A biotecnologia tem desempenhado um papel fundamental na transformação da indústria alimentícia, especialmente no desenvolvimento de produtos plant-based que buscam replicar as características sensoriais e nutricionais dos alimentos de origem animal. Essas inovações não apenas atendem à crescente demanda por alternativas sustentáveis e éticas, mas também oferecem soluções para os desafios ambientais associados à produção convencional de alimentos.
Avanços na produção de proteínas vegetais
Uma das áreas mais impactadas pela biotecnologia é a produção de proteínas vegetais. Pesquisas recentes têm se concentrado em identificar e otimizar proteínas vegetais que mimetizem as propriedades funcionais dos ovos, como a capacidade de emulsificar e formar géis a baixas temperaturas. Empresas como a Shiru utilizam inteligência artificial para analisar vastos bancos de dados de sequências proteicas naturais, visando encontrar proteínas que atendam a esses critérios específicos. Essas abordagens têm o potencial de revolucionar a indústria de substitutos de ovos, oferecendo produtos mais próximos das versões tradicionais em termos de desempenho culinário.
Inovações em lácteos vegetais
A produção de laticínios vegetais também tem se beneficiado de avanços biotecnológicos. O projeto europeu Delicious, por exemplo, busca desenvolver alternativas de queijos e kefir plant-based que sejam acessíveis, seguras e saborosas. Utilizando fermentação microbiana e matérias-primas vegetais, o projeto visa superar desafios como a replicação do sabor, textura e valor nutricional dos produtos lácteos tradicionais. Além disso, a iniciativa pretende reduzir o impacto ambiental da produção de laticínios em até 30%, contribuindo para a sustentabilidade do setor alimentício.
Produção de proteínas microbianas
Outra inovação significativa é a produção de proteínas unicelulares (PU), que envolve o uso de microrganismos como leveduras, fungos e bactérias para gerar biomassa rica em proteínas. Essas proteínas podem servir como ingredientes ou substitutos de alimentos ricos em proteínas, oferecendo uma alternativa eficiente e sustentável às fontes tradicionais. A produção de PU não requer solo fértil e tem uma pegada hídrica significativamente menor, utilizando resíduos agrícolas ou até mesmo eletricidade como fonte de carbono. Estudos indicam que a produção de proteína microbiana acionada por energia fotovoltaica pode utilizar 10 vezes menos terra para uma quantidade equivalente de proteína em comparação com o cultivo de soja.
Investimentos e crescimento do mercado
O setor de proteínas alternativas tem atraído investimentos significativos nos últimos anos. Em 2020, as empresas americanas de carne, ovos e laticínios plant-based captaram US$ 2,2 bilhões, triplicando o valor de 2019. O mercado de varejo de produtos plant-based nos EUA atingiu US$ 7 bilhões no mesmo ano. Além disso, as empresas de carne à base de células captaram US$ 366 milhões, aumentando quase seis vezes em relação a 2019, evidenciando o crescente interesse e potencial do mercado de proteínas alternativas.
Perspectivas futuras
O avanço contínuo da biotecnologia na produção de alimentos plant-based promete não apenas diversificar as opções alimentares disponíveis, mas também contribuir para a redução do impacto ambiental da produção de alimentos. Com investimentos em pesquisa e desenvolvimento, espera-se que os produtos plant-based se tornem mais acessíveis e atrativos para uma parcela maior da população, apoiando a transição para dietas mais sustentáveis. À medida que a tecnologia avança, é provável que testemunhemos uma expansão contínua desse mercado, com inovações que atendam às expectativas sensoriais e nutricionais dos consumidores.
A integração da biotecnologia na produção de alimentos plant-based representa um passo significativo em direção a um sistema alimentar mais sustentável e ético, alinhando-se às crescentes preocupações ambientais e de bem-estar animal da sociedade contemporânea.
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