Em 2025, o Brasil vive um momento de transformação silenciosa, mas profunda, no campo da alimentação e da produção agrícola. Dois movimentos convergem para redefinir o futuro da comida: a agricultura regenerativa e o mercado de ingredientes plant-based. Ambos não são apenas tendências passageiras, mas respostas urgentes e inovadoras às crises ambientais, de saúde e sociais que enfrentamos.
O campo que se reinventa
A agricultura regenerativa surge como uma alternativa à monocultura intensiva e à degradação do solo. Em vez de extrair, ela busca devolver à terra o que foi retirado, promovendo a biodiversidade, o sequestro de carbono e a saúde do ecossistema. No Brasil, gigantes do agronegócio começam a adotar essas práticas. A ADM, por exemplo, anunciou um programa para implementar a agricultura regenerativa em 200 mil hectares de soja nos próximos cinco anos. A Bunge, por sua vez, planeja expandir seu programa de 250 mil para 600 mil hectares até 2026, investindo mais de US$ 20 milhões na iniciativa.
Essas ações não são apenas uma resposta às demandas do mercado, mas também uma estratégia para mitigar os impactos ambientais da agricultura convencional. A pecuária, por exemplo, é responsável por 74% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, segundo o Observatório do Clima. Portanto, a transição para práticas agrícolas regenerativas é essencial para reduzir a pegada de carbono do setor.
Ingredientes plant-based: a revolução no prato
Simultaneamente, o mercado de alimentos plant-based no Brasil experimenta um crescimento acelerado. Em 2023, as vendas de substitutos vegetais de carnes e frutos do mar alcançaram R$ 1,1 bilhão, um aumento de 38% em relação ao ano anterior. Esse movimento é impulsionado por uma crescente conscientização sobre os impactos da dieta tradicional à base de carne, tanto para a saúde humana quanto para o meio ambiente.
A pesquisa da Ingredion em parceria com a Opinaia revelou que até 90% dos consumidores brasileiros estariam dispostos a experimentar alimentos plant-based. Esse dado reflete uma mudança cultural significativa, onde o consumo consciente e a busca por alternativas mais saudáveis ganham protagonismo.
A conexão entre agricultura regenerativa e ingredientes plant-based
A interseção entre esses dois movimentos é clara: uma agricultura que respeita os ciclos naturais e promove a saúde do solo é a base para a produção de alimentos plant-based de qualidade. Ao adotar práticas regenerativas, os produtores não apenas melhoram a produtividade a longo prazo, mas também contribuem para a criação de uma cadeia de suprimentos mais sustentável e ética.
Além disso, iniciativas inovadoras estão surgindo para reduzir o desperdício de alimentos e o uso de plásticos. A startup Bio2Coat desenvolveu uma película comestível feita de ingredientes naturais que prolonga a vida útil das frutas sem a necessidade de embalagens plásticas. Esse tipo de inovação demonstra como a tecnologia pode ser aliada na construção de sistemas alimentares mais sustentáveis e circulares.
O futuro é agora
O Brasil, com sua vasta biodiversidade e potencial agrícola, tem a oportunidade de liderar essa revolução verde. A combinação de práticas agrícolas regenerativas com o crescimento do mercado de alimentos plant-based pode não apenas transformar o setor agropecuário, mas também posicionar o país como referência global em sustentabilidade alimentar.
Entretanto, para que essa transformação seja plena, é fundamental o apoio a políticas públicas que incentivem a adoção de práticas regenerativas e a produção de alimentos plant-based. O governo do Pará, por exemplo, anunciou a meta de recuperar 140 mil hectares de terras degradadas para produção sustentável até 2025, beneficiando 4 mil famílias. Iniciativas como essa são essenciais para criar um ambiente propício à inovação e à sustentabilidade no setor agrícola.
À medida que mais empresas e consumidores se engajam nessa jornada, a agricultura regenerativa e os ingredientes plant-based deixam de ser alternativas para se tornar a norma. Essa mudança não é apenas uma tendência de mercado, mas uma necessidade urgente para garantir a saúde do planeta e das futuras gerações.
Assim, a revolução verde que se desenha no horizonte não é apenas sobre o que comemos, mas sobre como produzimos, consumimos e respeitamos os ciclos naturais que sustentam a vida. É um movimento que convida todos — produtores, consumidores, empresas e governos — a repensar e reconstruir o sistema alimentar de forma mais justa, saudável e sustentável.
Leia também:
Financiando o futuro: proteínas alternativas a serviço do clima
Do algoritmo ao prato: como a IA está transformando a alimentação plant-based
Biotecnologia na moda: startups revolucionam com couro, seda e lã sem uso animal
Compartilhe: