Pode-se dizer que a ascensão do movimento vegano dos últimos anos fez com que as pessoas analisassem a comida de outra forma. E não apenas isso, mas a crise ambiental que o planeta enfrenta também foi um fator estimulante. Desta forma, a indústria alimentícia se adapta devido às novas demandas que surgem.

A zootecnia, por sua vez, entra com um papel fundamental nisso, pois busca aprimorar a nutrição, sanidade e bem-estar dos animais domésticos ou considerados domesticáveis; ou seja, os considerados alimento.

Analisando o cenário atual, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com o The Good Food Institute, buscam replicar a carne animal apenas com células em laboratório, sem a necessidade de criá-los em cativeiro.

Disciplina sobre cultivo de carne em laboratório

Pioneira, a UFPR criou e sediou a primeira disciplina no Brasil sobre zootecnia celular no curso de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias. A matéria, intitulada “Introdução à Zootecnia Celular”, teve sua primeira turma com aulas nos dias 28 e 20 de julho, e 11 e 13 de agosto.

Katherine de Matos, consultora de ciência e tecnologia da Universidade, explicou um pouco mais do processo em entrevista ao “Dia Dia Rural” do canal Terra Viva: “Retira-se a célula do animal e eu faço essa multiplicação e crescimento celular em condições controladas. Parece ficção científica, mas já é uma realidade.”

Primeiro, esta célula crescerá de maneira desorganizada, como uma “carne moída”, de acordo com Matos. “Na segunda fase a gente vai precisar conferir a estrutura da carne, como se fosse aquele bife”, comenta. A professora explica como o maior desafio, agora, é construir uma carne na mesma consistência de uma picanha, por exemplo.

Segundo a consultoria de A.T Kearney, até o ano de 2040, 35% do mercado global de carne será abastecido por carne cultivada. Matos diz que a produção desse alimento pode ajudar com a crise da fome mundial, além de ajudar o meio ambiente, a biodiversidade e salvar vidas.

Ciência e mercado

A criação da nova disciplina pode ser um direcionamento para equalizar ciência e mercado no Brasil. A inovação científica atualmente é necessária para que novos produtos sejam criados, atendendo às novas demandas do mercado plant based.

Vale lembrar que a startup californiana Memphis Meats, é uma das pioneiras a desenvolver a carne cultivada em laboratório. Ela planeja sua unidade de produção piloto e já levantou fundos de investidores de alto perfil, incluindo Bill Gates, Richard Branson e Kimbal Musk. Em sua última rodada de investimentos, a Menphis Meats arrecadou US$ 161 milhões em novos investimentos.

O desenvolvimento da carne em laboratório parece ser a corrida espacial da pós-modernidade. É o futuro batendo à porta para que as necessidades alimentares da população global sejam atendidas da maneira mais sustentável possível.

Leia mais sobre as opções de carne de plantas e sua evolução.

Por Ana Reis em 2 de setembro
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