A indústria global de cosméticos está vivenciando uma transformação significativa, especialmente com as recentes mudanças nas políticas da China, um dos maiores mercados de beleza do mundo. Historicamente, a China exigia que todos os cosméticos importados fossem submetidos a testes em animais, criando um dilema ético para marcas que prezam por práticas cruelty-free. No entanto, a China já deu um passo importante ao flexibilizar essas exigências, permitindo que cosméticos importados considerados “comuns” fossem comercializados sem a necessidade de testes em animais.
A mudança nas regulamentações chinesas
A mudança nas políticas chinesas foi formalizada pela Administração Geral de Supervisão de Qualidade, Inspeção e Quarentena (AQSIQ) e pela Administração Geral de Supervisão de Alimentos e Medicamentos (SFDA). Atualmente, cosméticos importados classificados como “comuns” — como shampoos, blushes, máscaras e perfumes — puderam ser comercializados na China sem a exigência de testes em animais, desde que os fabricantes apresentassem certificados de Boas Práticas de Fabricação (GMP) e avaliações de segurança.
Impacto no mercado global de beleza
Essa mudança abriu as portas do vasto mercado chinês para marcas que anteriormente evitavam a região devido às exigências de testes em animais. Empresas como a australiana BWX, dona das marcas Sukin, Andalou Naturals e Mineral Fusion, viram nessa alteração uma oportunidade de expandir sua presença na China sem comprometer seus valores éticos. Dave Fenlon, CEO da BWX, afirmou que a mudança é um “divisor de águas”, destacando o interesse dos consumidores chineses por produtos naturais e éticos.
Desafios persistentes e oportunidades
Embora a flexibilização tenha sido um avanço significativo, alguns desafios permanecem. Produtos classificados como “especiais”, incluindo antitranspirantes, protetores solares e produtos para crianças, ainda estão sujeitos a testes em animais. Além disso, a exigência de certificados GMP emitidos por autoridades governamentais do país de origem pode ser um obstáculo para marcas de países que não possuem sistemas estabelecidos para tal certificação.
A influência no mercado brasileiro
Para o mercado brasileiro, as mudanças na China oferecem uma perspectiva promissora. Marcas nacionais que adotam práticas cruelty-free podem agora considerar a exportação para a China com maior viabilidade, alinhando-se às novas regulamentações e atendendo à demanda crescente por produtos éticos. Além disso, a mudança pode inspirar uma reflexão sobre as próprias práticas de teste de cosméticos no Brasil, incentivando uma adoção mais ampla de métodos alternativos e éticos.
O papel das organizações internacionais
Organizações como a Cruelty Free International (CFI) desempenharam um papel crucial na promoção de mudanças nas políticas chinesas. Por meio de parcerias com autoridades chinesas, a CFI facilitou a transição para métodos de teste sem animais, contribuindo para a evolução das regulamentações e apoiando marcas que desejam ingressar no mercado chinês sem comprometer seus princípios éticos.
O caminho adiante
À medida que a China avança em direção a práticas mais éticas na indústria cosmética, espera-se que outros países sigam o exemplo, adotando regulamentações que favoreçam métodos de teste alternativos e promovam a transparência no desenvolvimento de produtos. Essa tendência reflete uma mudança global na percepção dos consumidores, que estão cada vez mais conscientes e exigentes em relação às práticas éticas das marcas que escolhem apoiar.
Em suma, a decisão da China de flexibilizar as exigências de testes em animais para cosméticos importados representa um marco significativo na evolução da indústria de beleza global. Essa mudança não apenas beneficia marcas éticas ao abrir novos mercados, mas também sinaliza uma transformação na consciência coletiva sobre a importância de práticas empresariais responsáveis e compassivas.
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