A demanda por proteína animal (carne vermelha, frango, peixe) continua crescendo em um nível bastante agressivo em todo o mundo, mas em especial nos países em desenvolvimento. Na China, por exemplo, onde vivem quase 1.5 bilhão de pessoas, segundo a OCDE, o consumo per capita de carne bovina cresceu de 3kg por habitante, por ano, em 2005 para mais de 4kg no ano de 2017, um aumento de mais de 30%. E dados muito similares também são observados em países como a Índia, Filipinas, Paquistão e Indonésia, onde outras 2 bilhões de pessoas residem.

Dentre muitas causas para esse crescimento nós podemos destacar dois principais fatores: (1) uma indústria que convenceu os consumidores em todas as partes de que a proteína é o único macro-elemento que realmente importa, e que quanto mais se consome, melhor – não é difícil ver rótulos que mostram, com grande ênfase, a quantidade de proteína presente em determinados alimentos em detrimento dos demais macro-elementos (carboidratos e gorduras); e (2) também pela mudança no padrão de consumo de famílias que, à medida que aumentam seu poder aquisitivo, passam a ingerir mais produtos de origem animal.

Quando levamos em consideração o impacto ambiental que é gerado por essa indústria não é difícil entender que essas tendências não são sustentáveis, e na realidade são bem perigosas. A indústria da proteína animal é a que mais contribui em termos de emissão de gases que geram efeito estufa, é a maior consumidora de grãos no mundo (cerca de 70% de toda a produção vira ração animal), e é também a maior consumidora de água e terra.

É com essa mesma visão que diversas empresas e governos no mundo todo (inclusive as grandes dessa indústria, Tyson e Cargill) estão investindo em alternativas para servir essa crescente demanda, e é aí que Clean Meats aparece como uma alternativa.

O que é Clean Meat?

O termo Clean Meat se refere à carne que é produzida em laboratório a partir de células extraídas de animais, e cultivadas em ambientes que simulam aqueles do corpo animal para crescerem. De forma resumida, estamos falando do exato mesmo produto que carne vermelha, no exemplo do boi, sem qualquer diferença molecular entre os produtos.

A aposta de muitas dessas companhias é a de que, muito em breve, vamos ser capazes de gerar um produto que vai ser idêntico àquele que hoje em dia vemos nas prateleiras, mas que não depende de um animal sendo abatido ou sofrendo para ser produzido. Além disso, não trará consigo os hormônios, antibióticos, pesticidas, e outras toxinas que os produtos de hoje possuem. E, ainda mais impactante, não demanda nem de perto o mesmo consumo de água e terra, diminuindo drasticamente o impacto para o meio ambiente.

Essa tecnologia não é aplicável exclusivamente à indústria da carne, podendo também ser aplicada para crescer couro (para a indústria da moda) e lacticínios (para a indústria do leite) em laboratório, igualmente sem gerar impactos para o meio ambiente, ou para qualquer outro ser vivo. Esses últimos dois exemplos já possuem exemplos que estão à venda comercialmente, como a empresa Modern Meadow, que possui toda uma linha de produtos desenvolvidos em laboratório, sem origem animal.

Visão do Futuro…

No momento essa tecnologia aplicada a alimentos ainda está em fase de testes por conta do custo de produção, mas já estamos muito próximos de um produto viável comercialmente. Em 2013, quando o primeiro hambúrguer de laboratório saiu, o custo individual era de US$330,000; em 2017, no entanto uma das companhias foi capaz de desenvolver um produto similar com um custo de apenas US$1,200 (quase 300x menor!). Nesse ritmo, e com os investimentos que estão sendo feitos na área, provavelmente é só uma questão de tempo até que esse produto chegue nas prateleiras dos supermercados e nos restaurantes.

Nós vivemos em um mundo que está em constante evolução, quebrando paradigmas e convenções em absolutamente todos os setores. As nossas gerações futuras vão ouvir falar com saudosismo sobre a época quando ainda dirigíamos nossos carros, quando as distâncias ainda eram um empecilho, quando dinheiro ainda existia em papel, e quando a internet era paga. Quem sabe também vão ouvir falar com memórias distantes sobre a época em que tínhamos que matar outros seres vivos para comer.

Sobre o autor: Caio Malufe é um profissional de investimentos que atua nos mercados agro e de alimentos há cerca de 10 anos. Junto com sua esposa, Giovana, divulga informações sobre saúde, qualidade de vida, e um estilo de vida Plant-Based no canal de Instagram @MovingWithPlants e também no movingwithplants.com.

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Por Caio Malufe em 11 de fevereiro
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