A Ecovative, empresa referência no desenvolvimento de soluções com micélio, acaba de captar US$ 11 milhões em uma nova rodada de investimentos. O objetivo é impulsionar a expansão acelerada do MyBacon – alternativa vegetal ao bacon tradicional, produzida a partir de micélio pela sua spin-off, a MyForest Foods.
Grande parte desse novo aporte vem de investidores que já acompanham a trajetória da Ecovative, além de um subsídio e empréstimo no valor de US$ 1,7 milhão concedidos pela Advance Albany County Alliance. A quantia será destinada principalmente ao aumento da capacidade produtiva do MyBacon, como detalhou Eben Bayer, fundador e CEO da empresa, em entrevista ao Green Queen.
Desde 2019, a Ecovative já atraiu US$ 156 milhões em investimentos, sendo US$ 82 milhões direcionados à MyForest Foods. Com os recursos mais recentes, a empresa pretende contratar novas equipes, ampliar sua operação fabril, desenvolver um novo produto em formato whole-cut de micélio e estrear no canal de foodservice.
“Cada centavo desse investimento está sendo direcionado para escalar o negócio e levar ao mercado produtos de micélio com alta performance”, afirma Bayer.
A tecnologia por trás do sucesso é o AirMycelium – sistema proprietário da Ecovative que permite cultivar micélio em larga escala, de forma vertical, ocupando pouquíssimo espaço físico. Segundo a empresa, é possível produzir três milhões de pés quadrados de material por ano em apenas um acre de terra.
Além do setor alimentício, o micélio cultivado pela Ecovative também é usado como matéria-prima para alternativas sustentáveis ao plástico e ao couro, através de suas marcas Forager, Mushroom Packaging e Grow.bio.
Por que o MyBacon está superando os concorrentes?
O destaque dessa nova rodada de investimentos é a MyForest Foods. Seu produto principal, o MyBacon, já é considerado o item de café da manhã plant-based com maior velocidade de venda no mercado natural norte-americano – vendendo três vezes mais rápido que os concorrentes, segundo a própria empresa. Hoje, ele está presente em mais de 1.200 pontos de venda, incluindo redes como Whole Foods, Erewhon e Fresh Direct, além de plataformas D2C como Hungryroot, Purple Carrot e Good Eggs.
Mas o que está por trás desse sucesso? Para Bayer, a resposta é simples: “O MyBacon entrega uma experiência parecida com a da carne porque é cultivado como um alimento inteiro. Nós colhemos o micélio gourmet, adicionamos apenas sal, açúcar, aroma defumado e fazemos a pasteurização. É isso. Não estamos tentando imitar carne com uma fórmula complexa cheia de aditivos – estamos cultivando um tecido que naturalmente tem textura e sabor semelhantes à carne.”
No momento em que as alternativas vegetais à carne enfrentam críticas por serem rotuladas como ultraprocessadas – um debate que se intensificou com a chegada de Robert F. Kennedy Jr. à Secretaria de Saúde dos EUA – a abordagem da MyForest Foods se diferencia pela simplicidade.
“Nossa produção é direta: cultivamos o micélio, fatiamos e curamos com apenas quatro ingredientes – açúcar, sal, óleo de coco e aromas naturais. Sem moagem, sem liga, sem engenharia de textura. O micélio já cresce com estrutura semelhante à carne”, completa Bayer. “Estamos deixando a biologia fazer o trabalho, assim como acontece na pecuária tradicional. Só que de uma forma mais limpa e sustentável.”
Novidades no cardápio e expansão para o foodservice
Os novos recursos financeiros também vão acelerar a produção de novos produtos. Um deles é uma versão do micélio em tiras, pensada para outras aplicações culinárias além do bacon, mantendo os mesmos princípios: estrutura inteira, poucos ingredientes e ótima performance na cozinha. Chefs que testaram a novidade destacaram a versatilidade e a capacidade de absorver sabores.
O MyBacon, inclusive, acaba de ser reconhecido com um prêmio FABI pela National Restaurant Association – um selo importante da indústria de foodservice, especialmente em um momento em que a empresa se prepara para entrar nesse mercado ainda em 2025.
A Ecovative acaba de concluir a construção de uma nova unidade de embalagem em sua sede, em Green Island, triplicando sua capacidade de produção. Além disso, está prestes a inaugurar um laboratório voltado ao desenvolvimento de novos cortes inteiros de micélio para alimentação.
Crescendo mesmo em tempos difíceis
Enquanto muitos players do mercado de proteínas alternativas enfrentam dificuldades para atrair investimentos, a Ecovative segue nadando contra a maré. Em 2024, quando o volume de aportes no setor caiu 27%, a empresa captou US$ 28 milhões – parte deles já direcionada à expansão do MyBacon.
“O mercado criou uma bolha baseada em promessas que não se sustentaram tecnicamente na escala industrial. Muitas empresas lançaram produtos sem atender às expectativas dos consumidores em sabor, preço ou composição. Isso gerou um ambiente difícil e instável, com várias marcas recuando ou até saindo de cena, o que também preocupa os varejistas”, explica Bayer.
O MyBacon, por outro lado, mantém uma taxa de recompra alta, vende mais caro que os concorrentes e ainda assim supera em desempenho. “Nosso marketing é baseado em degustações e no boca a boca. Nossa estrutura de produção é mais enxuta em termos de capital e já temos um caminho claro para margens operacionais interessantes”, afirma o CEO.
“Trabalhamos com um alimento real, cultivado a partir de micélio de cogumelos orgânicos. Utilizamos equipamentos e processos existentes, adaptados especialmente para o cultivo de micélio. Isso reduz bastante o investimento necessário, embora não o elimine por completo.”
Para 2025, os planos são claros: ampliar a capacidade de produção para atender à demanda crescente, expandir a presença no varejo em todo o território norte-americano e lançar novos produtos à base de micélio.
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