A Heura Foods, referência espanhola em carnes vegetais, acaba de dar mais um passo importante na construção de um modelo de negócios sustentável e lucrativo. Com sede em Barcelona, a foodtech anunciou um aporte de €20 milhões concedido pelo Banco Europeu de Investimento (BEI) — recurso que será destinado à inovação, ampliação da produção e desenvolvimento de novos produtos plant-based, com foco em nutrição avançada.
Esse novo investimento soma-se aos €40 milhões captados na rodada Série B em 2023, elevando o total arrecadado pela empresa para €108 milhões. Mais do que capital, o montante simboliza a confiança institucional na visão da marca: criar um sistema alimentar mais saudável e sustentável, sem abrir mão de sabor ou qualidade nutricional.
Crescimento robusto e foco na lucratividade
A Heura encerrou 2024 com €38 milhões em vendas — repetindo o desempenho do ano anterior —, mas com um avanço notável em rentabilidade: conseguiu cortar suas perdas pela metade. Com uma estratégia afinada, a empresa prevê fechar 2025 no azul já no último trimestre, e consolidar seu primeiro ano completamente lucrativo em 2026.
Boa parte desse resultado vem do fortalecimento no sul da Europa, onde a Heura registrou crescimento de 35% em mercados como Itália, França e Portugal. A operação espanhola também se manteve sólida, garantindo à empresa a liderança no segmento de carnes vegetais no país. Hoje, sete dos dez produtos plant-based mais vendidos na Espanha levam a marca Heura, incluindo o presunto estilo York, responsável por impulsionar em 60% o crescimento da categoria.
Inovação como motor de transformação
A proposta da Heura vai além da substituição da carne animal: trata-se de uma reformulação profunda da forma como comemos. Segundo o CEO e cofundador Marc Coloma, a marca quer “reconectar as pessoas com os sabores que tocam a alma”, combinando prazer sensorial com excelência nutricional.
Com esse propósito em mente, a empresa está ampliando seu portfólio e entrando em novas categorias, como frios vegetais com alto valor nutricional, queijos sem laticínios e massas ricas em proteínas. A estratégia é clara: responder à crescente demanda por produtos saudáveis e limpos, em um momento em que as críticas aos alimentos ultraprocessados vêm ganhando força na Europa.
Em eventos como o Future Food-Tech de Londres, a Heura apresentou inovações como massas feitas com sêmola de trigo e isolado proteico de soja — com 60% de teor proteico e 74% menos carboidratos. Também foram reveladas versões plant-based de queijos como feta, parmesão e mozzarella, com baixo teor de gordura saturada e alto índice proteico.
Redefinindo o futuro da alimentação — sem aditivos, sem excessos
A Heura quer ser parte ativa da solução frente à percepção negativa sobre o mercado de alternativas vegetais. Em vez de recorrer a aditivos e amidos modificados, aposta em tecnologias que priorizam ingredientes acessíveis, naturais e que dispensam aprovação regulatória.
“Quem não gostaria de trocar gorduras saturadas, carboidratos simples e aditivos por alimentos densos em nutrientes, à base de proteínas vegetais e lipídios saudáveis?”, questiona Coloma. Segundo a marca, os novos produtos ainda estão em desenvolvimento, mas já passaram por testes sensoriais — e prometem redefinir o conceito de sabor e saúde no universo plant-based.
Consolidação, eficiência e presença estratégica
Fundada em 2017, a Heura já está presente em mais de 20 mil pontos de venda em 20 países. Mas diante de um mercado cada vez mais exigente e de um cenário desafiador para startups de proteína alternativa, a empresa revisou sua atuação. Reduziu sua presença no Reino Unido, Suíça e Áustria para concentrar forças onde está crescendo de fato — o sul da Europa.
Tudo isso sem demissões, graças a um plano robusto de eficiência operacional. Além disso, a marca vem ampliando sua atuação no foodservice com parcerias estratégicas com a companhia aérea Vueling, a rede de fast food Rodilla, a linha de cruzeiros Royal Caribbean e até eventos como os shows da turnê Eras Tour de Taylor Swift em Madri.
Apoio europeu para acelerar a transição alimentar
A aposta do BEI na Heura faz parte do programa InvestEU, iniciativa que visa mobilizar até €372 bilhões em investimentos públicos e privados até 2027, com foco em inovação, segurança alimentar e sustentabilidade.
“Com esse acordo, estamos impulsionando o ecossistema de startups da Europa e atendendo a novas demandas dos consumidores por alimentos mais sustentáveis”, afirmou Nadia Calviño, presidente do Grupo BEI.
Autoridades da União Europeia veem esse movimento como uma resposta estratégica às necessidades da cadeia alimentar do futuro — mais resiliente, menos dependente de importações e com maior autonomia na produção de proteínas vegetais.
Enquanto o debate sobre o impacto ambiental e a saúde alimentar continua, a Heura se posiciona não apenas como fornecedora de produtos, mas como agente de mudança. E mostra que, mesmo em um setor em transição, é possível crescer, inovar e gerar impacto positivo — com sabor e propósito.
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