O desperdício da indústria têxtil no momento da confecção sempre foi um fato conhecido que fez com que se procurasse desenvolver novos produtos voltados para o aproveitamento dessas sobras ou para que se permitisse que as mesmas fossem incorporadas ao processo produtivo de alguma forma.
Entretanto, a agilidade com que a indústria da moda se desenvolve em muitos aspectos, como, maquinário, estilo, conceitos, modelos, materiais e tantos outros, dificulta muitas vezes a assimilação dessa etapa a nível amplo e mantém elevado, tantas vezes, o desperdício de peças prontas entre coleções.
Mas é certo que não podemos deixar aqui de falar de sustentabilidade, um tema tão atual, tão em pauta em todo o planeta, onde 195 países, inclusive o Brasil, por enquanto, a ver, são signatários do Acordo do Clima, do chamado Acordo de Paris, que traça metas claras definidas no âmbito da Organização das Nações Unidas – ONU justamente a fim de reduzir danos ao meio ambiente e onde o item sustentabilidade aparece como forte quesito a ser trabalhado.
Reduzir o desperdício de qualquer item a ser descartado ambientalmente de forma inadequada é trabalhar sustentabilidade. Trabalhar a maneira como esse item é produzido, especialmente se de forma vegana, sem impacto animal, se com redução dos níveis de água, com menos danos ao entorno, igualmente.
Nessa linha, o desperdício de tecidos na indústria têxtil é atualmente um dos assuntos mais discutidos em termos de sustentabilidade na moda, em uma comunidade de moda mais consciente e engajada, pois, segundo relatório apresentado pela Fundação Ellen MacArthur, criada em 2010 com a missão de acelerar a transição rumo a uma economia circular e cujos parceiros são grandes companhias globais, a produção do setor, incluindo o cultivo de algodão, usa cerca de 93 bilhões de metros cúbicos de água por ano e menos de 1% das roupas produzidas é reciclada e transformada em outra roupa ou em outro produto com características diferentes.
Ou seja, fora o impacto ambiental provocado, não se identifica efetivamente retroalimentação na cadeia produtiva, como a possibilidade de criação de novos produtos, a utilização de reciclagem, o descarte consciente e com isso tudo, logicamente, a criação de novos empregos e o aumento da criatividade do setor como esperado em um cenário de economia circular.
Porém, ainda assim, com sorte, já se verifica no Brasil alguma boa reação consciente através do chamado movimento upcycling, liderado por algumas marcas com características mais jovens e inovadoras como a FARM e a INSECTA.
O movimento upcycling traz com como principal característica a recriação de roupas prontas de coleções anteriores, com foco na criação de coleções sustentáveis, em parceria com ateliers especializados, como é o caso da FARM e da Re-Roupa ou da criação de produtos elaborados com materiais de simples descarte, como é o caso da INSECTA que faz lindos tênis utilizando, ainda, o conceito do veganismo.
Ou seja, sapatos feitos com material de descarte, óculos de materiais alternativos, vestidos elaborados com camisas masculinas são apenas algumas das novas ideias que pretendem colaborar com o conceito da chamada economia circular, onde tudo se aproveita, se reutiliza e novamente se destina, a fim de deixar o mundo melhor, com muito estilo.
Vale destacar, inclusive, que esse hábito já não causa, mesmo no Brasil, qualquer estranheza ao dia a dia contemporâneo, ao contrário, se considera interessante, alternativo e acessível, em linha totalmente oposta ao que se acreditava sobre as marcas anteriormente.
Durante certo tempo moda sustentável era tida como algo artesanal e hippie, uma vez que os designers criativos, de forma independente, assumiram seu mercado, colocando nele peças desejáveis e, por trás do desenho atraente, sustentavam bandeiras como a do veganismo, a do uso de qualquer material de origem animal; o do fair trade, ou do comércio justo, com equilíbrio de preços em toda a cadeia produtiva; e do próprio upcycling, que já citamos. Além disso, optaram pela fabricação próxima e pela parceria com produtores menores como forma de estimular a economia local e reduzir a emissão de poluentes no transporte das mercadorias. A moda pegou e bem.
A responsabilidade coletiva é grande quanto a esse assunto e não apenas enquanto consumidores. A população mundial tende a atingir 9,8 bilhões de pessoas em 2050 segundo dados da ONU em relatório publicado em 2017.
Ou seja, diante desse número e seu impacto em todas as áreas, se torna essencial imaginar como reduzir, reutilizar e reciclar. Como repensar o consumo consciente e sustentável, comprar sem excessos, descartar adequadamente o lixo e as sobras reutilizáveis, inclusive para que elas possam ser utilizadas no processo de upcycling de um terceiro e colaborar na geração de um emprego diante das estimativas alarmantes da Quarta Revolução Digital.
As marcas nacionais que já vem caminhado em boas linhas com projetos seguindo conceitos de veganismo, aproveitamento de sobras, descartes, reciclagem e upcycling são:
- FARM – (upcycling) – Projeto envolvendo várias marcas e o projeto Re-Roupa. Aproveita roupas com pequenos defeitos de coleções anteriores e cria novas peças.
- INSECTA – (veganismo e upcycling) Tênis com roupas usadas, peças vintages e descartes de pneus. Mochilas. Tiragem limitada.
- GIOCONDA – Calcinhas de Algodão, Quimonos e Lingerie.
- CATARINA MINA – Bolsas e Clutchs
- SVETLANA – (veganismo) Não usa Couro, Seda ou Lã. Já trabalhou com Jean Paul Gaultier, Moschino e Stella McCartney.
- ZEREZES – (upcycling) Óculos de 40% Madeira e Resina.
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