A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou o seu relatório anual sobre o estado da alimentação e da agricultura. No entanto, o relatório deste ano tem um foco inovador, direcionando a atenção para os custos econômicos reais associados ao sistema alimentar atual. Neste artigo, exploraremos as principais descobertas do relatório, destacando as implicações dos custos ocultos e as medidas recomendadas pela FAO.

Os Custos de Saúde e os Problemas das Dietas Inadequadas

O real custo dos alimentos vai muito além da conta do mercado. De acordo com o relatório da FAO, os sistemas agroalimentares carregam consigo custos ocultos significativos, totalizando pelo menos 10 bilhões de dólares por ano. Surpreendentemente, esse valor representa quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) global. A maior parcela desses custos (mais de 70%) está associada aos custos de saúde resultantes de dietas inadequadas. Especificamente, o consumo excessivo de gordura, açúcar e alimentos processados tem levado a uma epidemia global de obesidade e doenças crônicas. Os impactos dessas doenças prejudicam a produtividade e estão particularmente presentes em países de renda média-alta e alta. Em contraste, em países de baixa renda, os custos sociais decorrem da pobreza e da perda de produtividade devido à subnutrição.

Muitos especialistas em saúde concordam que uma abordagem baseada em alimentos vegetais é uma opção mais saudável. As Recomendações Nutricionais Nórdicas recentemente atualizadas recomendam uma dieta rica em vegetais, frutas, grãos integrais, legumes e nozes, com a redução do consumo de carne. Um importante consultor científico da União Europeia também destacou as dietas baseadas em vegetais como uma ferramenta crucial na luta contra a obesidade.

Os Custos Ambientais do Sistema Alimentar

Outra descoberta alarmante do relatório da FAO é que cerca de um quinto dos custos ocultos do sistema alimentar estão relacionados a danos ambientais. Isso inclui emissões de gases de efeito estufa, poluição de nitrogênio, uso excessivo de recursos hídricos e mudanças no uso da terra. Esses custos ambientais impactam todos os países, e é provável que o custo real seja ainda maior do que as estimativas atuais, devido às limitações de dados.

A produção de carne, em particular a carne bovina, é identificada como uma das principais contribuintes para esses custos ambientais. A criação de gado demanda até 99% mais terra e água do que alternativas à base de plantas. Pesquisas recentes também sugerem que a substituição de metade dos alimentos de origem animal por alternativas vegetais poderia desacelerar significativamente o desmatamento.

A Contabilidade do Custo Real dos Alimentos

Diante dessas descobertas preocupantes, a FAO faz um apelo a governos e empresas para adotarem uma Contabilidade de Custos Reais (TCA), visando a medição detalhada dos custos ocultos associados ao sistema agroalimentar. A ideia é que, ao entender melhor esses custos, se possa trabalhar para mitigar os danos causados pelo sistema alimentar. O relatório enfatiza a “inegável urgência” da transformação desse sistema.

Pela primeira vez, a FAO planeja dedicar duas edições consecutivas do relatório ao mesmo tema. No próximo ano, o foco será em estratégias para mitigar os custos ocultos no sistema alimentar.

O Diretor-Geral da FAO, Qu Dongyu, espera que este relatório sirva como um apelo à ação para todas as partes interessadas, desde os formuladores de políticas e atores do setor privado até pesquisadores e consumidores. Ele espera que isso inspire um compromisso coletivo para a transformação dos sistemas agroalimentares visando a melhoria geral de todos. Em última análise, o relatório da FAO destaca a necessidade premente de repensar o sistema alimentar global e abordar o custo dos alimentos, principalmente os custos ocultos para garantir um futuro mais saudável e sustentável.

Imagem de capa: Unsplash

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Por Nadia Gonçalves em 6 de novembro
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