Em mais um sinal do aumento do interesse do Japão por proteínas alternativas, a Norwegian Mycelium (NoMy), startup norueguesa especializada em reciclagem de micélio, lançou recentemente uma subsidiária em Sapporo, na província de Hokkaido.
A NoMy Japan, criada em janeiro, já firmou parcerias estratégicas com empresas locais para expandir o uso de sua tecnologia de fermentação, que transforma subprodutos agrícolas em alimentos sustentáveis através do micélio. Além disso, a empresa lançou o MycoPrime, um serviço de reciclagem orientado por inteligência artificial que utiliza ciência de dados para impulsionar os esforços de seus parceiros na reciclagem de resíduos.
“Estamos entusiasmados em anunciar a NoMy Japan e apresentar nosso conceito de reciclagem MycoPrime ao mundo”, disse David Andrew Quist, cofundador da NoMy e diretor representante da operação japonesa. “Há uma enorme necessidade e oportunidade de reduzir os riscos no desenvolvimento de soluções de reciclagem sustentáveis e colocá-las em prática.”
NoMy e o combate ao desperdício alimentar no Japão
Fundada por Quist e pela CEO Ingrid Dynna em 2020, a NoMy tem como objetivo usar a fermentação do micélio para criar produtos de baixo impacto ambiental para setores como alimentos, bioplásticos e biocompósitos. Inicialmente focada em alimentos, a startup trabalha com rações para aquicultura e aplicações para consumo humano, convertendo resíduos da indústria alimentícia em proteínas e ingredientes de alto valor.
O micélio, estrutura semelhante a raízes de fungos filamentosos, tem uma longa tradição no Japão. Uma cepa em particular, o Aspergillus oryzae (ou “fungo koji”), é amplamente utilizada em alimentos fermentados tradicionais como miso, mirin e shoyu, além de bebidas alcoólicas como shochu e soju.
O Japão é um dos principais geradores de desperdício de alimentos do mundo – em 2017, o país produziu 6,12 milhões de toneladas de resíduos alimentares. No entanto, com a Lei de Promoção da Redução de Desperdício Alimentar de 2019, o governo japonês estabeleceu a meta de reduzir o desperdício em 50% até 2030, alcançando 4,89 milhões de toneladas, um marco atingido já em 2022, oito anos antes do previsto.
Mesmo assim, o desperdício de alimentos no país ainda é dividido quase igualmente entre domicílios e empresas. Com isso, a NoMy Japan enxerga uma oportunidade ao oferecer o MycoPrime, serviço desenvolvido para ajudar empresas de alimentos e agronegócio a minimizar resíduos, reduzir emissões de carbono e otimizar o uso da água por meio de produção sustentável com produtos à base de fungos.
“O lançamento do MycoPrime e nossas parcerias com empresas japonesas nos dão uma perspectiva de forte crescimento e impacto, e esperamos nos tornar o principal fornecedor de serviços de reciclagem para subprodutos da indústria de alimentos no Japão”, disse Dynna.
Parceria estratégica diferencia a NoMy no mercado
Para marcar seu progresso, a NoMy Japan anunciou uma aliança estratégica com a Nippon Beet Sugar Manufacturing Co. (Nitten), maior produtora de açúcar de beterraba do Japão. “Nosso objetivo é criar uma nova indústria utilizando beterraba, que possui alta capacidade de absorção de dióxido de carbono”, explicou Shu Ishikuri, presidente da Nitten.
“A tecnologia da NoMy, que utiliza subprodutos do processo de fabricação de açúcar para produzir proteína fúngica como recurso alimentar, tem grande potencial para criar alternativas a proteínas animais. Acreditamos que essa tecnologia ajudará a promover a agricultura e a resolver problemas alimentares”, acrescentou Ishikuri.
A NoMy Japan também está realizando um estudo de viabilidade com a cooperativa agrícola Hokuren, baseada em Hokkaido e que possui diversas operações agrícolas. A startup antecipa novas parcerias que serão anunciadas em breve.
Segundo a NoMy, sua entrada no Japão a diferencia de outras empresas de micélio, oferecendo um serviço de reciclagem end-to-end escalável e licenciado, que utiliza seu know-how e propriedade intelectual para desenvolver soluções em escala global.
“Com a tecnologia da NoMy e o MycoPrime, a indústria alimentícia conta agora com um parceiro confiável e completo para transformar resíduos em valor, liderando a transformação do sistema alimentar”, afirmou Quist.
A NoMy também espera aproveitar o mercado crescente de proteínas alternativas no Japão. O think tank Good Food Institute escolheu Tóquio para sediar seu sétimo escritório global, destacando o potencial de financiamento público, o ecossistema de pesquisa avançado e a capacidade do Japão para escalar a fabricação em nível global.
Essas iniciativas vêm à tona em um momento em que pesquisas indicam uma crescente aceitação de carne cultivada entre os consumidores japoneses e projetam que o país precisará obter 45% de seu suprimento de proteínas a partir de fontes alternativas até 2060 para alcançar seus objetivos de descarbonização.
Confira a matéria publicada no Green Queen.
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