A busca por alternativas sustentáveis ao couro animal e sintético vem impulsionando o mercado de couros veganos de origem biológica. De acordo com uma previsão de mercado da IDTechEx para os próximos 10 anos, a capacidade de produção desse setor deverá crescer a uma taxa composta anual (CAGR) de 37,4% entre 2024 e 2034.

O couro é amplamente valorizado por sua durabilidade, resistência e apelo estético. No entanto, segundo estimativas da ONU, a produção anual de couro animal ultrapassa 20 bilhões de pés quadrados, contribuindo significativamente para as emissões de gases de efeito estufa e o desmatamento. Além disso, o processo de curtimento do couro libera substâncias químicas e gases tóxicos, como chumbo, cromo, arsênio e aminas aromáticas cancerígenas.

Por outro lado, o couro vegano feito a partir de plásticos, alternativa comum devido ao seu baixo custo, também traz problemas ambientais, incluindo o uso de matérias-primas petroquímicas, dificuldades de descarte por não ser biodegradável e a poluição por microplásticos.

Com o objetivo de criar versões sustentáveis do couro animal, tecnologias inovadoras atraíram investimentos superiores a US$ 1 bilhão. Muitas dessas iniciativas já alcançaram sucesso e estão prontas para expandir a produção em escala comercial.

De micélio e resíduos de maçã a bactérias e células

A IDTechEx identificou mais de 70 empresas que desenvolvem alternativas de couro vegano de origem biológica, variando em tamanho, desde pequenas startups até empresas que arrecadaram centenas de milhões em financiamento para ampliar suas operações. A maioria dessas empresas surgiu nos últimos 3 a 5 anos.

As alternativas ao couro de origem biológica variam em preço, resistência, durabilidade e aparência, e se dividem em várias categorias:

  • Couro de micélio: Feito a partir das raízes de fungos, criando redes entrelaçadas que se assemelham à textura do couro animal. Entre as empresas do setor estão a MycoWorks, que produz o material Reishi, e a Bolt Threads, que lançou o Mylo para uso em bolsas, calçados e roupas esportivas. A marca Ephea, da empresa italiana SQUIM, também oferece alternativas voltadas para a moda de luxo e a indústria automotiva. Outro relatório da IDTechEx aponta o couro de micélio como um forte candidato na busca por materiais sustentáveis, devido às suas características duráveis e ecológicas.
  • Couro plant-based: Derivado de fibras ou polpas vegetais, imita as propriedades do couro tradicional. Um dos principais desafios dessas alternativas é a aplicação de revestimentos sem plástico. Inovações nesse campo incluem materiais feitos de fontes inusitadas, como bananas, folhas de parques, resíduos de maçã, flores de templo, cana-de-açúcar, resíduos de abacaxi, grãos, uvas, cactos, agave, resíduos de cevada da produção de cerveja e resíduos de chá.
  • Couro microbiano: Produzido através de processos de fermentação usando microrganismos, como bactérias. A startup de biomateriais dos EUA, GOZEN, desenvolveu um tecido inovador para os setores de moda, automotivo e de decoração. Esse material, de origem microbiana, foi apresentado em um casaco da Balenciaga este ano. A startup espanhola Polybion utiliza fermentação microbiana e reciclagem de resíduos alimentares para produzir o Celium, uma alternativa premium ao couro animal e sintéticos derivados de petróleo. A Modern Synthesis, de Londres, também cria materiais biodegradáveis. Em uma conquista semelhante, pesquisadores do Imperial College London desenvolveram, utilizando bactérias, um couro vegano sem plástico que se tinge de preto durante a produção.
  • Couro cultivado: Não é uma alternativa, mas sim couro animal verdadeiro cultivado a partir de células da pele em biorreatores. Entre as startups nesse campo desafiador estão a VitroLabs, sediada em São Francisco; a ProjectEx, de Singapura, que cultiva couro de espécies exóticas; a Qorium, startup de biotecnologia holandesa; e a empresa britânica de agricultura celular 3D Bio-Tissues (3DBT).

Formação de parcerias comerciais

Segundo o relatório, várias empresas de couro de micélio e plant-based estão ampliando suas operações e lançando fábricas em larga escala. A publicação da IDTechEx destaca parcerias entre marcas como Zara, Burberry, H&M, Hermes, Nike e Ganni com startups de couro de origem biológica. No setor automotivo, montadoras como BMW, Bentley, Cupra, Hyundai, Mercedes-Benz e Volkswagen estão incorporando materiais sustentáveis em seus interiores. Uma pesquisa da PETA também identificou um aumento significativo de marcas oferecendo interiores de carros veganos em todo o mundo.

O relatório “Emerging Alternative Leathers 2024-2034” analisa a trajetória de mercado, os principais atores e as tecnologias emergentes dessas alternativas.

Confira a matéria publicada na vegconomist.

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