnologias demonstra a confiança no potencial de transformação da indústria. Com o apoio de investidores e a colaboração com marcas estabelecidas, essas startups estão moldando um futuro onde a moda e a sustentabilidade coexistem harmoniosamente.

À medida que avançamos, é evidente que a biotecnologia desempenha um papel crucial na redefinição dos materiais utilizados na moda. As alternativas ao couro, seda e lã de origem animal não são mais conceitos distantes, mas realidades tangíveis que oferecem aos consumidores opções éticas e ecológicas. Essa evolução representa não apenas uma mudança nos materiais, mas também uma transformação na mentalidade da indústria e dos consumidores em relação ao que é possível e desejável no mundo da moda.

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