Um estudo recente publicado na revista Nutrients trouxe novos questionamentos sobre a reputação da carne de frango como uma alternativa mais saudável à carne vermelha. A pesquisa investigou a relação entre o consumo de carne de aves e a incidência de cânceres gastrointestinais, além de outras causas de mortalidade.

Embora o frango e outras carnes brancas sejam amplamente promovidos como opções “mais leves” em comparação às carnes vermelhas, os dados sugerem que essa percepção pode estar desatualizada — especialmente diante dos impactos da industrialização dos alimentos.

Segundo dados do Instituto ISMEA (2013), o consumo semanal de carne de aves girava em torno de 13,3 kg per capita no mundo, com aumento constante ao longo dos anos também na Itália, onde o estudo foi conduzido. Lá, o consumo per capita passou de 11,7 kg para 12,7 kg em uma década.

Vale lembrar que o termo “carne de aves” abrange frangos, perus, patos, gansos, codornas e outras aves. As Diretrizes Alimentares Americanas sugerem porções de 100 g consumidas entre uma a três vezes por semana. Na teoria, a carne de frango tem menos gordura que outros tipos de carne — mas na prática, a realidade da indústria é outra.

Com o aumento da produção em massa, uma parcela crescente desses produtos chega ao consumidor em formatos ultraprocessados, como hambúrgueres, espetinhos, empanados e outros itens prontos. Estima-se que 26% das carnes de frango sejam consumidas já processadas, com adição de sódio, gorduras saturadas, açúcares e conservantes que comprometem seu valor nutricional.

A Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC) já classificou as carnes processadas como cancerígenas para humanos, enquanto as carnes vermelhas são “provavelmente cancerígenas”. Mas o papel das carnes brancas nesse cenário ainda não estava claro — até agora.

O que o estudo analisou?

A pesquisa acompanhou 4.869 participantes de duas coortes italianas, usando um questionário alimentar padronizado. O consumo de carne foi dividido em faixas semanais — de menos de 200 g até mais de 400 g para carnes no geral; e de menos de 100 g até mais de 300 g para carnes de frango especificamente.

Os resultados mostraram que cerca de 21% dos participantes haviam falecido até o fim do estudo, com média de idade de 81 anos. Dentre essas mortes, 11% foram causadas por cânceres gastrointestinais (principalmente câncer colorretal), 18% por outros tipos de câncer, e o restante por doenças cardiovasculares e demência.

O papel da carne na mortalidade

Entre as pessoas que faleceram por cânceres não gastrointestinais, mais de 65% da carne consumida era vermelha. Já entre aquelas que morreram por câncer gastrointestinal, a carne branca — principalmente de frango — representou uma parcela significativa do consumo.

Os dados mostram uma correlação direta entre o consumo elevado de carne de frango e o aumento nas mortes por câncer gastrointestinal. Aqueles que ingeriam mais de 300 g de frango por semana apresentaram um risco 127% maior de morrer por esse tipo de câncer — entre os homens, esse risco subiu para 161%.

Mesmo consumos menores, entre 100 e 200 g por semana, já foram associados a um aumento de 65% no risco de morte por câncer gastrointestinal, o que indica uma relação dose-dependente. Em contrapartida, o consumo moderado de carne total (entre 200 e 300 g por semana) pareceu estar ligado a uma menor mortalidade geral — especialmente entre os homens.

Um alerta necessário

Embora mais estudos sejam necessários para confirmar esses achados e entender melhor os efeitos da carne de frango processada, os dados já levantam um sinal de alerta. A ideia de que o frango é sempre uma “escolha segura” pode estar sendo superestimada — especialmente quando se considera o alto grau de processamento presente na maioria dos produtos disponíveis no mercado.

No contexto atual, onde se discute cada vez mais os impactos da alimentação na saúde e no meio ambiente, o estudo reforça a importância de repensarmos nossos hábitos alimentares. E, claro, reforça o protagonismo de dietas baseadas em vegetais como caminhos mais seguros e sustentáveis para o futuro.

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