Embora ainda não seja comercializada, há sinais de que a carne baseada em células será a próxima tendência no mercado.

Isso tudo porque, apesar de não chamar a atenção de muitos consumidores, a carne à base de células aguçou o apetite dos investidores. Os investimentos em startups de carne cultivada aumentaram mais de 120% entre 2018 e 2019.

A corrida para levar a carne cultivada em laboratórios para as prateleiras dos supermercados e cozinhas dos restaurantes está esquentando. Enquanto isso, o trabalho nos laboratórios está a todo vapor; com foco no cultivo de carne e frutos do mar baseados em células – também conhecidos como “limpos” ou “cultivados”.

Ao contrário das carnes vegetais, que cresceram em popularidade em todo o mundo, a carne cultivada é uma alternativa totalmente produzida em laboratório, a partir de células animais. Portanto, preservam as características do produto animal, sem toda implicação climática e de saúde pública atrelada à agropecuária.

Desafios para a carne baseada em células

A carne cultivada, apesar de já estar em produção, enfrenta importantes desafios. Dentre estes: redução de custos; aumento de escala e aprovação regulamentar. Bem como, o simples fato de que nenhum produto de carne cultivado em laboratório chegou ao mercado ainda.

De acordo com um novo relatório da IDTechEx, os consumidores ainda são notoriamente céticos em relação à biotecnologia, especialmente em alimentos. No entanto, se considerarmos que a indústria da carne, em sua forma atual, é insustentável e ineficiente, a carne cultivada pode oferecer uma resposta para a questão alimentar nos próximos anos.

Apesar do consumo crescente, o fato de que a produção de carne está prejudicando o meio ambiente e contribuindo para as mudanças climáticas é mais conhecido e divulgado a cada dia. Neste contexto, substituições realistas e acessíveis para a carne serão necessárias antes que uma mudança significativa da indústria de carne convencional possa acontecer. Assim, os avanços em biotecnologia podem ser a resposta.

Reduzir custos, aumentar escala e conseguir aprovação regulamentar são desafios menos complexos, se considerarmos a necessidade de conquistar os consumidores. Um estudo recente da University of Sydney e da Curtin University revelou que 72% da Geração Z – definida pelo estudo como indivíduos nascidos entre 1995 e 2002 – não está pronta para aceitar carne cultivada em laboratório, apesar do fato de que elimina o precisa abater animais.

Líderes na revolução da carne cultivada

Mosa Meat

A Mosa Meat, fundada em 2013 pelo Dr. Mark Post da Universidade de Maastricht, criou o primeiro hambúrguer produzido a partir de células musculares bovinas cultivadas em laboratório que custou € 250.000 para ser feito e foi financiado pelo co-fundador do Google GOOG, Sergey Brin. Atualmente a empresa projeta que pode cultivar um hambúrguer de “carne” por cerca de € 9 (US$ 10,62).

Em setembro/20, a startup anunciou $ 55 milhões como parte de uma rodada de investimentos da Série B, liderada pelo fundo de tecnologia de alimentos Blue Horizon Ventures, com sede em Luxemburgo. Ele se junta aos investidores existentes, o Bell Food Group da Suíça e à M Ventures, o braço de capital de risco da farmacêutica alemã Merck KGaA MKKGY. A Mosa Meat está focada em ampliar o processo de produção e colocar seus primeiros produtos no mercado nos próximos três a quatro anos.

Memphis Meat

Do mesmo modo, a Memphis Meats, startup sediada na Califórnia, foi fundada pelo cardiologista Dr. Uma Valeti e pelo biólogo celular Dr. Nicholas Genovese em 2015. A empresa também usa células musculares bovinas para cultivar produtos à base de carne, mas já produziu nuggets de frango em cultura e almôndegas de carne, bem como, tecido de pato.

No início do ano, a Memphis Meat levantou $ 161 milhões em uma rodada da Série B, a maior já concluída por uma empresa de carne cultivada, atraindo investidores de alto perfil, incluindo Bill Gates e Richard Branson. Também conta com os gigantes da indústria de carnes Cargill e Tyson Foods TSN entre seus patrocinadores.

Aleph Farms

A Aleph Farms é uma startup israelense que cria carnes cultivadas usando tecnologia 3D. O processo envolve o uso de uma estrutura especialmente projetada para co-cultivar músculos, gordura e tecido conjuntivo, com a vasculatura para produzir um bife totalmente formado em três a quatro semanas.

Segundo comunicado da própria empresa, suas tecnologias permitem que vários tipos de células cresçam juntos em uma forma complexa, o que historicamente tem sido um grande esafio para o desenvolvimento de produtos de carne estruturados.

O objetivo da Aleph é chegar ao mercado em três a quatro anos. Os bifes serão cultivados em “bio-fazendas”, grandes instalações com tanques semelhantes aos vistos em fábricas de laticínios ou cervejarias.

BlueNalu

Outra startup que está fazendo acontecer quando o assunto é carne baseada em células, é a BlueNalu. Sediada em San Diego, Califórnia, a empresa está desenvolvendo produtos de frutos do mar diretamente de células de peixes usando aquicultura celular. No processo, células vivas são isoladas de tecidos de peixes, colocadas em meios de cultura para proliferação e, em seguida, montadas em frutos do mar frescos e congelados.

A BlueNalu planeja produzir uma ampla gama de espécies marinhas, mas está inicialmente se concentrando em peixes finos. Recentemente, demonstrou que seu produto em as mesmas características culinárias das versões convencionais, podendo ser preparados na forma crua ou cozida.

Em fevereiro/20, a empresa arrecadou US$ 20 milhões na Série A, que incluía a KBW Ventures, liderada pelo empresário saudita Príncipe Khaled bin Alwaleed bin Talal. Os investidores estratégicos incluíram a empresa holandesa de nutrição animal Nutreco e a empresa de desenvolvimento de produtos da indústria alimentícia Griffith Foods.

Em seu site, a empresa informa que seus produtos serão produzidos de uma forma que seja saudável para as pessoas, humana para os animais e sustentável para o nosso planeta

Flinless Foods

Ao mesmo tempo, a startup californiana, Finless Foods tenta desenvolver uma cultura de atum rabilho. O atum rabilho é um animal caro e ameaçado de extinção que não pode ser cultivado com a aquicultura. Criando assim, uma necessidade premente para a alternativa.

Mas a empresa não quer apenas entregar uma cópia. Ela quer oferecer novas experiências aos consumidores, como a cultura de células de espécies que os consumidores ocidentais nunca tiveram antes.

Então, a carne baseada em células será a nova tendência?

Em meio a tanta inovação e desafios, ainda não está claro até que ponto a carne baseada em células tem o potencial de agradar aos consumidores. Os requisitos de entrada, segurança do produto e prazo de validade também são uma incógnita.

Mas uma coisa já parece certa, a produção da carne baseada em células produz menos impactos ambientais e ao bem estar animal. Apesar de para muitos não ser ainda o suficiente, tende a ser um grande passo, uma vez que a população que não abre mão do consumo de animais permanece elevada.

À medida que as empresas se esforçam para desenvolver seus produtos “limpos” e buscam caminhos para a comercialização dos mesmos, a carne cultivada se torna uma alternativa viável. Enfim, só o futuro nos dirá se a tendência se consolidará.

Conheça mais sobre a carne do futuro.

Por Nadia Gonçalves em 20 de outubro
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